No mês em que o mundo se une na sensibilização para a saúde masculina, Movember coloca no centro das atenções o cancro da próstata, que continua a ser um dos maiores desafios para a saúde do homem, quer a nível nacional, quer internacional. As estimativas apontam para cerca de 1,5 milhões de novos casos anuais, em todo o mundo, e os dados mais recentes da American Cancer Society – em colaboração com a International Agency for Research on Cancer (IARC) – indicam que este é o tumor mais frequente em homens, em pelo menos 118 países.
Portugal segue as tendências globais e, em 2022, os casos de cancro da próstata representaram quase 20% de todos os novos casos oncológicos, em homens. Em 2025, as projeções do IARC apontam para o diagnóstico de 7720 novos casos de cancro da próstata no nosso País, mais 2,5% do que os 7529 registados em 2022. Apesar da elevada incidência, a mortalidade tem vindo a diminuir, refletindo avanços significativos no diagnóstico precoce e nas opções terapêuticas.
Naturalmente, os desenvolvimentos tecnológicos na área da cirurgia têm vindo a redefinir o prognóstico e a experiência dos doentes. Por isso, a cirurgia robótica está a transformar o tratamento do cancro da próstata em Portugal, tornando-se a técnica cirúrgica de referência, pelos seus resultados clínicos e pela sua capacidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Dr. José Teixeira de Sousa, assistente hospitalar graduado da ULS São João e Urologista no Hospital da Luz – Arrábida, salienta que “a cirurgia robótica da próstata é indicada para pacientes com carcinoma da próstata localizado (T1–T2, risco baixo a intermédio ou alto selecionado) e expectativa de vida superior a 10 anos. A decisão final deve basear-se numa avaliação individualizada – PSA, biópsia, imagem, risco de D’Amico – nas preferências do doente e na opinião da equipa multidisciplinar”.
De acordo com o especialista, “a cirurgia robótica permitiu uma grande evolução no tratamento do cancro da próstata. Desde a chegada do sistema robótico da Vinci a Portugal, em 2010, estas intervenções são mais precisas, seguras e menos invasivas, o que implica internamentos hospitalares mais curtos e uma recuperação mais rápida do paciente”.
O especialista acrescenta que “esta cirurgia robótica apresenta várias vantagens técnicas. Em primeiro lugar, permite uma visualização 3D de alta definição do campo cirúrgico, que pode ser aumentada até dez vezes, o que melhora a identificação precisa de estruturas anatómicas e vasos. A integração de instrumentos articulados, que replicam os movimentos da mão humana, facilitam a intervenção em espaços confinados e a realização de suturas e reconstruções complexas, o que é bastante útil em anastomoses, cirurgias reconstrutivas delicadas e permite disseções mais rigorosas, com maior precisão e margens de resseção mais seguras”.
Esta precisão técnica traduz-se em benefícios clínicos muito relevantes para os pacientes: menor perda de sangue, melhor preservação das estruturas teciduais, menos dor, internamentos mais curtos e uma recuperação funcional acelerada.
A experiência do doente é, igualmente, melhorada. “A maioria dos pacientes tem alta entre 24 a 72 horas após a cirurgia, e regista uma recuperação progressiva da continência urinária e da função sexual, dependendo da idade e da preservação nervosa”, explica o especialista. Estes resultados funcionais são particularmente relevantes na qualidade de vida dos doentes, após a intervenção.
Democratização e sustentabilidade: cirurgia mais acessível a todos
“Desde a sua introdução em Portugal, este sistema tem permitido uma evolução significativa na abordagem cirúrgica à urologia oncológica, através da criação de programas de formação, treino, simulação e equipas especializadas, reforçando a segurança e a expansão da prática robótica a todo o País”, sublinha o Dr. Teixeira de Sousa.
Nos últimos anos, a expansão desta tecnologia tem sido exponencial nos hospitais portugueses. O que antes era exclusivo de alguns hospitais pioneiros, hoje faz parte da prática clínica habitual. Há uma tendência crescente de adoção da cirurgia robótica nos centros hospitalares nacionais, com dos sistemas instalados no SNS, enquanto os restantes 50% operam em centros hospitalares privados.
Teixeira de Sousa considera que “a cirurgia robótica pode aumentar a sustentabilidade do sistema de saúde se for implementada de forma organizada, com volume adequado e boa gestão clínica, tendo em conta que estes procedimentos cirúrgicos implicam menos complicações e readmissões e, por isso, reduzem custos hospitalares. Como os internamentos são mais curtos, também contribui para libertar camas e diminuir despesas, por caso. Para além disso, a melhor recuperação funcional dos pacientes reduz necessidade de terapias prolongadas e custos de reabilitação”.
Vergonha e medo condicionam prevenção
A sensibilização e a prevenção são fatores chave para aumentar o sucesso no combate ao cancro da próstata. Contudo, a desinformação e o estigma levam muitos homens a adiar consultas por vergonha ou medo. A mensagem que Teixeira de Sousa gostaria de passar aos homens portugueses é muito simples: “uma próstata saudável pode garantir mais anos de vida. Aos 50 anos – ou mesmo 45, se houver histórico familiar ou maior risco – é essencial fazer uma avaliação médica, sem vergonha nem receios”.
O diagnóstico precoce do cancro da próstata permite tratamentos menos agressivos e melhores resultados funcionais. O especialista relembra a importância de os homens se informarem, fazerem exames quando indicados e cuidarem da saúde física e mental. A combinação da prevenção e do acesso a tecnologia avançada faz a diferença nos resultados a longo prazo.














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