O cancro do pulmão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o cancro com maior número de novos casos em todo o mundo e responsável, também, pelo maior número de mortes. Em Portugal, estima-se que seja a segunda causa de morte por cancro. A sua incidência tem vindo a aumentar progressivamente tanto em homens como em mulheres, em não fumadores e em indivíduos cada vez mais jovens.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Clemente Duarte. Pneumologista no Hospital CUF Santarém

 

O tabaco: o grande inimigo

O tabaco continua a ser o principal fator de risco para o cancro do pulmão. O tabaco contém substâncias que danificam as células saudáveis do pulmão levando à formação de células cancerígenas.

O surgimento de novas formas de tabaco, como o cigarro eletrónico, como forma de terapia para parar de fumar ou para redução de risco de cancro não é recomendado uma vez que, também, estas formas de tabagismo possuem nicotina e outras substâncias potencialmente tóxicas.

O tabaco não está apenas relacionado com o cancro do pulmão, mas também com outros cancros como o do esófago, laringe, estômago, pâncreas, rim, entre outros.

Estudos mostram igualmente que a exposição passiva ao fumo do tabaco de fumadores também contribui para o cancro do pulmão, assim pessoas não fumadoras que estão expostas ao fumo do cigarro, de charutos, de cachimbos ou às novas formas de tabaco também correm o risco de desenvolver cancro.

É fundamental que os fumadores recorram a Consultas de Cessação Tabágica, pois é a melhor forma de prevenir este cancro em si e nas pessoas (familiares, colegas de trabalho, amigos) com quem convivem.

Outros fatores de risco a ter em conta é a poluição ambiental, a exposição a partículas inaladas como o radão ou o amianto e a existência de doenças respiratórias prévias como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), o enfisema pulmonar ou a fibrose pulmonar que aumentam a probabilidade de surgir um tumor maligno do pulmão.

Desconhece-se ainda o impacto no futuro das sequelas pulmonares provocadas pelo COVID19 no risco direto do cancro do pulmão. Algumas pessoas podem desenvolver cancro do pulmão e não terem fatores de risco conhecidos.

 

Sinais de alerta – Esta informação também importa para os não fumadores

As queixas relacionadas com o cancro do pulmão dependem da evolução da doença. Numa fase inicial do cancro do pulmão pode não existir sintomas ou surgirem sintomas que se confundem com outras doenças respiratórias.

Sendo o cancro do pulmão uma doença que afeta fumadores e não fumadores é fulcral estarmos atentos a sinais de alerta como:

– Infeções respiratórias frequentes;

– Mudança do padrão habitual da sua tosse ou tosse persistente;

– Dor ou desconforto no peito;

– Tosse com sangue;

– Sentir-se mais cansado ou sem energia;

– Sentir falta de ar;

– Mudança do padrão habitual da sua expectoração ou expectoração com sangue;

– Alterações na voz ou rouquidão;

– Perda de apetite ou perda de peso;

Quando a doença se dissemina pode dar origem a sintomas mais gerais, como:

– Fraqueza muscular;

– Falta de energia/ fadiga/ cansaço fácil;

– Inchaço do pescoço e/ou rosto;

– Dores musculares/ósseas ou dores de cabeça.

 

A grande dificuldade: o diagnóstico precoce 

A grande dificuldade no diagnóstico do cancro do pulmão é o atraso na procura por ajuda médica, que se agravou nesta pandemia!

O atraso no diagnóstico em fumadores deve-se à interpretação das suas queixas como manifestações do tabaco ou de doenças respiratórias já existentes como a DPOC, ainda vulgarmente conhecida por “bronquite crónica” e em não fumadores persistir ainda a ideia errada que o cancro do pulmão só acontece aos fumadores não dando por isso relevo ao agravamento de sintomas respiratórios já existentes ou que surjam de novo.

Para evitar este atraso no diagnóstico e com a pandemia COVID19 é importante que todas as pessoas procurem um médico/pneumologista. Atualmente qualquer unidade de saúde/hospital apresenta já protocolos de segurança e circuitos diferentes de circulação no sentido de evitar e minimizar qualquer risco de contágio permitindo a realização, em segurança e com confiança, de uma consulta médica ou de exames complementares para um diagnóstico rápido de cancro do pulmão.

É importante que todas as pessoas, familiares, amigos, vizinhos ou conhecidos fumadores ou não fumadores façam um check-up respiratório anual

Quanto mais rápido se obtiver a confirmação de cancro do pulmão e a sua extensão mais depressa se iniciará o tratamento e maior será a probabilidade de cura.

 

A importância do rastreio do cancro do pulmão

A implementação de programas de rastreio permite a deteção precoce de cancro do pulmão e de outras doenças respiratórias, contudo em Portugal ainda não está em vigor junto da população.

Estudos demonstraram já que o rastreio precoce do cancro do pulmão permite diminuir a mortalidade: o National Lung Screening Trial, o Dutch Nelson e o Lung cancer screening forneceram forte evidência científica que a realização de tomografia computorizada de baixa dose efetuada anualmente, contribui para a deteção precoce e para a probabilidade de redução de 20% das mortes por cancro do pulmão e consequentemente a possibilidade de tratamentos eficazes em estadios mais iniciais, e desta forma com maior probabilidade de cura.

 

Quem deve fazer o rastreio?

É importante que grandes fumadores com mais de 50 anos, ex-fumadores há menos de 15 anos, pessoas com história de cancro do pulmão ou outro tumor maligno prévio ou com outras doenças respiratórias de risco como a silicose, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), fibrose pulmonar, exposição ao amianto/radão e com história de infeção respiratória grave por COVID19 façam o rastreio junto do seu médico assistente/pneumologista.

Mais vale prevenir que remediar

Nesta luta contra o cancro do pulmão a melhor prevenção e tratamento é não fumar ou deixar de o fazer o quanto antes. Parar de fumar não só diminui o risco de desenvolver cancro como diminui o risco de voltar a aparecer (recorrência).