Do envelhecimento ocular à inovação tecnológica que revolucionou a atividade médica e cirúrgica na área da Oftalmologia, eis alguns aspetos que vale pena destacar, ainda que em detrimento de outros igualmente importantes.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Fernando Falcão Reis, Presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

 

Por volta dos 50 anos, concretamente a partir dos 44 anos, a maior parte das pessoas começa a ver mal ao perto. Isto é, surge a presbiopia. A presbiopia consiste na incapacidade de focar as imagens de objetos situados ao perto, tipicamente à distância de leitura. A presbiopia é um fenómeno biológico de caráter universal ou, dito de outra maneira, ninguém se consegue subtrair à presbiopia. Ao contrário do que a maioria das pessoas possa pensar, a presbiopia não resulta do uso excessivo dos olhos. Ler, trabalhar com o computador e outras tarefas do dia a dia que exigem esforço visual são absolutamente irrelevantes no que respeita ao aparecimento da presbiopia. Os iletrados também são presbitas!

VISÃO TAMBÉM ENVELHECE

Há várias doenças oculares cuja prevalência aumenta com a idade. As que colocam mais problemas, por serem as mais frequentes, são as cataratas, o glaucoma e a degenerescência macular da idade. A retinopatia diabética atravessa todas as idades, mas é importante lembrar que, particularmente a retinopatia relacionada com a diabetes tipo 2, é mais prevalente com o avançar da idade.

Assim, a partir dos 42-44 anos, sugere-se que o médico oftalmologista seja consultado com alguma regularidade, para a realização de um exame oftalmológico completo. Antes disso, e caso não haja sintomas oculares graves, a frequência com que se deve ir a estas consultas deve ser de 4 em 4 anos.

Quando falo em sintomas graves, os que não devem ser desvalorizados de todo, falo de alterações da visão, como dupla imagem, dor ocular, olho persistentemente vermelho, alterações das pupilas e das pálpebras.

COMPUTADORES PREJUDICAM A VISÃO?

Muitas vezes, ouvimos que o trabalho continuado em frente ao computador provoca dano aos olhos. Posso afirmar que isso não corresponde à verdade. Não há nenhuma doença ocular cuja origem possa ser atribuída aos computadores. Alerto ainda que o problema da radiação azul emitida pelos ecrãs, muito mediatizado pela indústria dos óculos, é um falso problema. Não há evidência científica de que a luz azul, com este nível de energia, possa provocar lesões oculares.

Sensação de cansaço, olho vermelho e dores de cabeça a que os doentes chamam erradamente vista cansada (vista cansada é, em termos médicos, sinónimo de presbiopia) desaparecem com uma boa noite de descanso.

Há, todavia, algumas regras para reduzir os sintomas associados ao trabalho prolongado com computadores, sintomas oculares e outros, que no conjunto constituem a chamada “síndrome visual dos computadores”.

A primeira regra é colocar o ecrã numa posição inferior ao nível dos olhos. A segunda regra é pestanejar ativamente com frequência e energia. O esforço de atenção faz com que os olhos fiquem desmesuradamente abertos e as pálpebras imóveis, que é exatamente o contrário do desejável para manter a visão nítida e confortável. A terceira regra é fazer pausas, desviando os olhos do PC e olhando para longe. Popularizou-se a regra dos 20-20-20: olhar para mais de 20 pés (6 metros), durante 20 segundos, a cada 20 minutos de trabalho. É uma boa regra!

Leia o artigo completo na edição de maio 2019 (nº 294)