O cancro da próstata é uma das neoplasias mais comuns nos homens, particularmente a partir dos 50 anos. Em Portugal, representa a principal causa de cancro nos homens e uma das maiores causas de morte por doença oncológica. No entanto, o diagnóstico precoce, aliado a tecnologias cada vez mais avançadas e a abordagens terapêuticas personalizadas, tem melhorado significativamente o prognóstico e a qualidade de vida dos doentes.
Artigo da responsabilidade do Dr. Pedro Nogueira da Silva. Urologista dos Hospitais Trofa Saúde Gaia e Boa Nova
Detetar o cancro da próstata numa fase precoce permite intervir antes da disseminação da doença, com taxas de cura superiores a 90% nos estadios iniciais. A determinação sanguínea do valor do antigénio específico da próstata (PSA) é fundamental para o diagnóstico atempado. Apesar da sua sensibilidade, o PSA não é específico para o cancro, já que níveis elevados podem surgir também em casos de prostatite ou hiperplasia benigna da próstata.
Neste contexto, os calculadores de risco de cancro da próstata são ferramentas úteis, combinando dados como idade, valor do PSA, volume prostático, antecedentes familiares e resultados de exames anteriores. Estes algoritmos permitem estratificar melhor o risco e reduzir o número de biópsias desnecessárias.
PAPEL FUNDAMENTAL DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MULTIPARAMÉTRICA
A ressonância magnética multiparamétrica (RMmp) é hoje um exame incontornável na avaliação dos doentes em risco de cancro da próstata. Este método de imagem permite uma análise detalhada da anatomia e funcionalidade da glândula, combinando sequências morfológicas, perfusão e difusão, para identificar áreas suspeitas de malignidade.
A RMmp tem um papel triplo:
Na fase pré-biópsia, aumenta a deteção de cancros clinicamente significativos e reduz a realização de biópsias em casos com baixa probabilidade de malignidade;
Na planificação da biópsia, orienta a fusão de imagem com a ecografia em tempo real para guiar a amostragem;
No estadiamento e decisão terapêutica, fornece informação sobre a extensão local do tumor, envolvimento de cápsula prostática ou vesículas seminais.
EVOLUÇÃO DA BIÓPSIA: FUSÃO PERINEAL
Com a RMmp a identificar lesões suspeitas, a biópsia de fusão perineal permite uma amostragem precisa dessas áreas. Esta técnica junta as imagens da ressonância com a ecografia em tempo real, permitindo uma orientação tridimensional da agulha de biópsia. A abordagem perineal (em vez da tradicional via transretal) reduz significativamente o risco de infeções e melhora o acesso a zonas anteriormente difíceis, como a região anterior da próstata.
As principais vantagens da biópsia de fusão perineal incluem uma elevada sensibilidade para tumores clinicamente significativos, uma redução do sobre-diagnóstico e tratamento excessivo e uma maior segurança, com menos complicações infeciosas e hemorrágicas.
DIAGNÓSTICO DE ALTA RESOLUÇÃO
O ecógrafo de microultrassons é uma inovação recente, com resolução muito superior à ecografia convencional. Utilizando frequências de até 29 MHz, permite visualizar alterações estruturais subtis no parênquima prostático, com imagens em tempo real e elevada definição.
O sistema PRI-MUS, semelhante ao PI-RADS, classifica as imagens obtidas por microultrassons conforme o grau de risco. A vantagem é clara: uma avaliação imediata durante a consulta, sem necessidade de equipamentos de ressonância dispendiosos e demorados. Embora ainda em fase de consolidação, os microultrassons têm vindo a ganhar espaço na prática clínica, tanto no rastreio como na orientação de biópsias.
Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)
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