O emagrecimento sustentável não depende apenas de dietas ou rotinas de treino, mas também de um processo de transformação global que integra mente e corpo. Fatores como a “fome emocional”, a perceção que cada pessoa tem de si mesma e a forma como lida com o stress podem impulsionar ou comprometer o percurso de perda de peso.
Artigo da responsabilidade da Dra. Débora Água-Doce. Psicóloga Clínica e Fundadora da Clínica da Autoestima
A preocupação com o emagrecimento e a manutenção de um peso saudável tem vindo a crescer de forma significativa, impulsionada por fatores estéticos e pelas evidências científicas que ligam o excesso de peso a complicações de saúde, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemias.
Apesar de todos os avanços na área da nutrição e do exercício físico, muitos programas de emagrecimento ignoram a componente essencial da saúde mental, que abrange tanto os processos psicológicos (pensamentos, emoções, motivação), como os comportamentais (hábitos, rotinas, formas de lidar com o stress). A literatura atual mostra que estratégias integradoras, que consideram corpo e mente, produzem resultados mais sustentáveis no controlo do peso e melhoram a qualidade de vida geral.
RELAÇÃO ENTRE SAÚDE MENTAL E PERDA DE PESO
Por vezes, emoções como tristeza, ansiedade, irritabilidade ou frustração conduzem a um padrão de “fome emocional”, em que o ato de comer deixa de responder às necessidades nutricionais e passa a funcionar como um mecanismo pouco adaptativo para atenuar o desconforto. Este fenómeno revela que o peso corporal não depende apenas do balanço calórico entre o que ingerimos e o que gastamos, mas também da forma como gerimos o stress e as contrariedades do dia a dia.
Quando o stress se torna crónico, o organismo produz quantidades excessivas de cortisol, hormona que favorece o armazenamento de gordura abdominal e intensifica o desejo por alimentos ricos em açúcar e gordura. Paralelamente, estados depressivos ou ansiosos reduzem a motivação para seguir um plano de exercício ou manter uma alimentação equilibrada, o que demonstra a complexidade da relação entre saúde mental e perda de peso.
FOME EMOCIONAL E AUTOSSABOTAGEM
A fome emocional, em particular, pode desencadear um ciclo vicioso: momentos de mal-estar levam ao consumo compulsivo de alimentos calóricos, seguido de sentimentos de culpa que, por sua vez, reforçam a ansiedade ou a baixa autoestima.
Além disso, a forma como cada pessoa se vê afeta fortemente o sucesso de qualquer plano de emagrecimento. Uma autoimagem negativa promove a autossabotagem, pois a pessoa tende a pôr em causa a própria capacidade de mudança, desistindo ao primeiro sinal de dificuldade. Neste ponto, abordagens terapêuticas baseadas em evidências têm mostrado resultados promissores.
POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS
A terapia cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, ajuda a identificar pensamentos automáticos negativos e a substituí-los por cognições mais adaptativas, o que se traduz numa maior probabilidade de adesão a planos alimentares e de prevenção de recaídas.
Outra estratégia relevante é o conceito de “Mindful Eating” – ou alimentação consciente –, que incentiva a prestar atenção a cada garfada, observando cores, cheiros, texturas e sabores, bem como o nível de fome física e de saciedade ao longo da refeição. Esta prática ajuda a distinguir entre a verdadeira fome e a vontade de comer motivada por algum estado emocional negativo, reduzindo a probabilidade de episódios de compulsão.
Há ainda a importância da autoaceitação e da compaixão por si mesmo(a), centrais na terapia de aceitação e compromisso (ACT): ao substituir juízos severos e a comparação com padrões irreais de beleza por uma visão mais empática das próprias limitações e conquistas, fomenta-se a resiliência e mantêm-se hábitos saudáveis a longo prazo.
You must be logged in to post a comment.