Os últimos anos revelaram, com maior nitidez, que o papel das farmácias vai muito além da dispensa do medicamento e do aconselhamento.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Anabela Madeira, farmacêutica; administradora da Go Far

 

Desde sempre, o farmacêutico é o profissional de saúde de primeira linha, a quem a população mais recorre, nas mais variadas situações, desde o aconselhamento sobre terapêutica, dúvidas sobre os medicamentos e situações comuns. Esta situação verifica-se por inúmeros fatores, que são comuns à maior rede nacional de cuidados de saúde: confiança, proximidade, qualificação e acessibilidade. E, claro, a distribuição abrangente da rede de farmácias por todo o território nacional.

A disponibilização de serviços como a determinação da pressão arterial, colesterol, glicemia, triglicerídeos, entre outros, fazem parte da oferta básica de serviços das farmácias, em Portugal.

Alargamento da oferta de serviços

Facilidade de acesso, qualificação, rapidez nos resultados e aconselhamento diferenciado resultam na pertinente utilidade e leque de vantagens para a saúde da população e, consequentemente, para o Sistema de Saúde em Portugal.

A publicação das Portarias n.º 1429/2007, de 2 de novembro, e n.º 97/2018, publicada no dia 9 de abril em Diário da República, veio permitir alargar o leque de serviços de saúde e de bem-estar prestados pelas farmácias, bem como a possibilidade de intervir em novas áreas e promover a prestação de serviços realizados por outros profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiro, nutricionista, entre outros.

Assim, nas últimas décadas, assistimos a um alargamento da oferta de serviços de saúde e bem-estar prestados pelas farmácias, assente na criação de valor e nas necessidades da população, e que abrangem áreas como: promoção da saúde, prevenção da doença, deteção precoce e monitorização da terapêutica.

São bons exemplos o envolvimento das farmácias na administração de vacinas, a realização de testes rápidos para HIV e hepatite, a dispensa de medicamentos hospitalares antirretrovíricos, as campanhas de deteção precoce, a implementação de programas de adesão à terapêutica, entre outros.

Intervenção essencial

A administração de vacinas e a administração de injetáveis, iniciada há mais de uma década, compõem a oferta diversificada de serviços prestados na farmácia. Vivemos recentemente, em plena pandemia, a época de vacinação contra a gripe, onde a participação dos farmacêuticos permitiu acelerar o processo de vacinação e garantir a imunização dos portugueses. A campanha contou com a participação de mais de 2000 Farmácias e profissionais devidamente habilitados para o efeito.

Em Portugal,  assiste-se ao envelhecimento da população e, consequentemente, ao aumento da prevalência de doença crónica (diabetes, hipertensão, dislipidemia, asma, entre outras) e de doentes polimedicados, com risco acrescido de problemas relacionados com a medicação, pelo que a intervenção da farmácia através de programas de gestão da doença, assentes em protocolos, é essencial para a otimização da terapêutica do doente, promoção do uso seguro e efetivo dos medicamentos, redução das complicações e melhoria dos resultados em saúde.

A complementar a literacia em saúde, a determinação de parâmetros e a gestão da doença, destacam-se as iniciativas de sensibilização da população para a deteção precoce.

Deteção precoce da diabetes

No âmbito de uma parceria entre a Associação Nacional das Farmácias (ANF) e o Grupo Ageas Portugal/Médis, as farmácias dinamizaram, no verão de 2019, uma campanha de sensibilização para a deteção precoce da diabetes, no concelho de Gondomar.

Nesta intervenção, cada uma das pessoas avaliadas obteve informação específica sobre o seu risco individual de diabetes e sobre as necessidades e comportamentos a adotar relativamente à prevenção da diabetes. Nos casos em que o risco era “alto” ou “muito alto”, foi efetuada uma medição da hemoglobina glicosilada (HbA1c) e, se necessário, referenciação ao médico assistente Médis.

Os números da campanha falaram por si: 909 participantes, maioritariamente mulheres (70%), e cerca de metade dos participantes com risco elevado ou muito elevado de desenvolver diabetes.

Neste tipo de iniciativas, a articulação entre profissionais de saúde (farmacêutico e médico) é fundamental para uma correta intervenção junto da população, reforçando mensagens adequadas e promovendo a interação efetiva entre as diferentes unidades de cuidados de saúde.

Sensibilização para o cancro colorretal

Já este ano, e também no âmbito de uma parceria entre as Farmácias Portuguesas e o Grupo Ageas Portugal/Médis, desenvolvemos uma campanha nacional para a sensibilização para o cancro colorretal. Aderiram cerca de 300 farmácias e convidámos cerca de 4000 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 74 anos, para fazer a pesquisa de sangue oculto nas fezes.

A campanha de sensibilização para o cancro colorretal decorreu de 15 de março a 14 de abril e teve como objetivos a deteção precoce do cancro colorretal e a sensibilização para fatores de risco, o diagnóstico e o tratamento.

A prestação de serviços na farmácia e a colaboração interprofissional contribuem para a satisfação das necessidades dos clientes, melhoria da experiência dos utilizadores do SNS ou outros sistemas e a sustentabilidade do sistema de saúde.

Artigo publicado na edição de maio 2021 (nº 316)