Investigadores das universidades do Porto e Lisboa, e das clínicas IVI de Lisboa, Madrid e Valência, desenvolveram uma calculadora para saber, no caso das mulheres com excesso de peso e obesidade, e também com problemas de fertilidade, qual o peso que devem perder para terem mais hipóteses de engravidar na sequência de uma fertilização in-vitro. A calculadora é o culminar de um estudo que envolveu mais de 14 mil mulheres de 18 centros clínicos e que foi recentemente publicado no Jornal of Human Reproduction, da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.
“A obesidade é uma doença crónica, que para além de constituir um gatilho para muitas doenças cardiovasculares, afeta a fertilidade das mulheres e o desenrolar de uma gravidez. Pelo que é desejável que mulheres com excesso de peso ou obesidade percam peso antes de tentarem engravidar. Mas também sabemos que a idade é um fator crítico para a fertilidade. Daí a pertinência deste estudo, ou seja, investigar se valia a pena esperar que as mulheres emagrecessem e qual a janela de tempo estritamente necessária para haver benefício clínico”, explica o Dr. Samuel Ribeiro, investigador, ginecologista e coordenador científico do IVI Lisboa.
De acordo com o médico, a investigação sugere que “há benefício potencial em estratégias de perda de peso até um 1 ano antes de serem iniciadas técnicas de procriação medicamente assistida, particularmente em mulheres com menos de 35 anos e com Índice de Massa Corporal (IMC) ≥25 kg/m2”, ou seja, com excesso de peso e/ou obesidade. No entanto, sublinha que, nas mulheres com mais de 35 anos, “a perda de peso deve ser considerável ou ocorrer em um período de tempo mais curto para evitar o efeito negativo do avanço da idade feminina”. Face aos novos dados, os investigadores que desenvolveram a calculadora concluem que o melhor curso de ação é a abordagem personalizada para perda de peso, em função da idade.
O Dr. Samuel Ribeiro salienta que o risco de infertilidade é mais elevado na mulher obesa comparativamente a uma mulher de IMC normal. O principal impacto da obesidade na fertilidade deve-se a alterações endócrinas que dificultam a normal ovulação. Mas, mesmo na ausência de distúrbios ovulatórios, a taxa de fecundidade da mulher obesa mostra-se reduzida como consequência da alteração do metabolismo a estado inflamatório.
No que se refere diretamente à fertilização in-vitro (FIV), a obesidade associa-se a uma diminuição da taxa de sucesso, a uma diminuição da qualidade dos óvulos e menor taxa de implantação dos embriões por igual prejuízo da recetividade do útero para esses embriões. A obesidade está também relacionada com um aumento de aborto, quer em gestações naturais, quer naquelas resultantes do recurso a técnicas de procriação medicamente assistida.
Neste estudo, somente foram consideradas mulheres submetidas ao seu primeiro ciclo de fertilização in vitro usando gametas próprios e que tenham tentado engravidar até ao final desse primeiro ciclo. O índice de massa corporal (IMC, que relaciona o peso com a altura) foi subdividido em seguintes subgrupos: baixo peso (<18,5 kg/m2), peso normal (18,5–24,9 kg/m2), excesso de peso (25,0–29,9 kg/m2) e obesidade (≥30,0 kg/m2).
Em conclusão, uma mulher obesa de 35 anos que consiga perder 1 unidade de IMC em três meses tem mais hipóteses de engravidar num primeiro ciclo de FIV relativamente a outra com a mesma idade, com o mesmo IMC e que não tenha perdido qualquer peso. As mulheres mais velhas exigiriam uma perda de peso mais desafiadora para alcançar benefício clínico. Para uma mulher de 39 anos, apenas uma queda no IMC superior a 4 kg/m2 em três meses compensaria o efeito prejudicial do envelhecimento durante esse período.