A robótica aplicada à área da na saúde permite elevar a qualidade e segurança da assistência ao paciente, aumentar a eficiência operacional da estrutura hospitalar, proporciona um ambiente mais seguro para pacientes e profissionais de saúde e permite, ao mesmo tempo, reduzir custos.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Carlos Vaz, coordenador da Unidade de Cirurgia Robótica da CUF

 

A palavra robô apareceu pela primeira vez em 1920, pela mão do escritor checo Karel Capek, na sua peça de teatro R.U.R, iniciais de Rosumovi Univerzální Roboti (“Robôs Universais Rossum”), adaptada da palavra checa “robota”, que significa “trabalho forçado” ou “trabalho escravo”.

Um robô não é uma máquina nem, muito menos, um “humanoide”: é um sistema de informação. Pode ter braços, pernas, câmaras (“olhos”) ou vários sensores químicos ou biológicos. No entanto, não tem mais do que três funções primárias – captar informação do meio, “processar” essa informação e realizar uma ação sobre o meio.

Alguns sistemas robóticos interpõem um ser humano (em vez de um computador) entre a entrada da informação e a saída da ação – são os sistemas de telemanipulação (no caso da cirurgia, de telecirurgia), de que são exemplos os sistemas cirúrgicos robóticos atuais, que ainda não têm automatismo nem autonomia.

Benefícios da implementação da robótica na área da saúde

A robótica na saúde permite elevar a qualidade e segurança da assistência ao paciente, aumentar a eficiência operacional da estrutura hospitalar, proporciona um ambiente mais seguro para pacientes e profissionais de saúde e permite, ao mesmo tempo, reduzir custos.

Neste contexto, há um interesse social e político emergente na implementação da robótica nos cuidados de saúde e a tecnologia robótica começou já a substituir aspetos singulares do desempenho humano, incluindo a precisão (por exemplo, robôs cirúrgicos), tarefas logísticas e mecânicas (por exemplo, robôs de serviços) e tarefas cognitivas complexas (por exemplo, robôs de reabilitação física).

Tipos de robôs dirigidos à área da saúde

A cirurgia robótica é, talvez, a aplicação na área da saúde que suscita maior curiosidade e entusiasmo. A ela será dado o devido destaque mais à frente neste artigo.

Entre as aplicações menos mediáticas da robótica na saúde, destacam-se:

  • Robôs de serviços

Os robôs de serviços podem controlar a logística da organização e executar tarefas da rotina hospitalar, aliviando a carga diária dos profissionais de saúde.

Estes robôs controlam os fornecimentos, elaboram e arquivam pedidos de compra, reabastecem os stocks de consumíveis médicos e de medicamentos, limpam, esterilizam e preparam o quarto do paciente, transportam roupas de cama de e para a lavandaria, transportam amostras biológicas do paciente e outro material sensível de e para os laboratórios de exames, entre outras funcionalidades.

Os robôs de limpeza e desinfeção podem usar luz ultravioleta, luz pulsada xénon, vapores de peróxido de hidrogénio ou filtragem de ar para ajudar a reduzir infeções e higienizar áreas sensíveis do hospital, como os quartos dos pacientes, enfermarias e outros locais. Um quarto inteiro pode ser limpo e desinfetado desta forma em 20 minutos. No atual contexto da pandemia covid-19, esta funcionalidade é particularmente relevante, poupando o profissional de saúde a uma tarefa de elevado risco, ao mesmo tempo que a mesma é desempenhada com mais rapidez e eficiência.

  • Robôs de companhia

Interagem diretamente com as pessoas e podem ser úteis em diversas circunstâncias: proporcionam interação social e facilitam a monitorização em ambientes de cuidados de longo prazo; ajudam os pacientes a cumprir os regimes de tratamento; fornecem envolvimento cognitivo; ajudam a orientar visitantes e pacientes dentro do ambiente hospitalar.

