A ablação por laser é uma técnica minimamente invasiva e inovadora para tratamento de tumores cerebrais, representando um grande avanço tecnológico no tratamento destas doenças. Nos casos em que a cirurgia convencional acarreta muitos riscos para os doentes, esta técnica é muito mais segura, por ser menos invasiva.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Alfredo Calheiros. Diretor do Serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP)

 

Com evidência crescente da sua eficácia, a terapia térmica intersticial por laser (LITT) é uma ferramenta terapêutica cada vez mais utilizada no tratamento de patologias que incluem tumores cerebrais malignos e epilepsia refratária.

Esta consiste, tal como o nome indica, na termoablação de tecidos por laser, através da introdução minimamente invasiva de um cateter com uma fibra ótica numa região muito específica do cérebro.

O procedimento e os seus benefícios

O procedimento é realizado através do uso de um aparelho de neuronavegação, uma espécie de GPS do cérebro, que nos vai guiar de forma a conseguirmos introduzir através de um micro-orifício no crânio, de cerca de 2 mm, um cateter de fibra ótica até à lesão cerebral. A destruição da lesão é, depois, feita por energia térmica, com temperaturas entre 50 e 80ºC, o que provoca a desnaturação das proteínas celulares, levando à morte celular, ou seja, à destruição do tumor.

Tudo isto é monitorizado em tempo real pela termometria da ressonância magnética nuclear (RMN). Esta técnica de imagem permite acompanhar em tempo real a lesão dos tecidos.

A sua grande vantagem é poder tratar tumores localizados em zonas profundas ou nobres do cérebro. Nestas zonas, a cirurgia convencional é extremamente difícil e arriscada, no sentido em que pode provocar lesões graves ao doente. Esta técnica veio diminuir ou mesmo eliminar esse risco.

Por ser minimamente invasivo, o LITT também implica tempos de recuperação e internamento menores, quando comparado com a cirurgia convencional.

Aplicações

Uma das áreas onde o LITT tem evoluído mais é no tratamento de tumores cerebrais. Este método permite abordar lesões em localizações profundas e eloquentes com maior segurança do que a abordagem por craniotomia convencional. Uma das principais indicações da técnica são os gliomas, o tipo de tumor cerebral maligno mais comum, de alto grau, cuja abordagem seria, de outra forma, dotada de grande risco cirúrgico ou até mesmo inexequível.

A evidência mais atual tem demonstrado que a LITT é uma opção com resultados muito bons no tratamento destes tumores. Esta constatação está a mudar o modo como pensamos a abordagem destas lesões. Ainda na área dos tumores cerebrais, a LITT tem provado grande utilidade no tratamento de gliomas de baixo grau, metástases e outros tumores, bem como em casos de radionecrose – uma complicação importante da radioterapia cerebral.

A outra grande área de crescimento da aplicação da LITT é a epilepsia refratária. Por um lado, permite a destruição de lesões focais em zonas eloquentes e de uma forma pouco invasiva. Por outro, a evolução da técnica tem sido rápida e constante, sendo já possível realizar cirurgias ablativas complexas, incluindo amigdalo-hipocampectomias para o tratamento da esclerose mesial temporal e de outras epilepsias refratárias. Os resultados apresentados são muito bons e prometem transformar o futuro do tratamento destas patologias.

Finalmente, está a emergir uma diversidade de aplicações da LITT na Neurocirurgia Funcional, incluindo o tratamento da doença de Parkinson e da perturbação obsessiva-compulsiva. A capacidade de monitorização da lesão em tempo real, pela termometria da RMN, promete avançar a maneira como tratamos a lesão nesta disciplina da Neurocirurgia.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2022 (nº 324)