No âmbito da campanha Outubro Rosa, o artigo deste mês foca a interseção entre o cancro da mama e a Psico-oncologia, abordando particularmente o papel da psicoeducação na resposta emocional à doença oncológica.

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de Hospitais Privados.

 

Outubro veste-se de laços cor-de-rosa – quer dizer, lembranças suaves de que o cuidado é um gesto quotidiano. Mas entre os laços e os autocolantes, há segredos que se guardam com zelo: o receio de saber, o peso da palavra “carcinoma”, o silêncio que se cria ao ouvir diagnósticos e ver o corpo mudar. É aí que a Psico‑oncologia se ergue, com quietude e compaixão.

UM GUIA IMPRESCINDÍVEL

Há um documento – o Guia de Recursos para a Pessoa com Doença Oncológica e seus Cuidadores – que surge como um mapa em papel digital. É uma bússola feita de palavras, informações e gestos concretos.

Na sua segunda edição, lançada em meados de 2025, inclui capítulos tão necessários quanto delicados: alimentação e nutrição; cuidados corporais e estética; exercício físico; saúde mental; saúde oral; sexualidade e fertilidade; sono; e cuidados durante os tratamentos. Quase 3.000 downloads na primeira edição confirmam que este guia é verdadeiramente útil – e disponível de forma gratuita, para quem precise de o abrir como quem abre um poema de segurança.

Descarregue aqui

Este guia foi tecido por uma equipa vasta: médicos, investigadores, especialistas, pessoas com doença oncológica, cuidadores, associações. É literatura prática, sustentada pela Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica e pelo Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direção Geral de Saúde.

Mas o que tem isto a ver com o coração que treme quando entra num consultório?

IMPACTO QUE SE PODE SUAVIZAR

Quando o diagnóstico chega, entra-se num território labiríntico de decisões médicas: se haverá cirurgia ou conservação da mama, se a quimioterapia é sistemática ou adjuvante, se a radioterapia entra no programa, se há terapêutica alvo ou hormonal, e ainda o timing de cada intervenção. Saber o porquê de cada escolha – e sentir que podemos dizer “isso faz sentido para mim” – é um pilar emocional essencial.

O guia acima referido oferece visões concretas: como a nutrição pode minimizar o risco de caquexia; como a terapia corporal (ou estética reconstrutiva) pode restaurar uma imagem física ligada à dignidade; como o sono e a fadiga merecem estratégia prática, não apenas “dorme mais”, mas um plano realista de descanso guiado pela Psicologia Clínica.

Há algo central na Psico‑oncologia: o corpo fala, a mente escuta.

Alimentação: pequenas refeições frequentes, gestos de prazer que evitam a perda de peso e a queda no humor.

Exercício físico: caminhar no parque, esticar os braços, mover o corpo – não é só muscular, é um diálogo com a vida que resiste.

Sono: rotinas suaves, desligar ecrãs, tranquilidade antes de a cabeça cair no travesseiro – tudo isso reduz a ansiedade e fortalece os recursos adaptativos.

Saúde mental: nomear a ansiedade, ouvir a angústia, negociar as emoções em consulta – com psicólogos ou grupos de apoio, como os que a Liga promove, é possível sentir-se acompanhada.

CUIDADORES, FAMÍLIAS E QUEM AMA

O guia abraça não só a pessoa com cancro, mas também quem cuida – e isso é essencial. É um reconhecimento de que a doença oncológica é uma colcha feita de realidades vividas por todos no lar.

A sexualidade e fertilidade, por exemplo, são temas que se entrelaçam com intimidade, com gerações que se perguntam: “E agora?”. Falar disto não é tabu, é humanidade iluminada por informação clara.

ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAR O QUE ESTÁ POR VIR

Além de saber, precisamos de sentir que temos meios para enfrentar o que está por vir. Aqui entram ferramentas clínicas e psicológicas, com raízes literárias e empáticas:

Plano de coping: respirar conscientemente, nomear o medo (“isto dói, mas estou aqui”), reorganizar expetativas com pensamentos realistas.

Reestruturação cognitiva: quando a mente diz “isto vai piorar até ao fim”, a Psicologia oferece uma repetição mais dócil: “isto é difícil, mas posso encontrar suporte, posso pedir ajuda, posso resistir”.

Narrativa integradora: reescrever o eu – “sou mais do que esta doença” – construir um tempo futuro que inclui a sobrevivência.

Apoio ocupacional e reconexão à vida laboral: saber os direitos, negociar horários, reconhecer que voltar ao trabalho pode ser um sinal de vitalidade – ou de necessidade de adaptação.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2025 (nº 364)