Se há uns consideráveis anos, quando imperava o Modelo Biomédico, havia uma desresponsabilização do indivíduo face à sua situação clínica, acreditando-se que as causas da doença eram maioritariamente externas; hoje, o racional é precisamente o contrário. Numa perspetiva mais holística, inserida no Modelo Biopsicossocial, percebe-se que a doença é resultado de uma combinação de fatores, sobretudo comportamentais, e que o indivíduo é responsável pelo seu estado de saúde e pelas suas doenças.

Artigo da responsabilidade da Dra. Mafalda Leitão. Professora Auxiliar, Universidade Europeia

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2021, sete das 10 principais causas de morte foram doenças não transmissíveis (representando 68% do total de mortes no “Top 10”), que se podem integrar em dois grandes grupos: cardiovasculares (por ex., acidente vascular cerebral [AVC]) e respiratórias (por ex., doença pulmonar obstrutiva crónica). Em Portugal, dados do Instituto Nacional de Estatística explanam que os AVC foram a principal causa de morte em 2019.

E no mês em que se assinala o Dia Mundial do AVC (29 de outubro), importa falar da patologia em si, das causas e consequências, mas sobretudo daquilo que podemos fazer como forma de prevenção.

Apesar da componente genética ter um peso considerável no desenvolvimento deste tipo de condições crónicas, o comportamento parece ser ainda mais relevante. Segundo a Rede para a Excelência na Inovação em Saúde, os “motores” da saúde (que conduzem a uma saúde com mais qualidade) são multifatoriais, sendo que o código genético representa 20%, a localização geográfica 22%, os cuidados de acesso à saúde 6%, o comportamento 37% e, por fim, uma interação entre os fatores acima mencionados representa 15%.

Percebemos então que o comportamento, ou seja, as ações que nós fazemos no nosso dia a dia, tem um peso notável, quer no desenvolvimento de doenças, quer na prevenção das mesmas. E aquilo que temos de realçar é que os comportamentos são modificáveis; depende apenas de nós não fumar ou fumar, fazer exercício físico ou ficar deitado no sofá, comer uma refeição rica em nutrientes ou comer fast-food, aplicarmos estratégias de gestão de stress ou submergir no stress do trabalho ou da rotina diária.

Mas existem determinadas barreiras que, na maioria das vezes, não nos permitem mudar o nosso comportamento e sermos “mais saudáveis”. A desconstrução dessas barreiras pode ser o primeiro passo para a mudança comportamental, associada a uma intenção para essa mesma mudança. Mas como é que, na prática, isto se faz? Trabalhando mecanismos psicológicos de adesão (“porquê mudar o comportamento?”), ação (“o que vou fazer para mudar o comportamento?”) e manutenção (“como manterei este novo comportamento?”), numa perspetiva de interação entre emoção, razão e fatores contextuais.

Todas as lagartas passam por um processo de mudança e, um dia, transformam-se em borboletas… Nós conseguimos ter ainda outra vantagem: a escolha! Podemos transformarmo-nos em borboletas ou ser uma lagarta para sempre. O que é certo, é que o mundo deve ser bem mais bonito visto “de cima”, enquanto “voamos”.