Ser pai ou mãe sempre foi desafiante, mas as exigências do mundo atual tornam a parentalidade particularmente intensa. Não é de admirar que muitos ultrapassem o seu limite.

Artigo da responsabilidade da Dra. Maria Moreno. Médica psiquiatra na Cognilab e na Fisiogaspar

 

Quando falamos de burnout, pensamos logo em trabalho, longas horas na empresa, em stress e pressão para cumprir objetivos. E o burnout é isto tudo, mas não só. E o burnout da dona de casa que vive numa rotina que nunca tem fim, sem um único momento para si? E o burnout dos pais que se desdobram para dar tudo e, muitas vezes, se esquecem de quem são? Ou o burnout dos cuidadores que acompanham familiares doentes com uma imensa dedicação, mas também uma exaustão que se vai instalando com uma enorme culpa mas que não partilham? Todos estes tipos de burnout são reais, mas raramente falamos sobre eles.

NÃO FALHAR, NÃO PARAR…

Quem os vive sente que precisa de estar lá sempre, que não pode parar e que agora não há tempo para pedir ajuda. Mais tarde, talvez. Mas o “mais tarde” teima em não chegar.

Relembro que todos estes papéis exigem tantas ou mais horas e dedicação que qualquer trabalho clássico e formal. E quem cuida, dia após dia, também merece ser cuidado.

O peso de “não falhar” torna-se um fardo enorme. Há cansaço sim (um cansaço enorme, uma exaustão), mas há também a sensação de não poder parar. Fazem todas as rotinas do dia a dia em modo automático, sentem-se irritados e impacientes, e reconhecem que explodem com os filhos e a pessoa que está ao lado de forma exagerada, mesmo nas pequenas coisas. Tornam-se pais e companheiros frios, desligados e distantes, com muita culpa e uma sensação persistente de não ser bom pai ou boa mãe, de “não estar à altura”.

ATINGE MAIS AS MÃES

O chamado burnout parental atinge mais as mães. Isto porque, hoje em dia, apesar de termos evoluído muito, ainda é verdade que elas assumem uma grande parte das responsabilidades ligadas ao cuidado dos filhos e da casa.

Existe um grande aumento do número de casos e, como psiquiatra, isto é-me cada vez mais trazido à consulta. O motivo não é só um, são vários.

A PRESSÃO EXTERNA

Vivemos rodeados de imagens do “superpai” e da “supermãe”, os pais “perfeitos” que estão sempre disponíveis e acertam sempre. Os livros de apoio, os cursos pré e pós-parto e as redes sociais mostram uma imagem irreal de mães e pais com casas impecáveis, refeições caseiras e equilibradas e crianças bem-comportadas, independentes e sorridentes, criando um ideal inalcançável. Os pais, mesmo sem querer, comparam-se e sentem que nunca são bons o suficiente.

A ideia de que se pode falhar tornou-se um tabu, quando, na verdade, errar faz parte do crescimento, tanto para os filhos como para os pais.

A SOBRECARGA DE PAPÉIS

Vivemos num mundo que não para e temos de estar sempre no nosso melhor em todas as frentes. A mulher, por exemplo, tem de ser a mãe perfeita, a esposa que está presente, a dona de casa, a mulher ideal e idealizada, a profissional dedicada e independente e não se esquecer de manter uma vida social ativa.

Há tanto para fazer e tão pouco tempo. Não há pausas. Mesmo nos momentos de descanso, há tarefas por fazer e listas por cumprir. Os pais raramente têm tempo para si próprios e o cuidar de si passa para o fim da lista, como se fosse algo dispensável. Importa fazer, fazer, fazer… No final, fica a sensação de culpa por falhar sempre em um ou vários campos.

Leia o artigo completo na edição de abril 2025 (nº 359)