“Acho que tenho alergia ao meu gato! E agora?”. Esta é uma afirmação cada vez mais comum, relativamente a gatos e outros animais de companhia. O que podemos fazer?

Artigo da responsabilidade da Dra. Daniela Brandão Abreu. Médica interna de Imunoalergologia, no Porto

 

Cada vez é mais comum vermos famílias portuguesas com animais de estimação. Ter um animal de companhia pode trazer inúmeras vantagens ao nível da autoestima, autodisciplina, responsabilidade, comunicação e, sobretudo, transação afetiva. Contudo, cada vez mais surgem relatos de possíveis alergias desencadeadas pela presença de animais de companhia, pelo que é importante esclarecer alguns aspetos importantes.

SINTOMAS VARIADOS

Os sintomas mais comuns são a nível do nariz, dos pulmões e, por vezes, da pele. A inflamação da mucosa nasal, também designada por rinite, caracteriza-se por rinorreia (pingo), espirros, prurido (comichão) ocular e nasal.

A nível pulmonar, podem surgir sintomas de pieira (chiadeira), dispneia (falta de ar), tosse e sensação de aperto no peito, aquilo a que chamamos de asma. Infrequente, embora também possa ocorrer, é o aparecimento de prurido cutâneo e lesões de urticária (empolas na pele) no contacto com o animal.

Os animais mais frequentemente associados ao desenvolvimento de alergia são o cão e o gato, sendo também os animais de estimação mais comuns nas habitações portuguesas. Contudo, há casos de alergia a outras espécies, nomeadamente coelho, cavalo e pássaros.

PELO E NÃO SÓ

Os alergénios, isto é, as proteínas causadoras de alergia, podem estar presentes no pelo e na pele dos animais, mas também na urina, saliva e glândulas sebáceas, podendo ainda resistir no ambiente vários meses após o animal ser retirado do espaço físico.

É importante ter em conta que os ácaros do pó doméstico (causa comum de alergia respiratória) habitam e reproduzem-se no epitélio (pele) dos animais, dadas as condições de temperatura e humidade, pelo que podem ser os verdadeiros e únicos causadores das queixas de rinite e asma.

A existência destes sintomas na presença de animais de estimação deverá motivar uma consulta de Imunoalergologia, para confirmar o diagnóstico através de testes cutâneos com os alergénios implicados, bem como provas respiratórias, se existir suspeita de asma. Além dos testes cutâneos, poderão ser realizadas análises, mas sempre de acordo com a sua necessidade.

O QUE FAZER?

Após o diagnóstico de alergia ao animal de companhia, o primeiro passo é reduzir a exposição ao mesmo, o que nem sempre significa ficar sem o animal. Há algumas medidas que poderão ser úteis para diminuir a exposição alergénica:

  • Aspirar a casa com regularidade, principalmente na altura de mudança do pelo;  utilizar um aspirador com filtro HEPA;
  • Higienizar os espaços frequentados pelo animal, bem como têxteis (tapetes, cobertores, edredões e almofadas);
  • Ventilar a casa com regularidade;
  • Escovar/lavar o animal com regularidade;
  • Não ser a pessoa alérgica quem escova ou dá banho ao animal;
  • Não dormir com o animal nem utilizar as mesmas mantas/cobertores que ele frequenta;
  • Lavar as mãos após o contacto com o animal e evitar colocar a mão nos olhos/na cara antes de as lavar.

MEDICAÇÃO SOB SUPERVISÃO

Além das medidas não-farmacológicas, poderá ser utilizada medicação para controlo dos sintomas alérgicos, que passa por anti-histamínicos e medicação inalada, esta última se existirem sintomas asmáticos.

No caso de alergias associadas ao cão e ao gato, poderá ser equacionada a opção de imunoterapia, vulgarmente conhecida por “vacina das alergias”, o que permitirá curar a alergia, mas deverá ser sempre prescrita por um médico imunoalergologista.

Por último, para os casos de alergia ao gato, atualmente existe uma ração que reduz a expressão do principal alergénio dos felídeos e que poderá ter benefício clínico em associação às restantes medidas.

Leia o artigo completo na edição de maio  2023 (nº 338)