Histerectomia é o nome de uma técnica cirúrgica, específica para as mulheres, pois significa remoção do útero. Muitas mulheres, muitos milhares entre nós, muitos milhões em todo o mundo, já a realizaram. Mas será sempre necessária?

Reportagem com Daniel Pereira da Silva director do servico de Ginecologia do Instituto Portugues de Oncologia (IPO) de Coimbra e presidente da Sociedade Portuguesa de GinecologiaArtigo da responsabilidade do Dr. Daniel Pereira da Silva, Instituto Médico de Coimbra

As técnicas cirúrgicas em geral e da histerectomia em particular evoluíram muito. Passámos de uma cirurgia com um risco considerável e um rebate importante da qualidade de vida, para níveis de risco muito baixos e um impacto significativamente menor, sobretudo com as técnicas minimamente invasivas. A histerectomia não leva necessariamente à menopausa: isso só acontece quando os ovários são também removidos, o que se deve evitar. Mas pode significar o antecipar da menopausa em 2 a 5 anos, como alguns estudos demonstram.

PERDA COM MUITO SIGNIFICADO

Seja como for, a histerectomia implica a perda de um órgão, o que pode significar muito para a mulher – uma perda é sempre uma perda, mesma que seja após a menopausa, quando o útero perdeu a sua função maior, de órgão do “leito da vida”.

Nessa fase, a sua extração poderá ter impacto psicológico, se a mulher não for devidamente esclarecida e não aceitar com pragmatismo essa situação, pois poderá modificar toda a estática da pélvis e favorecer a perda involuntária de urina com pequenos esforços, como se tem verificado em alguns estudos de avaliação de longo prazo. Fácil é constatar que todos estes aspetos assumem uma proporção muito maior quanto mais jovem for a mulher  e se, porventura, não tem o seu projeto de maternidade consumado.

EM BUSCA DE TRATAMENTOS CONSERVADORES

As razões que justificam a realização de uma cirurgia deste tipo são de vária ordem, mas podemos catalogá-las em dois grandes grupos: situações benignas e situações malignas (pré-cancerosas e cancerosas).

Das situações benignas, destacam-se os miomas uterinos (nódulos na parede do útero), a adenomiose (alterações benignas da parede do útero) e o prolapsos (útero descaído). Os miomas são muito mais frequentes.

Tem-se verificado, em todo o mundo desenvolvido, uma indicação progressivamente mais restrita da histerectomia para estas situações, mesmo para as pré-malignas e malignas. Tem-se procurado alternativas, com tratamentos menos agressivos, mais conservadores e, se possível, por medicamentos sem recurso à cirurgia. Tudo isto porque se evoluiu no respeito pela integridade do corpo e dos órgãos, porque se evoluiu na procura de tratamentos que sejam igualmente eficazes, mas menos invasivos e com menor impacto na qualidade de vida.

Hoje, para a medicina moderna, para a medicina dos nossos dias, não se aceita “cortar o mal pela raiz” por meios excessivos; hoje, o melhor tratamento é o que demonstra máxima eficácia associada ao menor impacto.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2016 (nº 264)