A cirurgia cardíaca minimamente invasiva oferece uma alternativa à cirurgia cardíaca tradicional, com benefícios significativos para os doentes, em termos de recuperação e qualidade de vida

Artigo da responsabilidade do Dr. Luís Baquero. Coordenador de Cirurgia Cardíaca no Hospital CUF Tejo

 

Nos últimos anos, a área da cirurgia cardíaca foi alvo de uma evolução significativa, com o desenvolvimento de novas técnicas, cada vez menos invasivas e mais precisas. Entre estas, a abordagem minimamente invasiva por via axilar, feita através de uma pequena incisão na axila direita, representa um importante avanço no tratamento de diversas patologias cardíacas, oferecendo um conjunto de benefícios notáveis, em comparação com a cirurgia cardíaca convencional.

Esta técnica inovadora permite aos cirurgiões aceder ao coração com precisão e eficácia, minimizando o trauma cirúrgico e promovendo uma recuperação mais rápida, confortável e segura para o doente. Pode ser utilizada para tratar uma variedade de patologias, incluindo doenças das válvulas cardíacas, que exijam a reparação ou substituição das válvulas mitral, tricúspide ou aórtica. Nos centros mais diferenciados, com equipas altamente experientes no tratamento de doenças cardíacas, hoje em dia, já é possível tratar duas ou, até, as três válvulas em simultâneo, através desta abordagem.

Esta técnica também é uma opção no tratamento de doenças coronárias, alguns tipos de arritmias cardíacas, doenças congénitas do coração e tumores cardíacos.

MENOS COMPLICAÇÕES

A cirurgia cardíaca minimamente invasiva oferece uma alternativa à cirurgia cardíaca tradicional, com benefícios significativos para os doentes, em termos de recuperação e qualidade de vida. As incisões de tamanho reduzido resultam em menos dor no período pós-operatório, menor perda de sangue e menor risco de infeções, pelo que os doentes tendem a recuperar mais rapidamente, com menor tempo de internamento hospitalar e um retorno mais célere a casa e às suas atividades diárias. As cicatrizes também são menos visíveis, melhorando o resultado estético para o doente.

Além disso, a maior precisão da técnica minimamente invasiva permite um controlo mais eficaz dos vasos sanguíneos, diminuindo o risco de hemorragias, e uma menor agressão à caixa torácica, preservando a capacidade dos pulmões e reduzindo o risco de complicações pulmonares, como pneumonia e atelectasia. A estes benefícios, junta-se a menor manipulação do tecido cardíaco, que reduz o risco de arritmias pós-operatórias.

RECUPERAÇÃO MAIS RÁPIDA

Depois da cirurgia, a recuperação mais rápida permite que os doentes regressem às suas atividades diárias mais cedo, melhorando a sua qualidade de vida. Estima-se que, em média, um doente operado ao coração com recurso a uma abordagem minimamente invasiva, através da axila, retoma as suas atividades normais num prazo de duas a três semanas, menos um a dois meses do que o estimado para a cirurgia convencional. Isto, a par do melhor resultado estético, contribui para um menor impacto psicológico no doente.

A cirurgia cardíaca minimamente invasiva por via axilar é uma abordagem em constante evolução, com o desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas cirúrgicas que permitem melhorar, ainda mais, os resultados, para os doentes. Vários estudos demonstram que os resultados clínicos que esta opção terapêutica oferece são equivalentes à cirurgia cardíaca tradicional.

CIRURGIA HÍBRIDA PERMITE TRATAR CASOS MAIS COMPLEXOS

O leque de benefícios da abordagem minimamente invasiva torna-se ainda maior quando esta é aplicada a cirurgias mais complexas e a procedimentos híbridos. Entende-se por procedimento híbrido aquele em que as mais avançadas técnicas de tratamento percutâneo – ou seja, através de cateter – se associam às técnicas de cirurgia cardíaca minimamente invasiva, para tratar múltiplas patologias do coração numa única intervenção. Desta forma, é possível alargar o leque de possibilidades, no tratamento de doentes mais fragilizados e com casos mais complexos, garantindo um excelente resultado, quer funcional, quer estético.

Por exemplo, em doentes com patologias numa ou várias válvulas cardíacas, associadas a doença das artérias coronárias, que, anteriormente, apenas seriam candidatos a cirurgia convencional, hoje, com estas técnicas híbridas inovadoras, podem ser tratados de forma menos invasiva. A abordagem híbrida, ao permitir tratar, numa mesma cirurgia, várias patologias cardíacas, reduz o trauma cirúrgico e o tempo de recuperação do doente, além de conseguirmos personalizar o tratamento de acordo com as necessidades específicas de cada pessoa.

Da mesma forma, em procedimentos para reparação das válvulas ou para correção de malformações cardíacas à nascença, a visão ampliada e a maior destreza no manuseamento dos instrumentos, que a abordagem minimamente invasiva oferece, permitem ao cirurgião realizar intervenções mais precisas. Isto resulta em danos menores no tecido cardíaco circundante e, consequentemente, em melhores resultados a longo prazo.

Os doentes com outras doenças graves associadas às patologias cardíacas ou fragilidade física, que, tradicionalmente, corriam um risco elevado em cirurgias abertas, podem beneficiar significativamente da menor agressão cirúrgica destas técnicas. A menor perda de sangue, a redução da dor no pós-operatório e o menor tempo de recuperação reduzem o stress no organismo, tornando o procedimento mais seguro para estes doentes.

Leia o artigo completo na edição de maio 2025 (nº 360)