A Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) voltou a dar palco a um dos mais referenciados eventos portugueses dedicados ao empreendedorismo, qualificação e emprego: a Feira do Empreendedor, que se realizou na Casa da Arquitectura, em Matosinhos.
A Saúde tem sofrido uma pressão sem precedentes, muito por causa da falta de equilíbrio entre o aumento da procura e o decréscimo da capacidade, muito acentuado com a COVID-19. O setor, que à semelhança de outros, já vinha a ser impactado por uma crescente tendência de digitalização, encontrou na pandemia um acelerador. Quebraram-se barreiras na regulamentação e abriu-se a porta para um futuro que será, essencialmente, cada vez mais preventivo e personalizado.
Mas afinal o que esperar da tecnologia quando o assunto é a saúde? Foi a esta questão que os oradores presentes na Feira do Empreendedor quiseram responder e a resposta parece ser cada vez mais clara: os cuidados de saúde tal como os conhecemos vão deixar de existir, graças a uma relação cada vez mais estreita entre ciência, saúde e tecnologia.
“A transformação digital não nos altera o negócio, permite-me é olhar de forma diferente o negócio. Quem pensa que é por digitalizar a sua empresa que vai passar a ter lucro, ou que vai passar a tratar melhor os clientes que lá vão, está completamente enganado”, explica Pedro Aguiar, CEO da AH Business, acrescentando: “Isto há uns anos era impensável, mas hoje sou eu quem decide o que faço com a minha saúde”.
“Sabemos que atualmente um dos principais polos de investimento é a longevidade e até há quem procure a eternidade. Mas as crianças de hoje podem ou não viver até aos 140 anos? Temos a tecnologia a favor, mas temos a saúde mental contra. Portanto, é perfeitamente possível, desde que saibamos tratar da nossa cabeça”, salienta ainda.
O tema da saúde mental ganha importância pelo impacto que tem em todas as empresas. “Temos 450 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial, a ter problemas de saúde mental. Isto interfere com as pessoas e com as organizações”, enumera, acrescentando que os altos níveis de stress estão cada vez mais evidenciados especialmente na área da saúde e este tem sido um dos maiores desafios pós-pandemia. Ganha, por isso, importância a possibilidade de os profissionais de saúde ficarem libertos de tarefas que podem ser feitas através da tecnologia, passando assim a ter mais tempo para outras funções e para conquistar o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal e familiar. Pedro Aguiar não deixa margem para dúvidas quanto à eficácia desta mudança: “A maioria do tempo destes profissionais é passada com papelada.”
Para o CEO da AH Business, “quanto mais clássico for o modelo, mais difícil. O crescimento da rentabilidade vai ser a medicina virtual”.
Também Filipa Machado Vaz, manager na Deloitte, corrobora esta visão sobre o que se passa e se passará na saúde. É importante pensar que o paciente passa na verdade a ser consumidor. “Temos um doente que decide sobre a sua saúde em vez de deixar na mão do médico”, sublinha.
“Temos acesso a dados pessoais e conseguimos informação em tempo real e isto é crucial. Temos vários projetos a acontecer em saúde em Portugal e alguns permitem a monitorização diária, em real time, dos doentes e assim têm avisos. Todos esses dados já integram o processo clínico e o doente, quando chega ao hospital já tem a equipa toda pronta para o receber”, exemplifica.
Aumentar a eficiência e a qualidade nos serviços de saúde é a grande promessa e, acima de tudo, o que fará toda a diferença. Como explica Luís Rosado, Senior Researcher na Fraunhofer, “a tecnologia pode ter um papel crucial num ecossistema de saúde descentralizada, em temas como apoiar os médicos na sua tomada de decisão ou melhor o acesso dos doentes a rastreios e diagnósticos precoces. Na Fraunhofer, temos estado a trabalhar nesta direção e temos no nosso portfólio tecnologias que se baseiam no conceito de desenvolver soluções portáteis e acessíveis”. Falamos de tecnologias que permitem “expandir a acessibilidade e a cobertura quer de rastreio, quer de diagnóstico, para patologias específicas”.
“Temos clínicos e pacientes a interagir à distância e utilizamos estas tecnologias como forma de os conectar, de introduzir alguma inteligência e de garantir que temos sistemas de saúde que sejam eficientes”, acrescenta Francisco Nunes, também Senior Researcher na Fraunhofer.
De acordo com Luís Rosado, podemos todos contar com um objetivo muito claro: Conquistar cada vez mais “uma perspetiva holística do que a tecnologia pode fazer, garantindo que ela se enquadra em processos existentes, com boas práticas, e que dessa forma permite que tenhamos os cuidados de saúde que merecemos”.
Recorde-se que existem exemplos vários do que se tem vindo a conquistar na área da saúde. No caso dos diabéticos, por exemplo, podem esperar por um chip subcutâneo para que o diabético não tenha de se ‘picar’ todos os dias: “A saúde vai ser cada vez mais um produto desta evolução entre o médico e os engenheiros.”
Sobre a Feira do Empreendedor
Com o objetivo de reforçar competências; dar novas e melhores oportunidades aos empresários; ajudar a criar um negócio ou até a escalar uma empresa, o enfoque da 23.ª edição da Feira do Empreendedor foi a transformação digital.
“A digitalização é um dos grandes desafios do tecido empresarial português, conhecidas que são as lacunas das nossas empresas na aplicação de tecnologias e na alocação de competências digitais”, começa por explicar o presidente da ANJE, Alexandre Meireles, acrescentando: “A transição digital é uma oportunidade para as empresas aumentarem a sua eficiência interna, analisarem dados com maior qualidade, melhorarem a sua relação com os clientes e entrarem em novos mercados. Trata-se, por isso, de um fator crítico para o reforço da produtividade e da competitividade das empresas.”
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