Cada fase da vida tem as suas peculiaridades e sobre todas elas abatem-se ameaças específicas para a saúde. Identificámos quatro grupos etários e os respetivos riscos sanitários, para que possamos antecipá-los e preveni-los.

 

“A partir de que idade devo começar a preocupar-me com um determinado problema de saúde?”. Esta pergunta, cada vez mais frequente nas consultas do médico de família, não tem uma resposta simples. Os avanços médicos e as contínuas melhorias na qualidade e esperança de vida das sociedades ocidentais estão a contribuir para atrasar o aparecimento de certos problemas de saúde que, até há relativamente poucos anos, se apresentavam logo na meia-idade e, às vezes, até mais cedo.

No entanto, outra tendência cada vez mais percetível é a de doenças tradicionalmente associadas aos adultos, como a diabetes tipo 2, a obesidade ou a hipertensão, começarem a ser diagnosticadas, com alguma frequência, em adolescentes e jovens adultos.

Estas são, para o bem e para o mal, as consequências dos hábitos de vida que predominam na nossa sociedade. Assim, a única regra válida é cuidarmo-nos sempre e em qualquer idade.

Até aos 12 anos

  • Gripe

Face à inexistência de melhores métodos de deteção precoce da gripe, doença infecciosa que voltou a produzir violentos surtos epidémicos nos últimos anos, a Organização Mundial de Saúde está a recomendar a vacinação de bebés com idade superior a 6 meses, que apresentem doenças crónicas cardiovasculares, pulmonares, renais, hepáticas, hematológicas, metabólicas, neuromusculares ou imunitárias. Outro grupo de risco é constituído pelas grávidas que à data do início do período de vacinação, em outubro, estejam já no segundo ou terceiro trimestre da gravidez. A vacina permite uma proteção contra uma eventual evolução grave da doença durante a gestação (e amamentação), bem como dos seus bebés durante os primeiros meses de vida.

  • Sarampo, rubéola e papeira

O sarampo, a rubéola e a papeira são três doenças infecciosas contra as quais atua a chamada vacina tripla vírica, administrada a todas as crianças portuguesas, geralmente, aos 12 meses, com um reforço aos 5 anos de idade. O sarampo é uma doença cuja incidência foi praticamente erradicada nos países desenvolvidos, desde que se efetua a vacinação infantil universal. No entanto, a existência de bolsas da população que recusam vacinar os filhos, devido a uma postura conservadora, bem como os fluxos migratórios, fazem surgir ciclicamente, por todo o mundo, surtos epidémicos desta doença.

  • Obesidade infantil

Constitui um fenómeno relativamente novo, mas que tem apresentado crescimento sustentado e assustador. À margem das futuras complicações que podem vir a afetar as crianças obesas – excesso de colesterol, hipertensão, problemas cardiovasculares, entre outros –, o excesso de peso e a obesidade já produziram um notável incremento de casos de diabetes tipo 2 em menores de 6 anos. O único tratamento eficaz passa por uma modificação da alimentação e dos hábitos de vida da criança, que será tanto mais difícil quanto maior ela for.

Dos 12 aos 35 anos

  • Tensão arterial elevada

A hipertensão pode dever-se a fatores genéticos, mas na maioria dos casos é consequência da obesidade infantil, que começa a manifestar-se na adolescência.

Desde há uns anos, modificaram-se os esquemas de medicação da hipertensão arterial, de tal modo que, hoje, consideram-se pré-hipertensos os jovens que alcançam valores superiores a 90% do máximo normal para os adultos. O período que vai dos 14 aos 15 anos é considerado como uma idade crítica, dado que 8% dos pré-hipertensos passam a hipertensos nesta fase.

  • Comportamentos de risco

Podem incluir-se nesta categoria as perturbações alimentares de base psicossocial – anorexia, bulimia –, bem como as gravidezes não desejadas, as doenças de transmissão sexual, a dependências ou o consumo repetido de álcool, tabaco e estupefacientes.

Por outro lado, consequência da intensa atividade desportiva, os jovens estão entre os grupos etários que sofrem mais traumatismos e acidentes musculoesqueléticos.

  • Cardiopatias congénitas

A partir da adolescência, igualmente consequência da atividade desportiva por vezes intensa e, também, das mudanças hormonais, aumenta o risco de acidentes cardiovasculares ou morte súbita, em pessoas com cardiopatias congénitas não diagnosticadas. Por isso, é fundamental que os desportistas se submetam a check-ups periódicos e que se presta atenção a sintomas como excesso de fadiga, enjoos, tonturas, intensas dores de cabeça, palpitações ou dores torácicas.

Dos 35 aos 65 anos

  • Triglicéridos e colesterol elevados

Entra-se numa faixa etária em que são recomendáveis check-ups periódicos. A frequência ótima é uma revisão completa anual, sobretudo a partir dos 45 anos. Essa frequência pode ser maior em caso de haver antecedentes genéticos de risco – cardiovasculares, tumorais, reumáticos, etc..

Dois dos indicadores que há a ter em conta são o colesterol e os triglicéridos, que não devem ultrapassar os 200 mg/dl de LDL – colesterol “mau” – nem os 160 mg/dl de triglicéridos.

  • Tumores

As mulheres com mais de 40 anos devem submeter-se periodicamente a mamografias, para despistar o cancro da mama. Também têm importância as citologias, para detetar eventuais células tumorais no colo do útero, em particular no caso das mulheres que entram na meia-idade mantendo uma vida sexual ativa.

No caso dos homens, é importante efetuar análises periódicas ao sangue, para detetar eventuais síndromas tumorais, como a da próstata, reconhecida por um parâmetro concreto, designado PSA – antigénio prostático específico.

  • Problemas coronários

A idade de risco cardiovascular começa por volta dos 40-45 anos, no caso dos homens e com a chegada da menopausa, no caso das mulheres. Isto faz com que resulte imprescindível controlar e tratar a hipertensão, bem como outros fatores de risco coronário. É igualmente necessário fazer um seguimento de possíveis arritmias, através de eletrocardiogramas e provas de esforço. Apesar de todos os esforços preventivos, as doenças circulatórias continuam a ser a primeira causa de mortalidade no mundo desenvolvido.

A partir dos 65 anos

  • Osteoporose

Para além da maioria dos motivos de alarme anteriores, que tendem a agravar-se com a passagem dos anos, a idade sénior costuma caracterizar-se por uma deterioração progressiva do sistema musculoesquelético. Para prevenir esta situação, é necessário submeter-se a exames periódicos, como a densitometria, que permite detetar a falta de cálcio, a porosidade dos ossos ou a perda de conteúdo mineral.

  • Diabetes

Apesar de ser uma doença crónica que pode herdar-se ou surgir em qualquer idade, é mais frequente o diagnóstico da diabetes tipo 2 numa idade avançada. Isto deve-se à progressiva incapacidade do organismo para segregar a insulina, a qual é necessária para regular os níveis de glucose na corrente sanguínea.

  • Alzheimer

A doença de Alzheimer é um severo quadro de deterioração neurológica que pode começar a manifestar-se em idades avançadas, em geral, a partir dos 70 anos. O respetivo ciclo de desenvolvimento é de 10 anos e costuma concluir com uma perda quase total das faculdades cognitivas. Existe uma certa predisposição genética e é possível prevenir ou atrasar o seu desenvolvimento através de estímulos cognitivos, a par do tratamento farmacológico, embora não haja uma cura.

 

Artigo publicado na edição de maio 2018 (nº 283)