Artigo da responsabilidade do Dr. Renato Cunha. Médico oncologista na Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro. Membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Oncologia

O cancro da mama é o segundo cancro mais diagnosticado no mundo e, em Portugal, o primeiro em mulheres, e apresenta uma incidência crescente. Consequentemente, é alvo de constante investigação e evolução dos métodos de diagnóstico e das estratégias terapêuticas. Este facto tem permitido diminuir a mortalidade por cancro da mama nos países ocidentais, mas tem tornado mais complexo o seu algoritmo de tratamento.

Atualmente, utilizamos a expressão do recetor do fator de crescimento epidérmico tipo 2 (HER2), dos recetores hormonais (RH), incluindo recetores de estrogénio e progesterona, e um marcador de proliferação (Ki67) para subdividir o cancro da mama em quatro subtipos moleculares: luminal A-like, com elevada expressão de RH, ausência de expressão de HER2 e baixo índice Ki67; luminal B-like, com menor expressão de RH, expressão de HER2 e/ou Ki67 mais elevado; HER2 puro, sem expressão de RH e com expressão de HER2; e triplo negativo, sem expressão dos três recetores.

SUBTIPOS

A categorização em subtipos e o conhecimento do comportamento de cada um deles tem permitido não só compreender melhor a evolução natural e o prognóstico da doença de cada indivíduo, mas tem também alavancado o desenvolvimento de opções terapêuticas individualizadas, mais específicas para cada tumor e, por conseguinte, com melhores resultados e menos efeitos secundários.

Assim, tumores luminais, mais frequentes, apresentam melhor prognóstico a curto prazo, menor sensibilidade à quimioterapia, que é menos utilizada neste grupo, e maior sensibilidade à hormonoterapia. Tumores HER2 positivos apresentam sensibilidade intermédia à quimioterapia e um prognóstico mais favorável desde a introdução de tratamentos dirigidos, nomeadamente os anticorpos anti-HER2 ou anticorpos conjugados. E, finalmente, tumores triplo-negativos são menos frequentes e mais agressivos mas apresentam também maior sensibilidade à quimioterapia, recaindo habitualmente o tratamento nesta opção terapêutica.

TRATAMENTOS ESPECÍFICOS

Para além destes quatro subtipos, têm surgido tratamentos específicos para outros alvos terapêuticos, como a imunoterapia nos tumores triplo-negativos, os inibidores da PARP em doentes com determinadas mutações genéticas hereditárias e os anticorpos conjugados anti-HER2 no cancro da mama com baixa expressão HER2 (HER2-low).

Independentemente do subtipo molecular, o estadiamento (ou extensão da doença) continua a ser determinante no sucesso do tratamento oncológico. Portanto, é crucial o conhecimento dos sintomas habituais, como modificações da mama, pele ou mamilo, deformidades ou nódulos mamários, escorrências mamilares ou feridas que não cicatrizam, e a participação nos programas de rastreio disponíveis, de forma a aumentar a probabilidade de obter diagnósticos em fases precoces da doença, nas quais os tratamentos disponíveis proporcionam taxas muito elevadas de cura.

FATOR PRINCIPAL

Finalmente, independentemente do estadiamento e do subtipo molecular, o fator principal para a decisão terapêutica é a própria pessoa, sendo fundamental ter em conta a idade e condição física, doenças e medicações prévias, valores e preferências, entre outros fatores que possam ser relevantes para o indivíduo.

Em conclusão, a gestão do cancro da mama tem-se tornado, felizmente, progressivamente mais complexa, já que tenta individualizar o tratamento a cada tipo de tumor e a cada pessoa, sendo cada vez mais importante apostar na educação e literacia, de forma a proporcionar uma correta e informada tomada de decisão em cada caso.