Embora já conheça muitas das sensações e a maioria das alterações lhe seja familiar, uma nova gravidez é sempre diferente. Deve cuidar-se, como na primeira vez, sem esquecer de que agora estará mais cansada e, sobretudo, mais ocupada.

 

Nenhuma gravidez é como a primeira, dizem as avós e com razão. Nenhuma gravidez é igual à anterior, nem sequer do ponto de vista médico. Na primeira vez, parece que tudo se vive com mais fantasia, dedicação e interesse. Na segunda, conta com a experiência e, para muitas mulheres, é mais fácil. O aparelho reprodutor já experimentou determinadas mudanças que, na maioria dos casos, permitem que a gravidez e o parto sejam mais fáceis. Mas, sobretudo, o que varia são as circunstâncias. Agora, quase não há tempo para observar como a barriga cresce e, na nova escala de valores, a sua gravidez partilha o primeiro lugar com o outro filho.

Embora esteja mais ocupada, não deve deixar de ter todos os cuidados: há que descansar e preparar-se para chegar com todas as forças ao parto.

QUAL É O MELHOR MOMENTO?

Se a primeira gravidez e parto decorreram sem complicações, apenas é preciso esperar que o útero recupere. No mínimo, devem passar cinco meses, mas a maioria dos ginecologistas recomenda um intervalo de entre 12 a 18 meses e a Organização Mundial de Saúde amplia a margem até aos dois anos. O organismo necessita de se restabelecer das alterações sofridas com a gestação.

Porém, o cenário muda se a primeira gravidez foi problemática. As apreciações individualizam-se para que os riscos sejam mínimos. Algo parecido acontece se o primeiro parto foi por cesariana: neste caso, os ginecologistas recomendam esperar, no mínimo, dois anos para voltar a tentar outra gravidez, isto porque as cicatrizes uterinas têm de estar perfeitamente fechadas.

Será como a anterior?

Ninguém pode assegurar que a segunda gravidez decorrerá igualmente bem ou mal. No entanto, existem certas peculiaridades físicas que as distinguem. Por exemplo, a maioria das mulheres sente que, na segunda gestação, a barriga cresce mais depressa e que a gravidez se nota mais cedo. E não se trata apenas de uma sensação: os músculos do útero e da parede abdominal ficaram mais distendidos depois da primeira gravidez e isto faz com que aumentem de volume rapidamente. Para combater essa flacidez, é necessário fazer exercícios abdominais, entre as gestações, até atingir uma boa forma física.

A distensão do abdómen é, também, uma das razões porque é frequente sentir o bebé mais cedo. Na primeira gravidez, os pontapés não se sentiram senão por volta da 18ª ou 20ª semana; na segunda, os movimentos identificam-se a partir da 16ª semana. Também é certo que se reconhecem facilmente graças à experiência anterior.

Repetem-se os problemas?

No primeiro exame médico, além de realizar uma exploração completa, é imprescindível que o obstetra conheça a história da gravidez anterior. Não é certo que os problemas que surgiram na primeira gestação se repitam. Pode acontecer que, na segunda, apareçam novas complicações ou, pelo contrário, que não se repitam as que afetaram a primeira. Tudo depende da gravidade e da origem das perturbações, mas é necessário tê-las em conta, para se prevenir ou tratar atempadamente.

Os problemas de hipertensão, sobretudo se se trata de uma pré-eclampsia, costumam ser mais frequentes na primeira gravidez. Na segunda e sucessivas, há que tê-los presente, embora o mais comum é que seja uma gravidez normal. A diabetes gestacional, no entanto, costuma repetir-se nas gravidezes seguintes. Quanto ao atraso no crescimento uterino, as causas podem ser múltiplas e disso vai depender que haja uma predisposição para sofrer deste problema noutras gravidezes. Por último, há mulheres que apresentam uma tendência para ter partos prematuros, embora, neste caso, também dependa da causa que os provoca. Em contrapartida, muitos especialistas comprovaram que o risco de aborto diminui consideravelmente, quando se trata de uma segunda gestação.

No entanto, não existem problemas específicos associados à segunda gravidez. Cada gravidez é diferente e podem manifestar-se sintomas que, nas gestações anteriores, não tinham surgido. Geralmente, as multíparas costumam ter piores gravidezes, sobretudo se forem mais velhas ou se tiverem a seu cargo várias crianças pequenas. Nesses casos, embora do ponto de vista ginecológico a gestação decorra sem problemas, é necessário estar atento à saúde geral da mãe e ocupar-se do seu estado de espírito e do cansaço.

As náuseas e os vómitos costumam repetir-se: de facto, as estatísticas confirmam que as mães que sofreram estas perturbações durante a primeira gestação costumam sofrê-las, igualmente, na segunda e até com maior intensidade.

Protagonismo partilhado

Dizem que nenhuma gravidez é tão desejada como a primeira e, seguramente, isto é verdade na maioria dos casos. Não há dúvida de que nenhuma é vivida com tanta intensidade. Durante a primeira gestação, tudo é novo; na segunda, muitas das sensações já têm uma referência. O que antes surpreendia ou, inclusive, assustava, agora é familiar e não produz temor.

Talvez por este motivo, parece que a mulher perde protagonismo: não estranhe, portanto, que o seu parceiro não se ocupe tanto de si. Seguramente, você mesma estará muito menos dependente das alterações e até os medos são diferentes. Para as primíparas, a principal obsessão durante os nove meses é o parto. As multíparas preocupam-se, sobretudo, com as reações do filho mais velho.

Com o primeiro, há mais tempo para acariciar a barriga, para lhe falar, para relaxar e pensar como será; com o segundo, a realidade obriga a estar mais atenta à outra criança, que reclama atenção e que não é capaz de perceber porque é que, a partir do sexto mês, não pode estar ao colo da mamã.

Provavelmente, dará menos importância ao enxoval do segundo bebé, pois ele herdará uma grande parte. As suas preocupações irão girar em redor da organização: com quem deixar as crianças, como conciliar o horário de cada um, de que forma planificar as atividades do mais velho, sem que interfiram nas necessidades do bebé, etc, etc.

As multíparas têm mais receio de que surjam malformações fetais e, para isso, influencia o facto de muitas das mulheres decidirem aumentar a família depois dos 38 ou 40 anos. Estes medos repercutem-se no estado geral da grávida, provocando muitas reações psicossomáticas, como contrações antes do tempo, aumento dos enjoos e dos vómitos, cansaço, etc.

Gravidez “a três”

Apesar de tudo, a segunda gravidez é também uma experiência inesquecível. Se conseguir que o irmão mais velho se envolva em todo o processo, os bons momentos estão garantidos. Partilhe os pontapés com o parceiro e com o seu filho; e a sensação da criança falar com o seu irmãozinho, através da barriga, é incomparável. Muitos especialistas deixam toda a família assistir às ecografias, para ouvirem as batidas do coração e vislumbrarem a carinha do bebé.

E não se preocupe por ter de dividir o carinho. O amor multiplica-se e enriquece-se com a nova relação que começa a sentir-se, desde já: o carinho entre os irmãos.

O pai é, afinal, o verdadeiro protagonista quando a mãe espera o segundo filho. Esta já não consegue deitar-se no chão e custa-lhe acordar de noite quando o primogénito se queixa. Este papel corresponde agora ao papá; desta maneira, pouco a pouco, vai-se forjando uma relação muito estreita entre o pai e o primeiro filho, uma cumplicidade que terá de continuar quando o recém-nascido exigir, como é natural, muita atenção da mãe.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2020 (nº 311)