A criação de óvulos e espermatozoides em laboratório, a partir de células estaminais, é uma das investigações mais promissoras da atualidade na área da medicina reprodutiva. O tema esteve em destaque no 11.º Congresso Internacional IVIRMA, que reuniu recentemente, em Barcelona, Espanha, mais de 1300 especialistas de 58 países.
A investigação baseia-se na utilização de células estaminais para gerar óvulos e espermatozoides fora do organismo. Estudos realizados em ratinhos, e apresentados no congresso, mostraram que é possível criar células reprodutivas a partir de dois tipos de células estaminais: células pluripotentes induzidas e células embrionárias.
“Embora tenhamos conseguido ótimos resultados, ainda estamos longe de aplicar esta técnica em seres humanos”, explica o Dr. Denny Sakkas, diretor científico da IVIRMA na América do Norte e professor associado na Faculdade de Medicina da Universidade de Yale. O especialista sublinha que, apesar dos avanços significativos na criação de espermatozoides humanos, ainda não foi possível gerar óvulos humanos totalmente maduros em laboratório. Os principais desafios são reproduzir as condições naturais dos ovários, garantir uma divisão correta de células e conseguir uma reprogramação genética adequada.
Se estes obstáculos forem ultrapassados, a criação de óvulos e espermatozoides em laboratório poderá revolucionar a medicina reprodutiva. A técnica poderá oferecer novas opções de fertilidade a pessoas que, por razões genéticas, doenças ou tratamentos médicos, não conseguem produzir células reprodutivas viáveis.
Outro tema em destaque no congresso foi a maturação in vitro (MIV) de óvulos, uma técnica que já começa a ser utilizada na prática clínica. A MIV consiste em recolher óvulos imaturos diretamente dos ovários para que amadureçam em laboratório, em vez de o fazerem naturalmente no corpo da mulher. Esta abordagem é especialmente benéfica para mulheres com síndrome dos ovários poliquísticos ou para quem apresenta risco para hiperestimulação ovárica durante os tratamentos de fertilidade. Segundo o Dr. Sakkas, a técnica oferece uma alternativa mais segura e menos invasiva, reduzindo a necessidade de terapias hormonais intensivas.
No final do congresso, o Dr. Samuel Ribeiro, diretor clínico do IVI Lisboa, afirmou que o 11.º Congresso Internacional IVIRMA foi “um encontro extremamente enriquecedor, que revelou avanços promissores na medicina reprodutiva”. O especialista destacou a importância da inteligência artificial, já aplicada em reprodução assistida, e as novas ferramentas de análise genética de embriões, que permitem reduzir o tempo dos tratamentos, aumentar as taxas de gravidez e identificar com maior precisão os melhores espermatozoides e óvulos. “Estes progressos representam um salto significativo na nossa capacidade de oferecer tratamentos cada vez mais eficazes e personalizados, consolidando o futuro da medicina reprodutiva”, concluiu.
Sobre o 11.º Congresso Internacional IVIRMA
O IVI organizou, de 24 a 26 de abril, o 11.º Congresso Internacional IVIRMA, uma reunião científica bianual sobre reprodução assistida, que reúne habitualmente os principais investigadores mundiais na área. Neste evento são apresentados os avanços alcançados no âmbito da medicina reprodutiva, as técnicas mais inovadoras e os resultados das investigações mais recentes. Além disso, o congresso cumpre a função de ponto de encontro para a partilha de conhecimento e boas práticas, com o objetivo de melhorar os resultados na prática clínica diária. A 11.ª edição do Congresso, realizada este ano em Barcelona, reuniu mais de 1300 especialistas de 58 países.