Um número considerável de pessoas optam pela realização de procedimentos estéticos no estrangeiro, atraídas pelos preços mais baixos. Porém, esta decisão comporta riscos importantes, que é necessário conhecer e ter em conta.

Artigo da responsabilidade do Dr. Diogo Andrade Guimarães. Especialista em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética. Hospital São José, Lisboa

 

Existem dois destinos aos quais os residentes de Portugal frequentemente recorrem na demanda por cirurgias estéticas com um preço mais “em conta”: são eles a Turquia e o Brasil.

Esta busca por cirurgias no estrangeiro traz-nos dois grandes problemas. Em primeiro lugar, a ausência de acompanhamento no pós-operatório; e em segundo lugar, a falta de controlo da qualidade cirúrgica.

AUSÊNCIA DE ACOMPANHAMENTO NO PÓS-OPERATÓRIO

Coloco a falta de acompanhamento no pós-operatório em primeiro lugar porque isto é transversal a qualquer clínica quando a pessoa decide ser operada fora de Portugal. Uma cirurgia nunca termina após a última sutura, nem após a primeira semana de pós-operatório, que é quando habitualmente os pacientes regressam a Portugal.

Podem existir complicações precoces, que ocorrem nos primeiros dias, e complicações tardias, que surgem após várias semanas ou meses. As complicações mais frequentes são as deiscências (feridas que cicatrizam mal), hematomas, infeções, tromboses venosas e embolias pulmonares.

A maioria destas complicações ocorre após mais de uma semana. Se a pessoa já estiver longe do seu cirurgião, sentir-se-á abandonada, insegura, sem saber a quem recorrer. A maioria das vezes, optou por ser operada no estrangeiro por ser uma solução mais económica, mas depara-se com a necessidade de comprar novas viagens para ser reavaliada ou reintervencionada pelo mesmo cirurgião, com o risco acrescido de não estar sequer em condições de saúde que permitam realizar a viagem.

A continuação da assistência entre o cirurgião e os seus pacientes dá-se ao longo de vários anos, diria até que, em muitos casos, para sempre. E este é o principal motivo pelo qual não considero uma decisão acertada realizar uma cirurgia a centenas ou milhares de quilómetros de distância. Numa quantidade nada desprezível de casos, surgem complicações cirúrgicas ou necessidade de correções, e importa a proximidade com o cirurgião.

FALTA DE GARANTIAS

Outro problema diz respeito à qualidade cirúrgica e das instalações onde são realizadas as cirurgias. Certamente que existem ótimos cirurgiões brasileiros e turcos. No entanto, enquanto em Portugal temos a Ordem dos Médicos e a Entidade Reguladora da Saúde a desempenharem um papel exemplar na fiscalização dos atos médicos, cirúrgicos e na qualidade dos blocos operatórios, poderemos não ter esta mesma segurança ao realizar as cirurgias no estrangeiro. Em relação à Turquia e ao Brasil, não tenho dados para poder afirmar que exista uma fiscalização tão rigorosa.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2025 (nº 356)