Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma em cada seis pessoas tem infertilidade. Além dos diferentes problemas de saúde que podem levar a este cenário, uma das razões é o inevitável atraso na maternidade por razões sociais. Muitas mulheres querem ser mães mais tarde porque ainda não alcançaram a estabilidade financeira e profissional que pretendem, ou porque não encontraram o parceiro ideal.

Cada vez mais conscientes de que a partir dos 35 anos a fertilidade começa a diminuir de forma significativa, optam por preservar a fertilidade congelando os seus óvulos para os usar mais tarde, quando consideram que é o momento mais adequado para o fazer. Desta forma, poderão ter os seus ovócitos com a mesma capacidade reprodutiva aquando da vitrificação e, por isso, com mais hipóteses de sucesso. Esta tendência já é um facto. Nos últimos cinco anos, de 2018 a 2023, o IVI Lisboa registou um aumento de dez vezes no número de mulheres que decidiram vitrificar os seus óvulos por razões sociais.

“Estes números refletem a crescente consciência das mulheres acerca do declínio da fertilidade e a importância de tomar medidas para acautelar a maternidade com seus próprios óvulos. No entanto, ainda não estamos a assistir em Portugal a uma queda progressiva da idade média em que estas mulheres decidem preservar a fertilidade. Enquanto, no nosso país, esta média situa-se entre os 36 e os 37 anos, e tem oscilado nos últimos cinco anos, na vizinha Espanha, está nos 35,5 anos”, refere a Dra. Catarina Godinho.

O perfil mais comum de quem decide preservar sua fertilidade por razões sociais é o de mulheres com cerca de 36 anos, em média, com profissões que implicam muitos anos de estudo, seja para se especializarem ou para concorrerem a concursos públicos, que obrigam, muitas delas, a adiar a maternidade. O contexto de crise na habitação tem também um peso importante na decisão destas mulheres.

De acordo com um Inquérito à Fecundidade realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, em 2019, as mulheres que tiveram o primeiro filho mais tarde do que desejavam foram as que mais apontaram como muito importantes para esse adiamento os motivos relacionados com a estabilidade financeira e no emprego e as condições da habitação.

Em que consiste o processo?

Num processo de vitrificação, os óvulos são preservados a 196º abaixo de zero em vapor de nitrogénio, o que garante a qualidade dos gâmetas ao longo do tempo em que estão congelados.

O IVI importou esta técnica para a Península Ibérica de forma pioneira em 2007 e, desde então, permitiu que mais de 20 mil mulheres preservassem a sua fertilidade para se tornarem mães no futuro, seja por razões sociais ou médicas – estas últimas, pacientes diagnosticadas com cancro ou com patologias que podem prejudicar o sonho da maternidade.

“São dados esclarecedores que refletem a nova realidade social que enfrentamos quando se trata de planeamento familiar. E, acima de tudo, o direito das mulheres de escolherem livremente quando e como querem ser mães, uma vez que, infelizmente, a realidade é que biologicamente a fertilidade diminui à medida que envelhecemos e atingimos os nossos objetivos pessoais. Por todas estas razões, recomendamos sempre que, se não tiver a certeza, considere a opção de vitrificação dos ovócitos para ter um plano B no futuro “, conclui a Dra. Catarina Godinho.