A asma grave é uma doença complexa, que interfere na qualidade de vida dos doentes de forma muito significativa. No entanto, através de um correto diagnóstico, de um tratamento adequado e do cumprimento de medidas preventivas, é possível controlá-la.
Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Pedro Carreiro-Martins. Professor Associado com Agregação, Nova Medical School. Assistente Graduado de Imunoalergologia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC)
A asma é uma doença crónica respiratória que atinge os brônquios, vias que conduzem o ar inalado até às zonas dos pulmões onde ocorrem as trocas gasosas. Uma das principais caraterísticas da asma é a existência de um processo inflamatório ao nível dos brônquios, que origina alterações da sua estrutura e consequente redução do seu calibre. Como resultado desta inflamação, surgem os sintomas característicos de tosse, pieira e falta de ar.
Em Portugal, a asma tem uma prevalência de 7,1%, e afeta mais de 570.000 adultos. Estima-se que 16% dos doentes com asma tenham asma de difícil tratamento e que 3% tenham asma grave, sendo esta última categoria responsável por uma proporção significativa dos custos de saúde associados à asma.
O QUE SE ENTENDE POR ASMA GRAVE?
A asma de difícil tratamento é um subtipo de asma onde os doentes se encontram medicados com doses altas de corticoides inalados e broncodilatadores de longa ação. Nestas situações, a asma é, muitas vezes, de difícil tratamento devido a fatores relacionados com má técnica inalatória, fraca adesão ao tratamento, tabagismo ou existência de outras doenças associadas.
Já a asma grave é um subgrupo da asma de difícil tratamento, onde apesar da boa adesão à terapêutica, da utilização de uma boa técnica inalatória e do tratamento das outras doenças associadas, não se encontra devidamente controlada ou tende a piorar quando se reduz a medicação.
Os sintomas de asma grave são idênticos aos da asma, no geral. Contudo, tendem a apresentar uma maior frequência, maior intensidade e são mais difíceis de controlar com a medicação.
QUAL A CAUSA?
A asma grave resulta de um processo multifatorial que envolve predisposição genética, exposições ambientais, disfunção do epitélio que reveste as vias aéreas, inflamação crónica, remodelamento das vias aéreas e resistência ao tratamento. Pode surgir em qualquer idade, mas a sua prevalência e características variam conforme a faixa etária: nas crianças tende a ter um componente alérgico mais notório e no adulto é mais frequente em mulheres, pessoas com obesidade e com polipose nasal.
A ASMA GRAVE TEM CURA?
A asma grave é uma doença crónica, portanto não tem cura. No entanto, pode ser controlada através do tratamento prescrito, de forma a melhorar a qualidade de vida dos doentes. Dados recentes apontam para que 7 em cada 10 doentes com asma grave não tenham a sua doença controlada.
O tratamento passa pela utilização diária de corticoides inalados em doses altas, os quais constituem a base do tratamento, por reduzirem o tipo de inflamação das vias aéreas existente na maioria dos casos de asma. Nestes casos, corticoides inalados devem ser administrados em associação com broncodilatadores de longa ação, idealmente no mesmo inalador. Os broncodilatadores mantêm as vias respiratórias abertas e reduzem a frequência das crises.
Em casos selecionados, temos atualmente a possibilidade de recorrer aos medicamentos biológicos, que constituem das maiores inovações no tratamento da asma grave, ao atuarem de forma específica nos mediadores imunológicos responsáveis pela doença.
De referir que, apesar de a medicação contribuir de forma significativa para a melhoria do controlo da asma grave, existem outros aspetos essenciais para que este objetivo seja alcançado, nomeadamente:
Adesão ao tratamento: deverá seguir-se de forma rigorosa o tratamento prescrito pelo médico.
Exercício físico: praticar atividade física regular adaptada à condição do doente.
Alimentação: ter uma alimentação saudável, seguindo uma dieta do tipo mediterrânico.
Sem obesidade: procurar medidas que contribuam para a redução do peso.
Acompanhamento médico regular: de forma a monitorizar a asma e ajustar o tratamento conforme necessário.
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