Com diagnóstico precoce, seguimento adequado e adesão ao tratamento, o prognóstico dos doentes com lúpus tem vindo a melhorar substancialmente.
Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Fernando Pimentel dos Santos. Professor da NOVA Medical School, Universidade NOVA de Lisboa. Reumatologista na ULS de Lisboa Ocidental, Hospital de Egas Moniz.
O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença crónica, na qual o sistema imunitário e os processos de inflamação se encontram “desregulados”. Afeta sobretudo as articulações e a pele, mas em situações graves qualquer órgão do corpo pode ser envolvido, como os rins, sangue, sistema nervoso, coração ou pulmões.
Estima-se que o lúpus afete cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, o estudo EpiReumaPT revelou uma prevalência de 0,1%. Predomina claramente no sexo feminino (cerca de 9 em cada 10 casos) e surge habitualmente entre os 15 e os 45 anos.
SINTOMAS DIVERSOS
Os sintomas são diversos, como já afirmado e, por vezes, numa fase inicial podem ser inespecíficos, como cansaço, febre baixa, humor deprimido, falta de apetite e/ou perda de peso, o que torna o diagnóstico desafiante.
De qualquer modo, os sintomas mais comuns incluem dores articulares e manifestações na pele que se traduzem por manchas na pele (como o típico “rash” em asa de borboleta no rosto) que são sensíveis ao sol (tornando-as mais evidentes), aftas na boca ou a nível genital e queda de cabelo. Quando há envolvimento de órgãos internos, como os rins ou o cérebro, o lúpus pode tornar-se particularmente grave.
Assim, torna-se muito importante que as pessoas e os médicos de família possam suspeitar da doença para procurarem rapidamente um reumatologista, proporcionando um diagnóstico e início de tratamento em fases precoces da doença. O tratamento do lúpus deve ser sempre individualizado e envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir reumatologistas, nefrologistas, dermatologistas, médicos de outras especialidades, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros. O acompanhamento próximo é essencial para ajustar terapêuticas e vigiar complicações.
EVOLUÇÃO DAS OPÇÕES TERAPÊUTICAS
As opções terapêuticas evoluíram muito nas últimas décadas. Os fármacos clássicos — como os anti-inflamatórios, a hidroxicloroquina, os corticosteroides e os imunossupressores (como o metotrexato, a azatioprina, ciclofosfamida ou micofenolato de mofetil) — continuam a ser pilares fundamentais. No entanto, nos últimos anos, surgiram terapias biotecnológicas dirigidas, como o belimumab e o anifrolumab, que podem contribuir para um melhor controlo da doença em casos mais difíceis. Mais recentemente, foram iniciados ensaios com terapias celulares inovadoras, como as CAR T cells, que prometem uma nova era no tratamento do lúpus.
Com diagnóstico precoce, seguimento adequado e adesão ao tratamento, o prognóstico dos doentes com lúpus tem vindo a melhorar substancialmente. Ainda assim, é essencial continuar a apostar na investigação, na medicina de precisão, na inteligência artificial, no acesso equitativo aos cuidados e na sensibilização pública para que esta doença ainda tão desconhecida possa ser controlada, permitindo uma boa qualidade de vida aos doentes que dela sofrem.
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