A incontinência urinária é um problema de saúde do qual todos temos elevada probabilidade de vir a sofrer, porém de diagnóstico e investigação relativamente simples e com tratamentos pouco invasivos e muito eficazes.

Artigo da responsabilidade do Dr. Vítor Hugo Nogueira. Urologista nos Hospitais Trofa Saúde de Barcelos, Braga Centro, Braga Sul, Famalicão e Trofa

 

A incontinência urinária (IU) é uma patologia comum, estimando-se que atualmente possa atingir cerca de 20% da população. Este valor tem tendência a crescer em virtude do progressivo envelhecimento demográfico. É uma das doenças crónicas mais prevalentes, apesar de não ser frequentemente reconhecida. Sendo mais comum na mulher, ocorre também em homens, submetidos ou não a procedimentos cirúrgicos prévios.

A incontinência urinária interfere com a vida familiar e social, causa embaraço, afeta a autoestima e diminui consideravelmente a qualidade de vida. Tem também elevado impacto económico. O custo anual direto da IU é semelhante ao de outras doenças crónicas, como a artrite, a doença de Alzheimer ou a osteoporose. Para além disso, ainda hoje é uma patologia estigmatizante, associada a ideias de pseudo-normalidade, o que faz com que muitos doentes tenham vergonha de a referir aos profissionais de saúde ou, simplesmente, considerem que é um processo normal decorrente do envelhecimento.

TIPOS DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA

A incontinência urinária divide-se em três grandes grupos:

  • IU de esforço – Quando as perdas urinárias acontecem durante esforços, exercícios físicos, tosse ou espirros, entre outros;
  • IU de urgência – Quando as perdas urinárias surgem após uma vontade súbita, imperiosa, de urinar, difícil de adiar, e que não dá tempo suficiente para que o indivíduo chegue a um local onde seja socialmente adequado o esvaziamento vesical;
  • IU mista – Doentes em que há uma conjugação de queixas de esforço e de urgência.

TRATAMENTOS POSSÍVEIS

A definição de um plano de tratamento depende de múltiplos fatores, nomeadamente: a gravidade das perdas urinárias (volumetria), o impacto na qualidade de vida, os custos associados (gastos com proteções) e vontade manifestada pelo doente de ser submetido a procedimentos invasivos, eventualmente cirúrgicos.

Existem medidas genéricas, transversais aos diferentes tipos de IU. A adoção de um estilo de vida saudável, com cessação tabágica, a prática regular de exercício físico e a perda ponderal nos casos de excesso de peso ou obesidade são estratégias associadas a uma melhoria da quantidade e frequência de perdas urinárias.

Contudo, quando essas atitudes não são suficientes, e dependendo do tipo de IU, temos atualmente múltiplas opções terapêuticas, com graus progressivamente maiores de complexidade.

1. IU de urgência

As medidas conservadoras a promover no tratamento da bexiga hiperativa incluem a redução do consumo de substâncias com efeito estimulante no músculo da bexiga (detrusor), tais como a cafeína ou a teína (chá); passar a urinar a intervalos regulares, tentando antecipar os episódios de urgência miccional; exercícios de reforço do pavimento muscular com ou sem estimulação elétrica; estimulação do nervo tibial posterior.

Quando essas medidas são insuficientes ou ineficazes, temos dois grupos de medicamentos (antimuscarínicos e os agonias beta-3) que podem ser utilizados para resolver ou atenuar a frequência dos episódios de IU. A aplicação de estrogénios vaginais também poderá ter um efeito benéfico, principalmente em doentes com outros sintomas urinários associados à menopausa.

Se, ainda assim, não houver resolução ou melhoria significativa das queixas de IU, temos ao dispor as alternativas cirúrgicas:

  • Injeção intra-detrusor de Botox (toxina botulínica A) – Procedimento minimamente invasivo, realizado por via endoscópica com recurso a um cistoscópio;
  • Neuroestimulação sagrada – Implica a implantação de um dispositivo com elétrodos colocados junto das raízes dos nervos para estimulação elétrica;
  • Cistoplastia de aumento – Apenas em casos graves refratários a todos os outros tratamentos.

2. IU de esforço

Na IU de esforço, a perda ponderal, bem como a realização supervisionada de exercícios de reforço da musculatura do pavimento pélvico, têm um efeito benéfico na melhoria da continência urinária. Normalmente, porém, só são eficazes, isoladamente, nos casos mais ligeiros.

Ao invés da IU de urgência, na IU de esforço as opções farmacológicas são muito menos abundantes e menos úteis, razão pela qual são pouco utilizadas.

Neste tipo de IU, os tratamentos mais eficazes são efetivamente os cirúrgicos.

No sexo feminino, a correção cirúrgica habitualmente é realizada recorrendo à colocação, por via transvaginal, de uma fita (por vezes, denominada sling) sub-uretral. É uma técnica minimamente invasiva, obrigando habitualmente apenas a pernoita na unidade hospitalar.

Em homens, dependendo principalmente da existência de função residual do esfíncter urinário voluntário e da volumetria das perdas urinárias, existem duas grandes alternativas cirúrgicas: a colocação de uma fita sub-uretral (fixa ou ajustável) ou, nos casos mais severos, a implantação de um esfíncter urinário artificial (um dispositivo mecânico que promove a compressão circunferêncial da uretra, desativado pelo doente através de um interruptor colocado na bolsa escrotal).

3. IU mista

Ao ser a associação da IU de esforço e de urgência, este tipo de incontinência implica que as opções terapêuticas sejam uma combinação das já elencadas. Nestes casos, o paradigma do tratamento é abordar prioritariamente a componente da IU que causa mais incómodo ao doente.

Leia o artigo completo na edição de março 2025 (nº 358)