As doenças oculares são muito comuns e, frequentemente, não são tratadas. Globalmente, pelo menos, 2,2 mil milhões de pessoas têm deficiência visual, das quais pelo menos 1 milhar de milhões tem uma deficiência visual que poderia ter sido evitada ou não foi tratada1.
Artigo da responsabilidade da Dr.ª Ana Magriço. Médica oftalmologista. Secretária-Geral da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia
As pessoas devem ir ao oftalmologista regularmente, mas nem sempre o fazem porque se sentem bem. É importante alertar que a sensação de uma boa visão não é sinónimo de ter uma boa saúde ocular.
Apesar de os portugueses se preocuparem com a saúde dos seus olhos, nem sempre cumprem as avaliações recomendadas para garantir uma boa saúde ocular.
É verdade que o acesso à saúde pode ser difícil, que o SNS nem sempre consegue dar a resposta desejável, que poderia ser reforçado o papel das associações e eventualmente do sector privado… Mas é muito importante salientar o papel da informação de qualidade que a comunidade médica deve proporcionar, nomeadamente com campanhas abrangentes sobre a calendarização adequada das consultas de rotina e divulgação de sinais de alarme, para que o doente possa ser um dos agentes ativos no processo de prevenção e procura de ajuda especializada, consultando regularmente o seu médico oftalmologista.
Falando das crianças
Sabemos que a maioria das vezes, a criança que vê mal não se apercebe disso, uma vez que sempre viu dessa forma. Apenas quando começa a conseguir comparar-se com os pares, ou tapa um olho por acaso e percebe que vê menos de um deles, é que pede ajuda. Mas, nessa altura, pode ser tarde demais.
Se não for diagnosticada precocemente, a necessidade do uso de óculos pode provocar ambliopia, vulgarmente conhecida por “olho preguiçoso”, ainda muito prevalente e que o tratamento pode exigir a utilização de óculos, a privação do olho “bom” ( com os conhecidos pensos oculares) para estimular o desenvolvimento do olho que vê pior…tratamentos às vezes difíceis de tolerar e que têm uma tempo limitado para serem eficazes… até cerca dos 7-10 anos.
Neste sentido, é aconselhado que os pais e educadores estejam atentos. Existem pequenos testes simples que devem ser feitos repetidamente à criança e podem ajudar a identificar possíveis sinais de falta de visão, tais como tapar um olho de cada vez e ver se a criança fica tranquila, ou se já for capaz de distinguir objetos, testar se consegue ver o avião no céu, se escreve bem, se não tropeça demasiado…
Saber identificar sinais de alarme como estrabismo (entortar o olho de forma consistente após os 6 meses) e leucocória (um dos reflexos vermelhos do olho ser branco, quando são tiradas fotografias com flash).
Quando não existem sinais de alarme, os pais devem levar a criança à primeira consulta de oftalmologia por volta dos três anos e, a partir daí, de dois em dois anos ou de acordo com as orientações do médico oftalmologista.
Agora pensando nos adultos.
A retinopatia diabética é outro flagelo. Sabemos que vai atingir, ao longo da vida, cerca de 98% dos diabéticos tipo 1 e 50% dos diabéticos tipo 2. Resulta da destruição dos vasos que alimentam as células responsáveis pela visão – a retina. Para preveni-la é preciso manter um controlo adequado dos níveis de açúcar no sangue e para a diagnosticar é fundamental que todos os diabéticos sejam observados anualmente pelo seu médico oftalmologista ou sejam inseridos num programa de rastreio, onde é obtida uma fotografia do olho e enviada para ser avaliada em centros de referência oftalmológicos.
É necessária uma união de esforços entre o médico de família, o endocrinologista, o oftalmologista e, acima de tudo, o doente, que deverá ser acompanhado para aprender a otimizar o controlo metabólico e o controlo dos fatores de risco cardiovasculares (tensão arterial, colesterol, tabagismo, entre outros).
Ainda observamos demasiados doentes com retinopatia diabética em estados muito avançados, nos quais a recuperação visual é muito difícil, ou mesmo impossível, e que implica inúmeros tratamentos (laser, injeções dentro do olho, cirurgias, etc.) que podiam ser evitados com o diagnóstico atempado.
A partir dos 60 anos, é também importante estar atento aos sinais e sintomas da degenerescência macular da idade (DMI) – uma das principais doenças associadas à idade que, numa fase avançada, pode causar perda de visão muito importante.
Segundo dados da PORDATA para a população portuguesa, estima-se que cerca de 400 mil pessoas sofrem de DMI. O doente começa a ver as coisas desfocadas ou distorcidas na zona central da visão e é importante procurar ajuda de um médico oftalmologista o mais cedo possível dado que a instituição precoce do tratamento é fundamental para manter a visão. Para prevenir é fundamental não fumar e cumprir uma boa dieta mediterrânica.
Mais de 80% dos casos de cegueira têm como causa uma doença tratável, quando diagnosticada e tratada atempadamente. Outro exemplo é o glaucoma é uma das primeiras causas de cegueira evitável em todo o mundo.
O glaucoma provoca a morte acelerada das células do nervo ótico e inicialmente não apresenta sintomas porque vai comprometendo a visão periférica, pode provocar quedas por embates em objetos que não aparecem no campo de visão.. é conhecido como o “ladrão silencioso da visão” sendo diagnosticado apenas em consulta com um médico oftalmologista, que avalia as alterações suspeitas do nervo ótico, do olho e a pressão intraocular.
A catarata é outra doença muito prevalente acima dos 70 anos, que provoca diminuição da acuidade visual inicialmente ao longe e que se diagnosticada atempadamente, com uma cirurgia, pode ser completamente reversível.
No que diz respeito à saúde dos nossos olhos, cada dia conta e só conseguimos tratar se diagnosticarmos atempadamente. Além de consultar um médico oftalmologista com regularidade, é importante proteger a visão das agressões externas e evitar comportamentos de risco como a exposição solar sem a proteção adequada, coçar os olhos, fumar ou não utilizar equipamentos de proteção para os olhos em atividades de alto risco (bricolage em casa ou no trabalho, soldar…).
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