Desde a automonitorização da glicemia até à esperança da imunoterapia na diabetes tipo 1 ou desde as soluções para o problema da obesidade até à medicina à distância, a investigação e os avanços para melhorar a qualidade de vida das pessoas com diabetes nunca pararam e continuam a dar os seus frutos.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. João Filipe Raposo, diretor clínico da APDP – Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal

 

A Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), instituição com uma experiência acumulada ao longo de quase 100 anos, soube atualizar-se na sua área de especialidade e tem hoje um modelo de integração de cuidados que serve de exemplo nacional e internacional, em relação ao acompanhamento e tratamento inovador das pessoas com diabetes.

INTEGRAÇÃO DE CUIDADOS E O MODELO DA APDP

Imagine que conseguia dizer a seguinte frase acerca dos seus cuidados de saúde: “Os meus cuidados de saúde são prestados por pessoas que trabalham em conjunto, que me compreendem e compreendem os que cuidam de mim, que me colocam no controlo, coordenando e prestando os serviços que me permitem ter os melhores resultados de saúde”.

Esta frase, adotada no Reino Unido em 2013, representa o que serão cuidados integrados de saúde na perspetiva de quem vive com uma determinada condição de saúde.

Continuamos, hoje, a discutir cuidados integrados de saúde, mas há 100 anos que o conceito existe, porque resultou de uma necessidade das pessoas que viviam com diabetes e para as quais existia um novo tratamento.

Há 96 anos, a APDP foi criada com o objetivo de prestar os melhores cuidados em diabetes e, para tal, desenhou um modelo ainda hoje considerado inovador: uma unidade integrada, multidisciplinar e que responde às necessidades das pessoas com diabetes.

DESCOBERTA DA INSULINA

A descoberta da insulina, há 100 anos, mudou a visão de sentença de morte rápida que a diabetes representava, para a possibilidade de uma vida ativa, produtiva e “normal”. Esta mudança implicou, no entanto, uma alteração daquilo que era o modelo médico. Houve necessidade de transferir para as pessoas com diabetes o controlo da sua doença, dando-lhes uma terapêutica (que tinha necessidade de ajustes permanentes) e meios para vigiar e controlar os níveis de glicose (o açúcar presente na urina ou no sangue).

A par deste conjunto de ferramentas, era preciso contabilizar os hidratos de carbono da alimentação, verificar os efeitos do exercício físico, fazer adaptações em dias de doença, etc. As pessoas com diabetes tomam centenas de decisões diárias relativamente à gestão da sua doença.

Todo este processo só é possível se existir uma equipa de saúde devidamente treinada nos cuidados em diabetes, dotada dos recursos necessários para atingir os objetivos (incluindo a capacidade de ensinar) e com um processo de cuidados devidamente adaptado a esta função.

Quase 100 anos depois, a APDP é cada vez mais um modelo exemplar de cuidados em diabetes.

Leia também os textos do Dr. Bruno Almeida, adjunto do diretor clínico da APDP, Dra. Raquel Coelho, médica pediatra da APDP, Dra. Carolina Neves, médica endocrinologista da APDP, e Dra. Rita Nortadas, especialista de Medicina Interna na APDP, na edição de maio 2022 (nº 327)