Cerca de 40% das crianças com menos de 7 anos já sofreram, pelo menos, uma dor de cabeça. Embora não costume ser um sintoma grave, é sempre motivo de preocupação para os pais.
Na infância, a dor de cabeça reveste-se de diferentes formas. Entre as principais, podemos mencionar a enxaqueca, que é a mais frequente; a dor de cabeça relacionada com a afetação dos músculos do crânio, do pescoço ou dos seios nasais; e a relacionada com outras situações do organismo.
A enxaqueca observa-se frequentemente em crianças, sobretudo a partir dos 6 anos. Chega a afetar 1% de toda a população infantil, entre os 7 e os 14 anos de idade. Em 5 a 9% dos casos, existem antecedentes familiares.
QUAL A CAUSA?
Embora as crianças afetadas pelos ataques de enxaqueca sejam em tudo iguais aos seus companheiros, constatou-se que, geralmente, são mais perfecionistas e estudiosas.
O fator desencadeante da crise de enxaqueca na infância pode ser um impacto emocional momentâneo: por exemplo, uma contrariedade. Por vezes, também tem a sua origem numa sensação ou situação desagradável. Finalmente, a enxaqueca pode surgir sem qualquer motivo aparente.
Alguns alimentos são considerados desencadeantes do ataque. Entre eles, salientam-se as conservas, os queijos e o chocolate, embora não seja possível estabelecer uma clara relação causa-efeito, em todos os casos.
Dilatação vascular
As células cerebrais não sentem a dor, mas interpretam-na. Ligadas às células cerebrais, estão as artérias e as veias, cujas paredes podem gerar dor, ao apresentarem vasoconstrição, numa primeira fase, e vasodilatação, na fase seguinte da enxaqueca.
Tal como nos adultos, o período de vasoconstrição vascular é acompanhado de perturbações visuais, sob a forma de visão nublada ou visão de luzes e “flashs”. Esta fase pode durar entre 15 e 20 minutos, aproximadamente.
A fase de vasodilatação é aquela em que ocorre a dor de cabeça, que pode ser acompanhada de palidez, náuseas, vómitos e sensação de instabilidade. Muitas vezes, a dor afeta mais uma metade da cabeça do que a outra e pode doer, também, o globo ocular do lado afetado. Este segundo período de dor pode durar horas.
O principal tratamento da enxaqueca, na infância, é a aspirina. É importante administrar o tratamento logo após a aparição dos primeiros sintomas, porque, deste modo, encurta-se a duração da dor.
As crianças, ao contrário dos adultos, podem não saber explicar os sintomas e isso conduz, frequentemente, a um atraso ou uma ausência de tratamento, em situações em que o uso de um fármaco seria recomendável.
Dor de origem muscular
Outro tipo de dor de cabeça frequente na infância é a chamada dor de origem muscular ou sinusal. O músculo parietal – músculo liso situado na parte lateral da cabeça – contrai-se anormalmente, doendo muito ao ser pressionado ou palpado pelos dedos.
Este tipo de dor pode originar-se, também, nos músculos do pescoço, sobretudo os que se inserem na parte posterior da cabeça, ao nível do osso occipital.
Tal como no caso da enxaqueca, o tratamento da dor de cabeça de origem muscular baseia-se nos analgésicos, como a aspirina ou o paracetamol. Uma massagem nas zonas afetadas também pode contribuir para a melhoria dos sintomas.
Sinusite
As infeções nos seios nasais podem ser a origem das cefaleias infantis. Sendo cavidades dos ossos do crânio, atuam como caixa de ressonância para a nossa voz. Os seios nasais estão revestidos por mucosa e, consequentemente, todos os fenómenos inflamatórios que se produzem nas fossas nasais afetam-nos também a eles. A inflamação dessa mucosa, denominada sinusite, é uma causa relativamente frequente de dor de cabeça.
O tratamento da sinusite efetua-se com antibióticos, para além de mucolíticos e analgésicos.
Outros fatores
Outro fator desencadeante da dor de cabeça infantil é a hipoglicemia do jejum. As crianças têm reservas muito limitadas de glucose, ao ponto de ficarem quase esgotadas após umas seis horas de jejum. Assim, é muito comum as crianças sentirem dores de cabeça quando têm fome; para ultrapassar estas crises, basta ingerir alimentos ricos em hidratos de carbono.
A febre pode, igualmente, ser responsável pelas cefaleias. De facto, dir-se-ia que a dor de cabeça pode seguir a febre, como a sombra segue o corpo.
No plano afetivo ou emocional, uma tensão relacionada com os estudos ou com diferentes conflitos familiares, como as discussões entre os pais ou os ciúmes entre os irmãos, conduzem, por vezes, a crises de dor de cabeça.
Por outro lado, as perturbações digestivas são, com muita frequência, acompanhadas de cefaleias. Por vezes, também se apresentam em situações de obstipação.
A vista pode ser outro motivo de aparição da dor de cabeça. Pode acontecer devido a um defeito de refração – miopia, hipermetropia, astigmatismo – ou pela falta de equilíbrio entre os músculos que dirigem o globo ocular – o chamado estrabismo. Embora teoricamente possíveis, estas causas são, de facto, muito raras. Não obstante, existe a crença generalizada de que a dor de cabeça de origem ocular é muito frequente. Esta atitude tem um claro benefício: quando as crianças têm dores de cabeça, os pais levam-nas ao oftalmologista, com o que este especialista consegue detetar perturbações visuais que, de outro modo, poderiam passar despercebidas.
A depressão ou as perturbações de adaptação também podem causar cefaleias aos nossos filhos. Nestes casos, as dores de cabeça são vagas e não causam um mal-estar muito agudo. Por vezes, são acompanhadas de queixas como enjoo ou visão nublada. Para o pediatra, nem sempre é fácil determinar a natureza real destas manifestações.
Quando se constata que as dores são derivadas da depressão, o tratamento pode passar pelo apoio psicológico à família e à criança. Nalguns casos, pode ser necessário um tratamento psicológico de maior duração.
Leia o artigo completo na edição de outubro 2025 (nº 364)













