Quando vamos a uma consulta, é ao computador que, na maior parte das vezes, encontramos o médico, que ali se mantém, a digitar enquanto fala com o doente. A questão da burocracia não é nova e as contas já feitas sobre este tema confirmam o seu peso: 50% do tempo do médico é dedicado à realização de tarefas administrativas, o que se traduz, só no Serviço Nacional de Saúde, em 30 milhões de horas médicas desperdiçadas nestas funções.

O que é novo é uma ferramenta que permite mudar este paradigma, a MEDGICAL, que chega agora aos consultórios e que está num projeto-piloto, desde o dia 2 de setembro, nas clínicas Joaquim Chaves Saúde (JCS). Reconhecido pela sua inovação, a JCS proporciona as condições ideais para testar e comprovar a eficácia desta tecnologia inovadora.

“Apesar de a tecnologia ter trazido muita coisa boa, foi completamente demolidora para aquilo que é a relação médico-doente”, refere Bruno Castilho, co-fundador e CEO da MEDGICAL e cardiologista. “Com a MEDGICAL, o médico pode sair detrás do computador e sentar-se à frente do doente, falar livremente com ele, sem se preocupar com as notas que tem de tirar.” Isto porque esta ferramenta faz os registos de forma completamente automática, em modelos adaptados a cada especialidade. “E, no final, o médico tem todos os registos clínicos, à distância de um clique. Permite aos médicos focarem-se naquilo que realmente importa, que é o cuidado ao doente.”

A questão da humanização é então uma das grandes vantagens desta aplicação. Mas há outras a destacar, como a otimização dos recursos. “Se tivéssemos 20% dos médicos no País a usar a aplicação, seria possível fazer mais 2,5 milhões de consultas. Isto é, de facto, algo que pode beneficiar muito não só o sistema de saúde, como o doente em si”, afirma Bruno Castilho.

Depois, há ainda a questão da saúde mental dos profissionais de saúde. “Sabemos que mais burocracia aumenta o risco de burnout e de erro médico. E o que é que acontece com esta tecnologia? Os médicos, ao libertarem-se do trabalho burocrático, sentem-se muito melhor. Porque aquilo que querem é tratar doentes, não é lidar com papéis”, acrescenta.

Finalmente, resolve “um problema muito importante, que tem a ver com a transmissão de informação entre médicos, sobretudo de diferentes especialidades. Eu sou cardiologista e escrevo com muitas abreviaturas aquilo que são informações da cardiologia, que eu entendo, mas que os meus colegas de outras especialidades podem não entender. Se um dos meus doentes for a uma urgência ou a outro clínico, é importante que este saiba exatamente o que é que ele tem. O facto de a MEDGICAL fazer notas clínicas faz com que a informação seja transmitida com qualidade e se diminua bastante o risco de erro clínico, porque não há interpretações deficientes da informação que está escrita.”

Da parte dos médicos que já usam a aplicação, a reação não podia ser melhor. “A partir do momento que os médicos experimentam já não querem voltar atrás.”

Daniel Ferreira, coordenador do Serviço de Cardiologia e coordenador médico do Serviço de Informação Clínica da JCS, concorda. “O que a MEDgical traz é o melhor dos dois mundos: podermos continuar a olhar nos olhos do doente, a consulta toda, sem mexer no teclado. Conversamos, fazemos o exame objetivo, escutamos, traçamos o plano e, no final, em menos de meio minuto, a plataforma faz a anotação de toda a consulta.”

De acordo com o especialista, o reforço da relação médico-doente é o principal ganho. “O segundo é ter registos de boa qualidade e, depois, ainda há a economia de tempo.”

Projeto-piloto confirma história de sucesso

Na Joaquim Chaves Saúde, a MEDGICAL AI está em fase de teste. Daniel Ferreira foi o pioneiro, não sem antes ter assegurado a inexistência de constrangimentos legais e sabendo ainda que não há qualquer necessidade de instalação de software. “Desde então, utilizei a plataforma com todos os meus doentes, em mais de uma centena de consultas, com um grau de satisfação meu e dos doentes muito elevado.”

Hoje, são já cinco os médicos de cardiologia a usar a MEDGICAL, aos quais se juntou a especialidade de Medicina Geral e Familiar. “A nossa ideia é alargar ao máximo de especialidades e ao máximo de médicos possível.”

Para a MEDGICAL entrar em ação, basta apenas “um microfone de mesa, embora se possam utilizar outras soluções, ligado ao computador e uma página de internet, onde se faz um login. A partir daí, a ferramenta começa a ouvir e, no final, pedimos para gerar as notas, o que acontece em 20 segundos. Depois, é apenas preciso copiar a informação para o processo clínico e apagar toda aquela informação da plataforma, que não fica com nada gravado. Não há softwares, não há hardware, a não ser o microfone e não há necessidade de integração com nada que já exista”.

Recorde-se que a MEDGICAL conquistou o 3.º lugar na edição de 2023 do BI Award for Innovation in Healthcare, uma iniciativa da Boehringer Ingelheim, com o apoio institucional da Ordem dos Médicos, subordinado ao tema “Sustentabilidade para um futuro comum”. A Boehringer é um mero promotor da MEDGICAL AI, que é operada exclusivamente pela MEDGICAL, Lda.