Um dos sintomas cada vez mais presente e que urge contemplar é a ansiedade, essa sombra persistente que se ergue sobre a nossa existência.
Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de um Centro de Medicina de Reabilitação de Adultos
O Dia Mundial da Saúde Mental é celebrado no dia 10 de outubro de cada ano. Este dia tem como objetivo aumentar a conscientização sobre questões relacionadas à saúde mental e promover a importância do cuidado com a saúde mental em todo o mundo. Durante esse dia e ao longo do mês de outubro, várias organizações, profissionais de saúde mental e defensores realizam atividades e campanhas para destacar a importância do bem-estar mental e para combater o estigma em torno das doenças mentais.
SOMBRA PERSISTENTE
Um dos sintomas cada vez mais presente e que urge contemplar é a ansiedade, essa sombra persistente que se ergue sobre a nossa existência. O importante filósofo alemão Friedrich Nietzsche, num rasgo de lucidez, captou a essência desse véu invisível que obscurece os nossos dias: “A ansiedade é o derradeiro véu que oculta toda a fealdade de nossa existência.”
Emerge agora, das profundezas da ciência, um conhecimento valioso que nos permite desvendar os segredos da ansiedade. A ansiedade, na sua complexidade, assume duas formas distintas e, todavia, interligadas: a ansiedade-traço e a ansiedade-estado. Compreender estas nuances é imperativo para o cultivo do nosso bem-estar emocional.
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A ansiedade-traço tece uma teia de preocupação persistente e excessiva que permeia múltiplas esferas da vida. Neste intricado tecido emocional, a genética desempenha um papel relevante, e traumas infantis podem moldar o seu perfil. O “Journal of Anxiety, Stress & Coping” (Newman et al., 2019) reforça esta associação, alertando-nos para o risco que representa, arrastando-nos para o abismo da depressão e de outros transtornos ansiosos.
Para enfrentar este monstro interior, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) emerge como uma arma poderosa, como atestam as páginas do “Journal of Clinical Psychology” (Hofmann et al., 2012). Esta terapia capacita-nos a confrontar e reformular os nossos pensamentos negativos, lançando luz sobre o caminho por entre a escuridão da ansiedade-traço.
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
No reverso deste abismo emocional, encontramos a ansiedade-estado, uma resposta transitória a situações específicas, agudas ou crónicas. O palco da vida quotidiana é, por vezes, o cenário que a desencadeia, como o demonstrou um estudo no “Journal of Abnormal Psychology” (Craske et al., 2009). Esta ansiedade, quando persistente em circunstâncias desprovidas de justificação, pode transformar-se em psicopatologia de relevância clínica.
A técnica da exposição ou dessensibilização sistemática, explicada nas páginas do “Journal of Consulting and Clinical Psychology” (Öst et al., 2017), é utilizada em Psicologia e Psicoterapia para tratar fobias, ansiedade e outros distúrbios relacionados com o medo. Foi desenvolvida por Wolpe, em 1958. A técnica baseia-se na ideia de que os medos irracionais podem ser superados através de uma exposição gradual e controlada à fonte do medo, enquanto a pessoa aprende a relaxar e a controlar sua ansiedade. Emerge como uma aliada eficaz para domar esta dificuldade temporária. O contacto controlado com as fontes do nosso temor, orientado por um guia terapêutico, pode domar a ansiedade-estado e evitar a sua transformação em um monstro patológico.
ANTIDEPRESSIVOS, ANSIOLÍTICOS E AUTOCUIDADO
Mas há um território mais sombrio, a ansiedade patológica, um nível de ansiedade que lança uma sombra profunda sobre a vida quotidiana e as relações sociais. Este pesadelo exige abordagens mais intrusivas. Nas páginas da “Frontiers in Psychiatry” (Bandelow et al., 2017), destaca-se o papel dos fármacos, como os antidepressivos e ansiolíticos, como sentinelas nas defesas contra a ansiedade patológica, frequentemente aliada a outros demónios mentais.
No entanto, sublinhamos com veemência que a medicação não deve caminhar sozinha neste território nubloso. Uma revisão exaustiva no “Journal of Clinical Psychiatry” (Hofmann et al., 2016) salienta a sinergia entre tratamentos farmacológicos e terapêuticos como o caminho a seguir na gestão a longo prazo desta ansiedade profunda.
Mas a batalha contra a ansiedade não se limita às terapias, é um campo onde o autocuidado assume um papel crucial. A pesquisa na “Clinical Psychology Review” (Ehring et al., 2018) ergue o estandarte da meditação, do exercício regular e do repouso adequado como protetores da paz contrariamente à ansiedade, nutrindo um equilíbrio emocional duradouro.
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