As doenças psicossomáticas exemplificam a profunda interligação entre saúde mental e física. Estas condições exigem uma abordagem holística que reconheça o papel dos fatores emocionais na manifestação e progressão dos sintomas.
Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de Hospitais Privados.
A relação entre a mente e o corpo é um dos temas mais debatidos nas áreas da Neuropsicologia, Psicologia Clínica e Medicina. Essa interconexão é particularmente evidente em doenças psicossomáticas, nas quais fatores emocionais desempenham um papel significativo na génese ou agravamento de sintomas físicos. Doenças reumatológicas, como a artrite reumatoide e a fibromialgia, exemplificam de forma clara a importância de abordar os aspetos psicossociais no cuidado e na gestão da saúde.
CONCEITO DE DOENÇA PSICOSSOMÁTICA
As doenças psicossomáticas referem-se a condições em que os fatores emocionais ou psicológicos contribuem para a manifestação de sintomas físicos.
De acordo com Alexander (1950), precursor da Medicina Psicossomática, “as emoções reprimidas podem expressar-se através de alterações somáticas”. Este conceito baseia-se na ideia de que o corpo reflete conflitos psíquicos que não encontram outra via de expressão. Exemplos clássicos incluem úlceras gástricas, hipertensão arterial, síndrome do intestino irritável e até mesmo algumas manifestações de doenças reumatológicas.
IMPACTO DA SAÚDE MENTAL NA SAÚDE FÍSICA
O impacto da saúde mental na saúde física é particularmente notório em doenças psicossomáticas. Ansiedade e depressão, por exemplo, podem levar à ativação crónica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), provocando um aumento nos níveis de cortisol e uma resposta inflamatória exacerbada (Sapolsky, 2004). Esta inflamação pode agravar sintomas físicos em condições como artrite reumatoide, fibromialgia e outras doenças autoimunes.
Por outro lado, o impacto psicológico de viver com doenças psicossomáticas ou reumatológicas pode criar um ciclo vicioso. Estudos demonstram que a dor crónica está frequentemente associada a perturbações emocionais, como a depressão, que por sua vez amplificam a perceção da dor e dificultam o tratamento (Wolfe et al., 2010).
O CASO DAS DOENÇAS REUMATOLÓGICAS
As doenças reumatológicas partilham características com as psicossomáticas no que diz respeito à sua relação com fatores emocionais.
A fibromialgia, em particular, tem sido classificada como uma síndrome sensível ao stress, onde os sintomas físicos – como dor difusa e fadiga – estão intimamente ligados a fatores psicológicos.
Segundo Van Middendorp et al. (2008), a gestão eficaz da fibromialgia exige uma abordagem multidimensional que considere tanto a componente física como a emocional.
Adicionalmente, estudos indicam que a artrite reumatoide pode ser exacerbada por stress emocional. Este stress não só aumenta os níveis de citocinas pró-inflamatórias, como também influencia negativamente o comportamento do paciente, reduzindo a adesão ao tratamento e ao autocuidado (Gatchel et al., 2007).
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