Três estudos científicos confirmaram que, à medida que a dependência de redes sociais se intensifica, a probabilidade de problemas sexuais aumenta. Porquê? O que fazer?
Artigo da responsabilidade do Prof. Rui Miguel Costa. William James Center for Research, ISPA – Instituto Universitário
Para muitos a utilização de sites de redes sociais tornou-se uma atividade compulsiva, consumindo grande quantidade de tempo, podendo assim perturbar várias atividades do dia a dia, responsabilidades e a própria vida social. Esta compulsividade surge em conjunto com ansiedade e irritação, quando o acesso às redes sociais não é possível.
Quando este padrão de comportamento se instala, fala-se em dependência das redes sociais. Uso problemático ou adição às redes sociais são outros termos empregues, pois há semelhanças com outros tipos de adições, havendo mesmo semelhanças no funcionamento cerebral de pessoas com elevada dependência de redes sociais e pessoas com adições a substâncias psicoativas.
DIVERSOS GRAUS DE INTENSIDADE
A dependência das redes sociais varia ao longo de diversos graus de intensidade; algumas pessoas têm uma dependência maior, outras menor, sendo que, nos dias de hoje, um certo grau de dependência até é visto como normal.
Nos últimos anos, a investigação científica tem vindo a revelar que o uso de redes sociais pode causar ansiedade, depressão, stress e insatisfação com a vida, sendo que estes efeitos são tanto mais prováveis quanto maior o grau de dependência.
Neste contexto, uma questão pertinente é se as redes sociais podem causar problemas sexuais. Parece haver algum tabu em colocar esta questão, uma vez que, tanto quanto saibamos, apenas três estudos científicos procuraram uma resposta, mas todos os três confirmaram que, à medida que a dependência de redes sociais se intensifica, a probabilidade de problemas sexuais aumenta.
ESTUDO PORTUGUÊS
Um destes estudos foi realizado em Portugal e publicado em 2022 por uma equipa do William James Center for Research no Ispa – Instituto Universitário (equipa esta dirigida por mim). Este estudo contou com a participação de 1486 voluntários, maioritariamente jovens heterossexuais entre os 18 e os 30 anos.
Relativamente aos homens, constatou-se que à medida que a dependência das redes sociais se torna maior, aumenta a probabilidade de disfunção erétil ou insatisfação sexual. Relativamente às mulheres, à medida que a dependência das redes sociais se torna maior, aumenta a probabilidade de dificuldades na excitação, dificuldades em ter orgasmo, dor nas relações sexuais ou insatisfação sexual.
Curiosamente, o desejo sexual, em particular, parece ser menos afetado do que outros aspetos da função sexual, o que indica que muitos dos problemas ligados à utilização de redes sociais não parecem resultar de perda da motivação para ter relações sexuais.
Também é de notar que maior dependência de redes sociais traz maior risco de problemas sexuais, mesmo quando a dependência varia dentro de níveis considerados normais, sendo que, quando o grau de dependência se torna disruptivo e fora do normal, o risco de dificuldades sexuais ainda se torna maior.
Os resultados do estudo português vão ao encontro de outros dois estudos, um realizado no Irão e outro na Polónia, os quais confirmam que os problemas sexuais associados às redes sociais são um fenómeno transcultural.
E PORQUÊ?
Mas por que razão as redes socias podem levar a problemas sexuais? Uma possível resposta é que, numa relação amorosa, quando um dá menos atenção ao outro por causa do seu uso compulsivo das redes sociais, cria-se entre ambos um afastamento emocional que prejudica o funcionamento sexual.
É igualmente possível que os problemas sexuais sejam resultado do stress, ansiedade e depressão que, muitas, vezes as redes sociais causam, e isto até pode ocorrer independentemente do afeto que se vivencia na relação amorosa. Também não se pode excluir que, em alguns casos, problemas sexuais pré-existentes possam criar maior vulnerabilidade à dependência das redes socais.
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