O pâncreas é um órgão do sistema digestivo muitas vezes esquecido, mas que tem um papel muito importante no nosso corpo: ele produz enzimas, que ajudam a digerir os alimentos, e hormonas, como a insulina.

Quando o pâncreas sofre inflamação falamos de pancreatite, podendo ser aguda, de início súbito, ou crónica, que se desenvolve e mantém ao longo do tempo, causando danos progressivos e permanentes.

Artigo da responsabilidade da Dra. Isabel Caetano. Unidade Local de Saúde da Região de Leiria;  e Dra. Alexandra Fernandes. Unidade Local de Saúde da Região de Leiria

 

PANCREATITE AGUDA: PATOLOGIA COMUM E POTENCIALMENTE GRAVE

A pancreatite aguda é uma das doenças mais comuns do sistema digestivo, manifestando-se tipicamente por uma dor intensa e constante na região superior do abdómen. É motivo frequente de hospitalização e os casos podem variar entre ligeiros e graves, com risco de morte.

As principais causas incluem “pedras na vesícula” – cálculos biliares – (40-70%) e o consumo excessivo de álcool (25-35%). Outras causas menos comuns incluem níveis muito elevados de triglicéridos no sangue, determinados medicamentos e tumores.

Na maioria das pessoas, os sintomas duram apenas alguns dias. No entanto, aproximadamente 1 em cada 5 doentes sofre complicações, nomeadamente descompensação de doenças previamente existentes, falência de outros órgãos – como, por exemplo, insuficiência respiratória, renal e cardiovascular –, necrose do pâncreas – isto é, a morte do tecido pancreático – e infeções, o que pode exigir hospitalização prolongada, internamento em cuidados intensivos e intervenção endoscópica, radiológica e/ou cirúrgica.

TRATAMENTO PRECOCE FAZ TODA A DIFERENÇA

O tratamento precoce é essencial e faz toda a diferença. Geralmente, este passa pelo internamento, com hidratação através de soro na veia, medicamentos para aliviar a dor e o posterior tratamento da causa do problema – por exemplo, cirurgia ou endoscopia para remover cálculos.

Cerca de 20 a 30% dos doentes voltam a ter um novo episódio de pancreatite aguda, o que é mais frequente nos homens, nos fumadores e nos doentes cujo problema está relacionado com o álcool. É muito importante tratar as causas da doença, de forma a evitar tanto as recorrências como o desenvolvimento de pancreatite crónica.

PANCREATITE CRÓNICA: PATOLOGIA INSIDIOSA

A pancreatite crónica, por sua vez, é uma inflamação persistente que vai destruindo o pâncreas de forma lenta e, muitas vezes, irreversível. Ela é mais frequentemente causada por tóxicos, nomeadamente o álcool e o tabaco, havendo um aumento exponencial do risco quando há consumo simultâneo destas substâncias. Também pode estar relacionada com alterações genéticas, doenças autoimunes ou pancreatites agudas de repetição.

A manifestação mais frequente é a dor abdominal – que pode irradiar para a região dorsal –, contínua ou recorrente, muitas vezes acompanhada por outros sintomas relacionados com a perda de funções do pâncreas, como diarreia e emagrecimento, devido à falta de enzimas produzidas pelo pâncreas.

Com o tempo, pode surgir diabetes, dado que as células que produzem insulina também são destruídas. Outra complicação é o aumento do risco de cancro do pâncreas, particularmente se houver manutenção de hábitos alcoólicos e tabágicos.

Embora não exista cura para a pancreatite crónica, o tratamento permite melhorar a qualidade de vida ao controlar os sintomas e ao reduzir a progressão da doença. As medidas principais incluem suspensão do consumo de álcool e tabaco, tomar medicamentos para as dores e para substituir as funções pancreáticas que ficam comprometidas – enzimas pancreáticas e/ou insulina. Em alguns casos, pode ser necessária intervenção por endoscopia e/ou cirurgia nos casos de dor não controlada, obstrução das vias biliares, do canal pancreático ou do duodeno.

EM RESUMO

Tanto a pancreatite aguda como a crónica são doenças sérias. A forma aguda é geralmente reversível com tratamento adequado, enquanto a crónica causa danos permanentes que exigem acompanhamento médico para toda a vida.

Cuidar da sua saúde hoje é a melhor forma de proteger o seu pâncreas e garantir um futuro sem complicações graves.

Prevenção: o melhor remédio

A prevenção da pancreatite passa por adotar um estilo de vida saudável. As medidas mais eficazes são:

  • Evitar o consumo excessivo de álcool;
  • Não fumar;
  • Manter uma alimentação equilibrada, pobre em gorduras saturadas, carnes vermelhas, açúcares e alimentos processados;
  • Controlar o peso, o colesterol e os triglicéridos.
  • Estas ações simples reduzem significativamente o risco de desenvolver esta doença.

Saiba mais sobre saúde digestiva na Edição Especial SAÚDE E BEM-ESTAR – Conselhos Médicos nº43 – SAÚDE DIGESTIVA, integralmente redigida com o apoio científico da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia