Falar sobre envelhecimento e sexualidade continua a ser um tema tabu, mas é importante abordá-lo para melhorar a qualidade de vida e promover o bem-estar físico e sexual nesta etapa da vida.

Artigo da responsabilidade do Dr. Fernando Mesquita. Psicólogo Clínico/Sexólogo

 

O envelhecimento é um processo natural que traz uma série de mudanças físicas e psicológicas, por vezes silenciosas, mas repletas de significados. Se durante a juventude a força, o vigor e o desejo sexual parecem ilimitados, com o avançar da idade surgem desafios que impactam o bem-estar emocional e a vida sexual. No caso dos homens, a produção de testosterona, que atinge o seu pico entre os 18 e os 20 anos, começa a diminuir acentuadamente a partir dos 40, levando consigo parte da energia e desejo sexual, mas isso não implica o seu fim.

Falar sobre envelhecimento e sexualidade continua a ser um tema tabu, mas é importante abordá-lo para melhorar a qualidade de vida e promover o bem-estar físico e sexual das pessoas nesta etapa da vida. Estes temas assumem particular importância numa sociedade cada vez mais envelhecida, onde os idosos representam 17,5% da população portuguesa, com aproximadamente 200 mil pessoas com 85 ou mais anos, em Portugal – quatro vezes mais do que há 40 anos!

PROCESSO DE ENVELHECIMENTO NA SEXUALIDADE MASCULINA

Assim como a maioria das pessoas reconhece que o envelhecimento é acompanhado por diversas alterações (por exemplo, cabelos brancos, rugas, diminuição do tónus muscular, alteração do equilíbrio e marcha), também é importante aceitar as mudanças na resposta sexual.

Alterações psicobiológicas, normais no processo do envelhecimento, poderão condicionar a sexualidade, mas é importante que as pessoas distingam as alterações “normais” das que podem significar problemas de saúde que necessitam de acompanhamento médico.

Com o avançar da idade, os homens podem apresentar algumas mudanças na sua sexualidade, nomeadamente:

  • Diminuição na sensibilidade no pénis, o que pode resultar numa menor capacidade de ter ou manter a ereção;
  • A capacidade para ter ereções torna-se mais lenta e há maior necessidade de estimulação direta no pénis para atingir a ereção;
  • O pénis pode não alcançar a firmeza e tamanho de antes;
  • O pénis poderá apresentar um menor ângulo quando ereto;
  • Diminuição da produção do fluído seminal (lubrificação);
  • Diminuição do volume de esperma ejaculado;
  • Possibilidade de relações sexuais satisfatórias, embora a ejaculação possa tornar-se retardada ou inexistente;
  • Orgasmos menos intensos;
  • Diminuição do tamanho e firmeza dos testículos;
  • Período de resolução mais curto (período referente à perda de ereção após ejaculação);
  • Alargamento do período refratário para 24 a 48 horas (tempo necessário para conseguir uma nova ereção após ejacular)
  • Diminuição da frequência das relações sexuais.

PRÓSTATA “FALA MAIS ALTO”

Um homem que desconheça que estas alterações são naturais com o avançar da idade pode começar a questionar sobre o que está a acontecer consigo e sentir-se inadequado, frustrado, deficiente, deprimido, ansioso e, em alguns casos, perder o prazer de viver.

Além disso, a próstata pode começar a “falar mais alto”, seja através de um aumento benigno, conhecido como hiperplasia benigna da próstata (HBP), ou pela ameaça mais temida, o cancro. Os sintomas associados a estas condições comprometem a qualidade de vida em geral, com dificuldades em urinar e aumento da frequência urinária noturna.

Os efeitos colaterais dos tratamentos, como terapias hormonais, radioterapia ou cirurgias (por exemplo, prostatectomia), também tendem a afetar a resposta sexual, aumentando os desafios para os homens nesta fase da vida.

Contudo, a presença destas situações não deve significar o fim do prazer ou da intimidade, mas sim um redescobrir da sexualidade sob uma nova perspetiva. Mais do que nunca, é importante lembrar que, com a abordagem certa e o apoio adequado, é possível superar estes desafios.

O QUE FAZER?

Reconhecer que a sexualidade vai além da performance permite lidar com as mudanças do corpo de forma mais saudável. É fundamental que os homens (e os casais) reconheçam que, com o avançar da idade, os impulsos hormonais dão lugar a um terreno mais sereno e emocional, o que não deve ser encarado como o fim da sua vida sexual, mas como uma adaptação.

Neste sentido, aceitar que a sexualidade é muito mais do que a penetração e explorar diferentes formas de intimidade pode ajudar a aliviar a pressão de que “sexo que é sexo implica um pénis ereto e penetração”.

Desconstruir estas crenças, presentes no imaginário sexual de muitas pessoas, permite que a presença de uma ereção deixe de ser vista como uma “obrigação” para que o casal possa estar intimamente.

Se a comunicação é um pilar das relações amorosas em geral, nos casais mais velhos torna-se essencial para superar alguns desafios inerentes a este período de vida. Falar abertamente sobre expetativas, desejos e dificuldades pode ser uma excelente estratégia para descobrir novas formas de obter prazer, de gerir o stress causado por todas as transformações inerentes ao envelhecimento e aprender a lidar com estas situações. Para isso, é essencial que o casal reconheça que o sexo é apenas uma parte da intimidade e valorize o tempo que estão juntos de outras formas.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2024 (nº 354)