Asma: uma companheira incómoda, mas comum a muitas crianças. Conhecer e aprender a controlar a doença é fundamental.

A asma é uma perturbação crónica: os brônquios encontram-se inflamados e, em consequência disso, parcialmente obstruídos. Também são mais sensíveis e irritam-se facilmente perante estímulos como alergénios do meio ambiente, fumo do tabaco, poluição atmosférica, certos produtos de limpeza, mudanças bruscas de temperatura, alguns medicamentos, constipações ou situações de cansaço físico ou, inclusive, de stress.

Rotina cuidadosa

São 8 horas da manhã. É quarta-feira, dia de escola e o Pedro – que tem 6 anos – aguarda um pequeno-almoço peculiar: torradas com creme de amêndoas e sumo de laranja. Não há leite com cacau, porque não pode ingeri-los. Embora a asma possa ter ou não uma origem alérgica, uma proporção significativa destas crianças apresentam alergia a uma ou várias substâncias: alimentos, ácaros do pó, fungos, epitélio de animais, pólen, etc..

Antes do pequeno-almoço, o Pedro dedica uns minutos a cuidar de si. O médico pediu-lhe que fizesse um “diário da asma” e é o momento de verificar como andam os seus pulmões. O jovem inspira todo o ar que é capaz e, em seguida, sopra fortemente na boquilha do Peak Flow, um dispositivo que permite saber se os brônquios se encontram em situação de normalidade ou, pelo contrário, se existe risco de surgir uma crise asmática. Fá-lo três vezes e, depois, a sua mãe anota o valor mais alto num diagrama. O Pedro tem de repetir a mesma operação, durante 15 dias, ao levantar e ao deitar, após o que mostrará os resultados ao médico, para este avaliar se a sua asma está a evoluir bem ou se é necessário reajustar o tratamento.

Depois do pequeno-almoço, o Pedro toma a sua medicação, guarda o inalador na mochila, juntamente com o lanche e sai para a escola.

Crianças mais responsáveis

Os pais de crianças asmáticas sabem que os seus filhos podem fazer as mesmas coisas que os seus colegas de escola. Mas também que a sua vida tem de passar, forçosamente, pelo conhecimento da sua perturbação. O Pedro sabe usar a pequena bomba do broncodilatador desde que tinha 3 anos. Quando foi para a escola pela primeira vez, enquanto a mãe explicava o seu problema à professora, ele mostrava, com incrível destreza, o manuseamento do dispositivo que, desde então, leva-o sempre na mochila, para fazer face a uma eventual crise.

Atualmente, quando lhe perguntam o que sabe sobre a sua asma, o Pedro responde, entre o resignado e o importante, que “tem de ter cuidado consigo”, que “não pode brincar com o gato dos vizinhos”, que “o que mais o incomoda são os apitos no peito”, que “é muito bom na bicicleta”…

Medidas domésticas

No quarto de uma criança asmática, não deve haver cortinados, tapetes, peluches, móveis de palhinha ou estantes, onde se acumulem montes de objetos e, portanto, montes de pó. O ideal seria alargar este princípio ao resto da casa.

Para combater os ácaros do pó doméstico – dos piores inimigos dos brônquios –, os travesseiros e os colchões devem colocar-se dentro de revestimentos especiais impermeáveis aos ácaros; não devem ser usados cobertores de lã ou mantas; a roupa da cama deve ser lavada todas as semanas, a uma temperatura suficientemente alta – uns 60º C; o pó dos móveis deve ser limpo com um pano húmido e o do chão com aspiradores; finalmente, são muito eficazes os purificadores e/ou esterilizadores de ar.

O sol também é eficaz: o quarto da criança deve ficar no lado mais solarengo da casa e ser ventilado com frequência.

Em casa do Pedro, ninguém fuma: ele deve respirar um ar livre de substâncias irritantes, especialmente na sua própria casa. Comprovou-se que os asmáticos que se encontram expostos ao fumo do tabaco, no trabalho ou em suas casas, veem a respetiva função pulmonar mais reduzida, costumam necessitar de medicação com maior frequência e faltam mais dias ao trabalho ou à escola, do que os asmáticos não expostos.

Aprender a ser autónomo

Uma asma mal controlada pode transformar-se numa séria limitação para uma criança. Por culpa de uma crise, o Pedro perdeu a visita à quinta pedagógica. Não só lhe doía o peito, como também teve de suportar a tristeza e a desilusão.

O medo de uma nova crise existe e apenas se cura com uma boa prevenção e controlo, aspetos indispensáveis para que a criança se sinta segura.

O ideal são os cursos de autocontrolo da asma, ferramenta fundamental para conseguir a autonomia e evitar a sobreproteção. Neste âmbito, algumas associações promovem acampamentos de verão, cujo objetivo é formar para a integração. Concebidos não como solução para as férias das crianças asmáticas, mas sim com o fim de que, em ocasiões posteriores, as crianças possam participar neste tipo de atividades com companheiros não asmáticos. Para isso, ensina-se-lhes a prevenir as crises, a detetá-las e a controlá-las. Desde que saibam como atuar, as crianças ganham confiança e perdem o medo.

Leia o artigo completo na edição de março 2022 (nº 325)