A aplicação da inteligência artificial na diabetes introduzirá uma mudança de paradigma no tratamento, nas estratégias convencionais de autogestão e qualidade dos cuidados de saúde.

Artigo da responsabilidade da Enfª Ana Cristina Almeida Santos Oliveira. Enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstétrica, na Unidade Local Dão Lafões Viseu, EPE. Mestre em Toxicodependências e Doenças Psicossociais. Pós-Graduação em Gestão e Administração de Serviços de Saúde e pós-graduação em Cuidados Paliativos e Fim de Vida. Sócia da www.girohc.pt

 

A diabetes é uma condição crónica grave associada a complicações difusas e a um risco acrescido de morte prematura, impondo uma enorme pressão financeira nos sistemas de saúde e economias nacionais. Em 2021, a 10th edition of the IDF Diabetes Atlas relata um aumento global contínuo na prevalência da diabetes, tornando-se esta patologia um desafio significativo para a saúde e o bem-estar das pessoas, famílias e sociedade.

Em Portugal, em 2021, existiam cerca de 2,7 milhões de portugueses com diabetes ou em risco de desenvolver esta patologia. Sendo a diabetes responsável, ainda neste ano, por 6,7 milhões de mortes devido a complicações agudas – ou seja, cetoacidose diabética, coma hiperosmolar e hipoglicemia grave – e insuficiência renal precoce.

COMPLICAÇÕES PREVENÍVEIS

Estas complicações podem ser prevenidas através de um conjunto mínimo de ações centrais, que incluem o acesso a cuidados de saúde – incluindo monitorização da glicose e serviços prontamente disponíveis para descompensação aguda – e literacia em saúde, incluindo o diagnóstico precoce de diabetes mellitus tipo 1 e cetoacidose.

Desde que os cuidados de saúde em países de elevado rendimento provaram ser eficazes na redução da mortalidade devido a estas complicações, é razoável supor que reduções importantes poderiam ser vistas a nível global se fossem prestados melhores cuidados, incluindo maior acessibilidade aos cuidados de saúde, de forma mais generalizada (Global Burden of Disease 2019, Diabetes Mortality Collaborators, 2022).

As Nações Unidas (2021) salientam ainda que a diabetes é a única das doenças crónicas cujo risco de morte precoce tem aumentado. Pelo que lançou um novo Pacto Global de Combate à Diabetes, com o objetivo de melhorar as ações de prevenção, diagnóstico e tratamento, bem como aumentar as ações e compromissos para criação de medicamentos mais baratos.

AVANÇOS RECENTES

Os avanços recentes na investigação e na produção das tecnologias têm vindo a alterar a prestação de cuidados em várias áreas terapêuticas e no percurso dos doentes desde a fase de prevenção até ao tratamento, em que se pretende que o mais importante seja a evolução das condições dos doentes e a obtenção de qualidade de vida.

A Inteligência Artificial (IA) é uma das tecnologias que está a ser cada vez mais adotada na área da saúde, suscitando um crescente interesse e pesquisa por especialistas, investigadores e profissionais de saúde.

Como qualquer tecnologia poderosa, a IA tem inúmeros benefícios e riscos potenciais; no entanto, assume uma enorme importância, uma vez que tem o potencial de transformar diagnósticos, tratamentos e gestão de cuidados de saúde (Ellahham, 2020).

É uma tecnologia que permite que computadores e máquinas simulem a inteligência humana e as capacidades de resolução de problemas (Cabanelas, 2019). Abrange a Aprendizagem de Máquina e Aprendizagem Profunda, que são usadas para construir algoritmos capazes de apoiar modelos preditivos do risco de desenvolver diabetes ou as suas complicações.

VANTAGENS DA IA

De acordo com Júnior (2024), algumas formas pelas quais a IA pode ser vantajosa na diabetes são:

  • Diagnóstico precoce e prevenção de complicações

Algoritmos de IA podem analisar grandes conjuntos de dados, registos de monitorização de glicose (MCG), para identificar padrões que possam indicar o desenvolvimento da diabetes ou complicações associadas. Permite, desta forma, intervenções mais precoces para prevenir complicações graves.

  • Personalização do tratamento

A IA pode ajudar a personalizar o tratamento da diabetes com base nas características de cada doente (idade, género, perfil genético, padrões de atividade física e resposta à medicação). Pode ainda estabelecer planos de tratamento mais eficazes e reduzir o risco de complicações.

  • Monitorização contínua da glicose e automação de insulina

A utilização de dispositivos de monitorização contínua de glicose (MCG) e sistemas de bomba de insulina automatizados estão a tornar-se mais comuns. Algoritmos de IA podem ser usados para interpretar os dados do MCG em tempo real e ajustar automaticamente as doses de insulina, proporcionando um controle glicémico mais estável e reduzindo a carga de autogestão para os doentes.

  • Aconselhamento e apoio ao doente

Chatbots e assistentes virtuais baseados em IA podem fornecer ajuda aos doentes com diabetes, esclarecendo dúvidas, oferecendo lembretes para medicação e estilo de vida saudável, e até mesmo fornecer apoio emocional.

  • Pesquisa e descoberta de novos tratamentos

A IA pode ser usada para analisar grandes quantidades de dados de ensaios clínicos e literatura médica, para identificar alvos terapêuticos, entender melhor os mecanismos subjacentes à diabetes e desenvolver novos tratamentos mais eficazes.

Leia o artigo completo na edição de maio 2024 (nº 349)