  • Robôs de telepresença

Sob controlo remoto do médico ou de outro profissional, estes robôs podem navegar até ao quarto do paciente, ou através de uma enfermaria, e permitir que o médico interaja com os pacientes à distância, proporcionando uma visita virtual durante o internamento, na impossibilidade eventual da presença física.

  • Robôs de terapia de reabilitação física e cognitiva

Podem ajudar na reabilitação depois de certas cirurgias, de um acidente vascular cerebral, em certas paralisias, após lesões traumáticas crânio-encefálicas ou em pacientes com esclerose múltipla.

Estes robôs estão equipados com inteligência artificial e câmaras de profundidade, e usam sensores colocados na pele para detetar pequenos sinais elétricos durante o movimento das articulações. Monitorizam a forma de um paciente enquanto ele realiza os exercícios prescritos, medindo graus de movimento em diferentes posições e avaliando o progresso com mais precisão do que o olho humano. É um dos segmentos que mais cresce na robótica.

  • Próteses robóticas

Também já existem próteses robóticas para pernas e braços com excelente integração e mimetizando cada vez mais os membros originais amputados.

Sistemas cirúrgicos robóticos

Como referimos anteriormente, a cirurgia robótica é a área mais sensível e mais complexa na implementação da robótica na saúde e a que suscita maior entusiasmo. Tem crescido a um ritmo moderado, mas consistente, e lidera hoje o investimento em equipamentos de saúde.

Atualmente, a cirurgia robótica evolui predominantemente em duas frentes:

  • Cirurgias do abdómen, tórax e cabeça e pescoço

Na maioria dos centros com acesso a esta tecnologia, como acontece na nossa instituição, o Hospital CUF Tejo, é já uma rotina a cirurgia robótica do cancro da próstata, cancro do reto, cirurgia da obesidade (bariátrica e metabólica), cirurgia das hérnias da parede abdominal, cirurgia torácica (tumores do pulmão) e cirurgia ginecológica. É crescente o interesse em cirurgia da tiroide e dos tumores da base da língua.

Após a inserção dos instrumentos robóticos por meio de uma pequena incisão (8 mm), o robô posiciona-se sozinho em função da localização da anatomia alvo e acopla-se, criando uma plataforma estável para a realização de cirurgias por controle remoto.

A cirurgia aberta com grandes incisões já foi a norma para a maioria das operações em cavidades fechadas (como o abdómen e o tórax). Os tempos de recuperação eram muito mais longos e o risco de infeção e outras complicações era maior. Trabalhar manualmente através de uma incisão do tamanho de metade de 1 cêntimo é extremamente difícil, mesmo para um cirurgião experiente. Os sistemas cirúrgicos robóticos, como o sistema “da Vinci“, tornam estas operações mais fáceis, seguras e precisas, reduzindo o risco de infeções e outras complicações.

  • Cirurgia ortopédica

Dispositivos como o robô Mako, da Stryker, podem ser programados para ajudar o cirurgião a realizar cirurgias ortopédicas comuns, como próteses do joelho e da anca. Combinando braços robóticos inteligentes, imagens 3D e análise de dados, estes robôs permitem resultados melhores e mais previsíveis.

Grandes vantagens

As vantagens dos atuais sistemas cirúrgicos robóticos são muitas, destacando-se:

  • visão 3D imersiva, de alta definição, estável e controlada pelo cirurgião;
  • instrumentos cirúrgicos mais precisos e articulados, aumentando a destreza;
  • filtração e anulação do tremor natural da mão humana;
  • ergonomia perfeita para o cirurgião, que opera em posição estável e apoiada;
  • integração de outras tecnologias que facilitam a identificação dos tecidos, bem como a avaliação da sua viabilidade e perfusão;
  • sistemas de simulação e ensaio geral para treino dos cirurgiões (que, até agora, treinavam em operações reais);
  • assistência à distância, em tempo real, a operações realizadas por outros cirurgiões (“tele-mentoring”).

Contudo, o verdadeiro potencial ainda está por realizar e os princípios fundamentais subjacentes à robótica ainda não foram explorados.

Leia o artigo completo na edição de abril 2021 (nº 315)