Nestes tempos de crise, o segredo é reutilizar e reciclar. No seu mais recente livro, escrito a convite da UNESCO, o nutricionista Alexandre Fernandes ensina a não deitar fora o que lhe faz bem, poupando dinheiro e energia, reaproveitando sobras de forma imaginativa e evitando ao máximo o desperdício.

Aquele que é, por muitos, considerado um dos mais destacados nutricionistas da atualidade, Alexandre Fernandes, acaba de lançar o seu 13º livro, “Desperdício Zero na Cozinha” (Planeta), e fê-lo por iniciativa da UNESCO. “O convite da UNESCO surgiu no âmbito das comemorações do Ano Internacional dos Solos e a proposta era a de elaborar uma obra que abordasse a temática da sustentabilidade alimentar, tendo como objetivo a preservação dos solos, bem como a erradicação da fome no Mundo”, refere o autor. “Foi um reconhecimento do meu trabalho por parte desta instituição internacional, que muito me honra”.

MUDAR AS MENTALIDADES

“Pretendo ensinar e demonstrar aos leitores que quase todas as partes dos alimentos podem ser comestíveis. E comprovo isso mesmo, através das inúmeras e saborosas receitas descritas neste livro”, explica Alexandre Fernandes. “A menos que essa parte do alimento esteja estragada ou com mau aspeto, tudo é comestível, incluindo folhas, flores, talos, cascas e sementes”.

Alexandre Fernandes acredita que este livro pode ajudar a mudar as mentalidades, ultrapassando preconceitos e desconhecimento. “O conselho que dou é para as pessoas colocarem os preconceitos de lado e inovarem as refeições do seu dia-a-dia com a confeção destas receitas, pois são deliciosas, simples e económicas”.

Questionado sobre o sabor de alguns destes ingredientes, nomeadamente dos talos e das cascas, e se estas opções não convencionais agradarão à maioria das pessoas, o nutricionista afirma que “é uma questão de hábito, até porque o sabor não é assim tão diferente”. E dá um exemplo: “O sabor das folhas e dos talos do agrião pouco difere. Podemos comer uma sopa com os talos e fazer das folhas uma salada, pois o sabor do agrião é praticamente o mesmo”.

DESPERDIÇAMOS AS PARTES MAIS NUTRITIVAS

Segundo o nutricionista, muito daquilo que deitamos para o lixo são, na verdade, as partes mais nutritivas dos alimentos, onde se concentram grandes quantidades de vitaminas, sais minerais, fibras e outros nutrientes. E justifica esta atitude de desperdício pelo aumento do poder económico das famílias e pelo desconhecimento sobre como utilizar todas as partes comestíveis. “Esquecemo-nos que, antigamente, as nossas avós utilizavam os alimentos integralmente, para enriquecerem a sua alimentação”, afirma.Nutricao 2b

Alexandre Fernandes não crê que seja difícil praticar uma alimentação saudável, a qual deve ser encarada como um estilo de vida, que vai beneficiar, e muito, o organismo. “A alimentação que praticamos em Portugal é de estilo mediterrânico, que é considerada como uma das melhores dietas do mundo, razão pela qual foi classificada como Património Mundial pela UNESCO”, recorda. “Quando posta em prática, a Dieta Mediterrânica reflete-se na saúde das populações: diminui o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e de alguns tipos de cancro, entre outras”.

ESTRATÉGIAS PARA MUDAR OS HÁBITOS DOS PORTUGUESES

Para mudar os hábitos alimentares a nível nacional, o nutricionista defende a necessidade de agir em duas direções. “Primeiro, a nível infantil, começando por incentivar bons hábitos alimentares desde a infância. Para isso, seria necessário contratar nutricionistas para as escolas, de forma a cuidarem da alimentação nas cantinas, darem ações de formação aos funcionários e alunos, entre outras possíveis campanhas de sensibilização”. Ao nível da população adulta, Alexandre Fernandes aponta a necessidade de “rastreios, campanhas de sensibilização e contratação de mais nutricionistas para os centros de saúde e hospitais públicos”.

DESTAQUE

Diga não ao desperdício!

Estima-se que 89 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçados todos os anos na União Europeia. E são nas casas particulares e nas compras “grandes” que mais se desperdiçam os alimentos, porque compra-se ou confeciona-se mais do que o necessário.

A alimentação é uma das maiores preocupações do nosso dia-a-dia. Comprar os alimentos e prepará-los de maneira adequada torna-se cada vez mais importante, diante das dificuldades económicas presentes.

Por isso, um dos hábitos que devemos interiorizar no quotidiano é reaproveitar integralmente todas as partes dos alimentos, para evitar o desperdício. E isso significa aproveitar tudo o que for possível dos alimentos e nunca deitar fora o que nos pode servir como fonte de nutrientes ou ajudar-nos a alcançar uma alimentação mais equilibrada e saudável.

Evitando o desperdício, os gastos com a alimentação certamente que podem ser reduzidos. Não atire ao lixo as partes dos alimentos que podem ajudar a ter uma refeição mais completa, com tudo o que é necessário para o crescimento e a manutenção do organismo.

Este livro, “Desperdício Zero na Cozinha”, tem como objetivo apresentar algumas das muitíssimas receitas que previnem o desperdício alimentar, ajudando a poupar dinheiro e a proteger o meio ambiente.

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Sobre o autor

Alexandre Fernandes é licenciado em Nutrição e Engenharia Alimentar (2002) e em Ciências da Nutrição (2010). Realizou várias pós-graduações em diferentes áreas ligadas à Saúde e Nutrição.

Presença habitual nos meios de comunicação social, tem sido convidado, ao longo dos últimos anos, a participar em numerosos programas de rádio e televisão. A sua colaboração estende-se a jornais e revistas.

A par da sua atividade clínica, é autor de vários livros sobre saúde e nutrição: “Cascas,Talos, Folhas e Outros Tesouros Nutricionais”, (Planeta, 2012), que foi um êxito, com várias edições em Portugal, publicado também em Espanha; e “Emagrecer sem Sacrifícios” (Planeta, 2013) e “Dieta do Chocolate” (Planeta, 2015).

Para mais informações consulte o site do autor: www.bemnutrir.com

Artigo publicado na Edição de Dezembro 2015 (nº 256)