Aquilo que para a maioria das pessoas é uma atividade agradável, para outras implica um descontrolo consumista, que termina em angústia e, por vezes, em graves problemas económicos. A época dos saldos é uma das mais perigosas…

 

Os viciados em compras não conseguem, simplesmente, parar de gastar dinheiro na aquisição de bens, quer para si próprios quer para os outros. O mesmo modelo de camisa em cinco cores diferentes, caixas de sapatos que se acumulam umas em cima das outras – muitas delas nem sequer foram abertas –, aparelhos de ginástica comprados através da televisão… e assim sucessivamente.

Segundo estudos, esta patologia afeta cerca de 2% da população portuguesa, na sua maioria mulheres entre os 30 e os 50 anos. Se bem que na sua máxima expressão afete pouca gente, nos seus estados iniciais é mais comum do que se pensa.

Uma das principais preocupações dos especialistas é que se trata de uma patologia com tendência de aumento. Épocas como o Natal e, logo de seguida, os saldos, nas quais o consumismo desenfreado é o grande protagonista, resultam num risco acrescido.

Contudo, não devemos cair no erro de pensar que qualquer pessoa que gosta de fazer compras é um comprador compulsivo. Nem há razão para renunciar a comprar aquilo que nos proporciona satisfação, se tivermos poder económico para tal e formos capazes de manter o controlo sobre os gastos.

O que está por detrás?

A compra compulsiva é sintoma de uma patologia mais profunda, pois esconde grandes doses de depressão e baixa autoestima. Na maioria dos casos, as pessoas afetadas têm carências afetivas ou emocionais graves, que procuram compensar à custa da aquisição de bens materiais.

Outro fator que pode contribuir para esta situação é viver numa sociedade de consumo, na qual ser aceita implicitamente que “vales o que tens” e que baseia o prestígio social naquilo que se possui. Isto sem esquecer a publicidade omnipresente, que nos convida constantemente a consumir mais e mais, para sermos mais felizes.

Porém, cada dia ganha maior força a teoria que aposta na importância da genética na determinação do descontrolo dos impulsos e na ativação de certos mecanismos neurológicos que fazem com que um indivíduo tenha uma personalidade mais sujeita a dependências do que outros.

Os viciados em compras procuram equilibrar a sua vida adquirindo bens materiais; contudo, esses bens perdem todo o seu valor em poucos minutos após a compra, pelo que o indivíduo regressa ao ponto de partida e reaparece a necessidade de comprar.

As pessoas afetadas são conscientes daquilo que estão a fazer, mas não conseguem dominar o respetivo impulso. Após concretizarem a compra, dão-se conta da perda de controlo, algo que lhes provoca sentimentos de culpa, irritabilidade e vergonha, para além dos problemas económicos e familiares que acabam, mais cedo ou mais tarde, por enfrentar.

Todos estes fatores destroem a segurança e a autoestima do indivíduo, acabando por converter a sua conduta num ciclo vicioso, dado que, quanto pior ele se sente, maior é o seu desejo de voltar a comprar.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2018 (nº 279)