Saiba quando recorrer a um médico fisiatra e evitar tratamentos desnecessários ou tardios.

Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Almeida Vieira. Médica IFE em Medicina Física e de Reabilitação (Fisiatria), com formação avançada em Ecografia Músculo-Esquelética e Intervencionismo Ecoguiado, bem como em Medicina Estética.

 

O verão que está prestes a terminar convidou ao movimento: caminhadas, idas à praia, jogos de padel e trilhos pela natureza. Mas bastam uns dias mais intensos para que o corpo comece a manifestar-se. Surge, assim, uma dor no joelho ao subir escadas, a lombar que reclama sempre que nos baixamos ou a rigidez matinal que atrasa os primeiros passos do dia.

Perante estes sinais, são naturais as dúvidas: “Será passageiro? Devo descansar? Tomar um anti-inflamatório? Aplicar gelo? Aplicar calor?” É precisamente nestas situações que entra em cena uma especialidade médica menos conhecida do público em geral, mas absolutamente essencial: a Medicina Física e de Reabilitação (também conhecida por Fisiatria).

AVALIAÇÃO GLOBAL

A Medicina Física e de Reabilitação adota uma abordagem integral e personalizada do paciente, considerando o corpo como um todo – força, movimento, equilíbrio, coordenação e postura – com o objetivo de diagnosticar e tratar disfunções musculoesqueléticas e neurológicas. O médico fisiatra avalia o paciente de forma global, tendo em conta fatores físicos, funcionais e até psicossociais, promovendo tratamentos médicos conservadores e individualizados, que visam a recuperação plena da funcionalidade, antes de se considerar qualquer intervenção cirúrgica.

A intervenção do médico fisiatra começa com uma avaliação detalhada do corpo em movimento, e daí constrói um plano terapêutico personalizado. Esse plano pode incluir exercício clínico prescrito, reeducação funcional ou procedimentos como infiltrações, bloqueios ecoguiados, técnicas de medicina regenerativa, como o plasma rico em plaquetas, mesoterapia ou ondas de choque – sempre com base científica e com o objetivo de restaurar a funcionalidade e evitar agravamentos futuros.

ABORDAGEM CLÍNICA PRECOCE

A maioria das pessoas associa queixas musculoesqueléticas à Ortopedia. No entanto, importa esclarecer que a Ortopedia é uma especialidade centrada em intervenções cirúrgicas. E embora o seu papel seja indiscutivelmente importante, a maior parte das dores e limitações físicas não requer cirurgia. Pelo contrário, muitas vezes o que se exige é uma abordagem clínica precoce, focada na funcionalidade.

Por isso, o médico fisiatra deve ser, em grande parte dos casos, o primeiro médico a ser consultado – precisamente porque consegue atuar antes de o problema evoluir para algo mais complexo ou para situações que impliquem cirurgia.

UM EXEMPLO ENTRE MUITOS

A Maria, por exemplo, tem 42 anos e trabalha numa loja. Há meses que sentia o ombro a doer e prender. Pensava que seria de carregar caixas e que passaria com o tempo. Tomou anti-inflamatórios, fez repouso, mas a dor persistia – e o movimento começava a ficar limitado. Quando chegou à consulta, já evitava pentear-se ou vestir casacos. Após uma avaliação clínica cuidada, o diagnóstico foi claro: uma capsulite adesiva (também conhecida por “ombro congelado”) instalada após uma tendinopatia negligenciada. Iniciámos um plano médico completo – com exercícios clínicos específicos, procedimento guiado por ecografia e acompanhamento funcional – e, em poucas semanas, a Maria recuperou a mobilidade do braço, voltou a fazer a sua vida com confiança e, acima de tudo, sem necessidade de cirurgia.

Este é apenas um entre muitos exemplos. Casos em que a intervenção certa, feita no tempo certo, muda completamente o desfecho clínico e devolve qualidade de vida.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)