Os tumores malignos da boca correspondem a cerca de 30% dos tumores malignos da cabeça e pescoço, sendo os mais frequentes desta localização. Em Portugal, todos os anos surgem cerca de 700 novos casos.

Artigo da responsabilidade do Dr. Pedro Montalvão

Otorrinolaringologista no Hospital CUF Descobertas – Coordenador da Unidade de Cancro da Cabeça e Pescoço da CUF Oncologia.

 

Os tumores da boca, se diagnosticados tardiamente, têm um impacto profundo nas várias funções da cavidade oral. Podem originar alterações da mastigação, do paladar, da deglutição, da fala, da continência oral, e da imagem corporal, que diminuem muito a qualidade de vida das pessoas. Daí o interesse em fazer o diagnóstico o mais precocemente possível.

A boca é uma zona de fácil acesso e observação pelo próprio, pela família e pelos médicos de Medicina Geral e Familiar, Medicina Dentária, Estomatologia, e Otorrinolaringologia, o que deveria permitir fazer um diagnóstico o mais precoce possível, e assim obter maior taxas de cura e menor morbilidade para os doentes.

Então, a que fatores de risco devemos estar atentos e que atitudes de prevenção podemos tomar?

O carcinoma pavimento-celular (CPC) corresponde a cerca de 90% dos tumores malignos da cavidade oral. Os principais fatores de risco para o seu aparecimento são o tabaco e o álcool. São fatores independentes, e ambos são fatores dependentes da dose: quanto mais cigarros maior o risco, quanto mais bebidas alcoólicas maior o risco.

O consumo excessivo de álcool pode estar associado a deficiências nutricionais e de vitaminas, que independentemente podem contribuir para o aparecimento do cancro oral. O tabaco e álcool têm efeito sinérgico, aumentando o risco de 7 a 35 vezes de desenvolver CPC oral.  Os cigarros com menos tabaco têm ainda assim um risco de 2 vezes mais de originar um CPC oral.

Má higiene dentária e oral, e dentaduras mal adaptadas são também considerados fatores de risco independentes. A predisposição genética deve também ser considerada, visto apenas uma pequena percentagem de fumadores desenvolver cancro oral.

As lesões potencialmente malignas ou pré-malignas podem-se transformar em CPC orais: as leucoplasias (lesões brancas), as eritroplasias (lesões vermelhas), e as várias formas de líquen. Daí que alerte para que todos tenhamos particular atenção em áreas da lesão branca que se transformam: ferida, espessamento, induração, que podem ser sinais de transformação maligna.

A dieta deficiente em vitamina A pode predispor ao cancro oral, enquanto uma dieta rica em frutas e vegetais tem um efeito protetor.

Qual o aspeto das lesões de cancro da boca?

São lesões de feridas que não cicatrizam, nódulos ou placas brancas / vermelhas na mucosa da boca. Os sintomas que nos alertam são dores persistentes na boca ou dificuldade em articular a voz.

Quais os locais mais frequentes da boca onde surgem estes tumores?

A língua é a localização mais frequente dos tumores da boca, seguindo-se o pavimento da boca. Na língua as localizações mais frequentes são no bordo da língua ou na face inferior.

Infelizmente, muitos casos surgem tardiamente, sendo já tumores avançados. É fundamental recorrer a uma consulta Otorrinolaringologia atempadamente, de forma a realizar o diagnóstico precocemente, e assim realizar a cirurgia o mais cedo possível, para melhorar o prognóstico e obter maiores taxas de cura.