O mal-estar psicológico provocado pelo regresso às rotinas não é um “capricho emocional”, mas sim de uma reação legítima face ao desafio de reintegrar responsabilidades, metas e exigências num corpo e mente que estavam em modo de descanso.
Artigo da responsabilidade da Dra. Helena Paixão. Psicóloga Clínica. Fundadora e Ceo Clínica Helena Paixão – Psicologia, Mindfulness e Desenvolvimento Pessoal. Autora do livro “O Poder do Autocuidado” (Nuvem de Ideias)
As férias representam, para muitas pessoas, um dos momentos mais aguardados do ano. São um tempo privilegiado de pausa, descanso, distanciamento do relógio e da liberdade dos horários. Com as férias, vem um abrandar do ritmo, a redução da pressão e uma maior conexão com o prazer, o lazer e, com frequência, com as pessoas de quem mais gostamos. Porém, à medida que o calendário do regresso à rotina se aproxima, muitos experienciam um fenómeno comum: a ansiedade do pós-férias.
MAL-ESTAR PSICOLÓGICO
Este estado de mal-estar psicológico pode manifestar-se de forma subtil – como irritabilidade, falta de motivação ou cansaço persistente – ou de forma mais evidente, como uma ansiedade mais marcada através de sintomatologia física, dificuldade em dormir ou alterações no apetite.
Não se trata de um “capricho emocional”, mas sim de uma reação legítima – que pode ser mais ou menos adaptativa – face ao desafio de reintegrar responsabilidades, metas e exigências num corpo e mente que estavam em modo de descanso.
POR QUE RAZÃO NOS PODE CUSTAR TANTO VOLTAR?
Durante as férias, o nosso sistema nervoso beneficia de um abrandamento (necessário). A adrenalina e o cortisol – as hormonas associadas ao stress – tendem a baixar, dando lugar à dopamina e à serotonina, ligadas ao prazer, ao bem-estar e ao relaxamento.
Quando regressamos à rotina, esse sistema volta a ser desafiado. Horários rígidos, trânsito, pressão laboral, compromissos sociais e familiares impõem-se novamente, muitas vezes de forma abrupta. Esta transição repentina pode gerar desconforto emocional, o qual, se não for acolhido e (bem) gerido, pode instalar-se e afetar a nossa saúde mental, o desempenho e a qualidade das relações.
O retorno ao trabalho ou à escola pode também trazer a perceção de que as pausas são escassas ou que o quotidiano é excessivamente exigente. Quando a mente compara a liberdade das férias com a rigidez da rotina, é natural que possa surgir alguma resistência. A boa notícia? Podemos suavizar este impacto.
A IMPORTÂNCIA DE ACEITAR E ACOLHER
Antes de qualquer estratégia, importa que possamos validar, com autocompaixão, o que estamos a sentir. Nem todas as pessoas vivem o pós-férias da mesma forma, mas muitas sentem dificuldade em ajustar-se. Aceitar que é natural levar algum tempo a “entrar no ritmo” ajuda a reduzir a pressão e a exigência interna. Retomar a rotina não tem de ser sinónimo de regressar automaticamente à máxima produtividade. Dar tempo ao corpo e à mente é um primeiro passo para a autorregulação emocional.
MINDFULNESS: VOLTAR COM CONSCIÊNCIA
Esta é uma das abordagens mais eficazes para lidar com o stress e/ou ansiedade do regresso: a prática de estar plenamente presente no momento, com aceitação e sem julgamento. Através da atenção plena, é possível cultivar uma relação mais saudável com os pensamentos, emoções e sensações que surgem no pós-férias.
Destaco alguns benefícios do mindfulness nesta fase:
- Ficamos mais conscientes dos sinais de stress e ansiedade;
- Melhora a qualidade do sono e da concentração;
- Temos mais capacidade de agir (em vez de reagir) perante as exigências do dia a dia;
- Desenvolvemos uma atitude de autogentileza.
Algumas formas de o fazer consistem em introduzir micro pausas conscientes na rotina, como conectar-se com a respiração ao acordar, ativar os sentidos ao fazer uma refeição, ter momentos de silêncio ao longo do dia ou exercitar a gratidão antes de dormir.
Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)
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