Os primeiros anos de vida de uma criança são de extrema importância. A primeira infância é a base que irá moldar a sua saúde física e mental, influenciar o seu desempenho escolar e a forma como em adulto irá construir a sua vida.

Artigo da responsabilidade da Dra. Marisa Marques. Psicóloga Clínica e da Saúde Trofa Saúde Hospital de Barcelos e Trofa Saúde Hospital de Braga Norte.

 

A primeira infância corresponde ao período desde o nascimento até aos 3 anos de idade e é a fase de formação da arquitetura cerebral. É o momento em que o cérebro do bebé se desenvolve a uma velocidade vertiginosa, nunca mais repetida: mais de 1 milhão de novas ligações neurais a cada segundo.

Por esta razão, as experiências vividas pelo bebé neste período têm um impacto enormíssimo e duradouro no seu desenvolvimento, podendo formar uma base cerebral forte ou frágil para o seu crescimento, que irá interferir com os processos de aprendizagem, comportamento e saúde, ao longo da sua vida.

PLASTICIDADE CEREBRAL

Não só os fatores genéticos definem o caminho do desenvolvimento do bebé: as experiências vivenciadas na primeira infância provocam alterações em alguns traços herdados geneticamente.

Apesar de a capacidade de modulação cerebral (plasticidade cerebral) se manter ao longo do tempo, sabemos que as grandes modulações cerebrais acontecem na primeira infância e permanecem pela vida toda, uma vez que essa plasticidade vai decaindo ano após ano.

Assim, nos primeiros anos de vida, as experiências e as relações da criança com os cuidadores estimulam extraordinariamente o seu desenvolvimento, pelo que experiências positivas influenciam na formação de uma arquitetura cerebral que deixa a criança mais apta para superar dificuldades. Consequentemente, prepara a criança para ter maior sucesso nos processos de aprendizagem, desenvolvendo mais capacidades ao longo da vida, para ser mais saudável, mais madura emocionalmente, mais estruturada e mais feliz, entre outras aspetos benéficos para a sua autoestima.

SABER O QUE ESPERAR

O cérebro da criança é bastante flexível e a primeira infância constitui uma grande janela de oportunidades para potenciar e fazer toda a diferença no seu desenvolvimento pleno, quer seja físico, cognitivo ou socioemocional. Quanto mais cedo investirmos na vida das nossas crianças, melhores adultos teremos no futuro. O ambiente, o estilo de vida e as crenças familiares ajudarão a definir as trajetórias dos mais pequeninos para o resto das suas vidas.

Além da nutrição e dos cuidados de saúde primários, os bebés e as crianças devem crescer, aprender e desenvolver-se num “ninho” de amor, carinho, atenção e responsividade às suas necessidades e estímulos mentais. Sabermos compreender os estágios de desenvolvimento infantil e o desenvolvimento cerebral de cada bebé permite-nos desmontar algumas ideias pré-concebidas, saber o que esperar e como estimular o bebé ao longo do seu crescimento.

PERCEBER O QUE SE PASSA CONNOSCO

As necessidades dos bebés e das crianças vão-se modificando de ano para ano, a nível da autonomia, do sono, das birras, do comportamento alimentar, entre outros.

Mas não chega compreender o que se passa com as crianças: é também importantíssimo perceber o que se passa connosco, os adultos, que tanto impactamos toda a vida da criança.

Portanto, sublinho a importância da perceção das nossas reações e do nosso estado psicológico e emocional, que serão determinantes na forma como reagimos quando ficamos alterados, com raiva ou angustiados, e que, por seu turno, serão transmitidos aos mais pequenos.

VÍNCULO PRECOCE

A relação do bebé com os adultos, nomeadamente os pais, começa mesmo antes do nascimento. E é este vínculo que será estabelecido entre os pais e o recém-nascido que determinará vários fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Evidentemente, se esse vínculo não for devidamente estabelecido, o desenvolvimento do bebé não irá decorrer à mesma velocidade, na mesma direção ou com o ritmo que seria esperado em condições normais, ou seja, os processos de desenvolvimento integral serão afetados.

As relações de afeto, positivas e calmas, entre um adulto e uma criança nos primeiros anos de vida, são vitais para promover o desenvolvimento cerebral, a saúde mental e o bem-estar do pequeno, nesse momento e ao longo da sua vida.

É importante relembrar que todas as crianças têm direito a condições de vida adequadas ao respetivo desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social. Cabe aos pais a responsabilidade primordial de lhe assegurar essas condições.

Leia o artigo completo na edição de junho 2024 (nº 350)