Quanto mais se souber sobre o cancro do rim, sobre a urgência de diagnosticar precocemente, mais alerta estarão os portugueses para a importância de fazer exames de rotina e de pedir ao seu médico de família que inclua nesses exames a realização de uma ecografia abdominal.
Artigo da responsabilidade do Prof. Fernando Calais da Silva, Chairman no Grupo Português de Génito-Urinário
Todo os anos, um milhar de portugueses recebe um diagnóstico tão assustador como inesperado: cancro de rim. Assustador pela própria palavra cancro. Inesperado porque este é um tipo de carcinoma que não tem sintomas, sendo, na maior parte das vezes, descoberto por acaso, na realização de uma ecografia abdominal motivada por outras queixas.
Na minha carreira médica, pude testemunhar como a notícia de um cancro desperta nos doentes um novo tipo de relação com o tempo. O tempo – com a família e amigos, para fazer o que mais se gosta, para desfrutar da companhia de quem é mais querido – adquire um valor inestimável. Enquanto chairman do Grupo Português de Génito-Urinário e clínico, gostaria que esse valor aumentado do tempo se verificasse também no sentido da urgência em rastrear e detetar carcinomas normalmente discretos, como é o caso do cancro do rim.
Ninguém está imune
O cancro do rim representa 2 a 3% dos tumores malignos no nosso país, estimando-se que cause 200 mortes todos os anos. Embora possa aparecer em qualquer idade, são as pessoas acima dos 50 anos as mais afetadas e mais homens que mulheres. Como em qualquer tipo de tumor, há fatores de risco: além do género e idade, o tabaco, a obesidade ou o consumo crónico de fármacos. Ou seja, pela percentagem pequena de casos no global dos tipos de cancro, podemos todos ser tentados a pensar que não nos atinge. Mas, pelos números da sua epidemiologia, percebemos que ninguém está imune.
É que, sendo mais raro do que outros tipos de tumores, como o da próstata, são detetados em Portugal mil novos casos de cancro do rim, todos os anos. Estes são apenas aqueles que são detetados, porque se não for “apanhado” através da Imagiologia – por exemplo, numa ecografia de rotina –, este tumor passa completamente despercebido. Isto acontece porque, na sua fase inicial, o cancro do rim não apresenta quaisquer sintomas. É apenas quando já está em fases muito avançadas e difíceis de tratar, com metástases, que surge a tríade sintomática: o aparecimento de sangue na urina, dores lombares e uma massa que se sente na palpação. Uma fase que, atualmente e felizmente, dificilmente se atinge sem conhecimento da doença.
Deteção precoce melhora o prognóstico
Hoje, pelas razões que referimos acima de acesso a meios de diagnóstico complementares, nomeadamente de Imagiologia, nos centros urbanos já há algum sucesso na deteção precoce da neoplasia do rim. Nos locais mais rurais, do interior, no entanto, a maior dificuldade de acesso aos cuidados faz com que o diagnóstico também se atrase mais.
E se, felizmente, está a aumentar gradualmente o número de tumores detetados mais precocemente, é importante alertar que, mesmo nestes casos de deteção mais atempada, podem aparecer metástases dali a 1, 2, 10 ou 15 anos. É algo que tentamos prevenir na gestão dos nossos doentes, fazendo análises que nos permitem classificar um tumor como tendo risco alto, baixo ou intermédio, nomeadamente de haver um desenvolvimento futuro.
E como é o caso de muitos outros tipos de cancro, quando o carcinoma do rim é detetado de forma precoce, as opções de tratamento aumentam e têm também uma eficácia e perfil de segurança aumentados.
Leia o artigo completo na edição de janeiro 2020 (nº 301)
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