Artigo da responsabilidade do Dr. José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), a propósito do Mês da Consciencialização para as Hepatites (julho)
A hepatite caracteriza-se por uma inflamação das células do fígado, podendo apresentar várias etiologias, como é o caso dos vírus da hepatite A, B, C, D e E.
A hepatite B é considerada a mais perigosa e grave, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, podendo tornar-se crónica e evoluir cirrose hepática e para cancro do fígado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo, vivem com este tipo de hepatite 296 milhões de pessoas e causou a morte em 2019 a 820 mil pessoas. Em Portugal, a hepatite B afeta cerca de 1 a 1,5 por cento da população. Apesar de ser grave, pode ser prevenida através da vacinação, tendo uma eficácia de cerca de 95 por cento.
A hepatite C evolui com muita frequência para formas crónicas. Estima-se que existam entre 50 a 100 mil doentes em Portugal a maioria por diagnosticar. Os principais afetados são os consumidores de drogas injetáveis e as pessoas que receberam transfusões de sangue antes de 1992. Pode evoluir para doença hepática grave e é, em Portugal, a principal origem do cancro do fígado (60 por cento dos casos) e uma das mais importantes causas de cirrose (25 por cento dos casos).
No entanto, além dos vírus, existem outras lesões do fígado, como é o caso das alterações do sistema imune — o sistema de defesa do organismo (a chamada hepatite autoimune), ou a gordura no fígado, algo cada vez mais prevalente na sociedade, com números crescentes também em números de doença hepática.
Uma vez que o fígado é um órgão com uma grande importância e função no sistema digestivo, caso exista inflamação, pode dar origem a várias complicações. A gravidade e o prognóstico da hepatite variam consoante o tipo de hepatite e as comorbilidades já existentes.
Porém, estas são doenças evitáveis e tratáveis, e, no caso da hepatite C, existe cura. Atualmente, a taxa de cura para a hepatite C situa-se em 96 por cento, sendo fundamental que o diagnóstico seja feito atempadamente. Os medicamentos pretendem inibir a multiplicação do vírus da hepatite B ou eliminar a multiplicação do vírus da hepatite C e, desse modo, reduzir as lesões causadas ao fígado.
Os sinais e sintomas de hepatite dependem de vários fatores, nomeadamente a gravidade da doença, mas a maioria dos doentes apresenta fadiga, náuseas, falta de apetite, icterícia, urina escura e fezes claras.
Ainda assim, alguns tipos de hepatite podem não provocar sintomas durante largos períodos de tempo, mesmo na presença de inflamação do fígado.
O diagnóstico de hepatite é feito através dos sintomas indicados pelo doente e, ainda, da realização de exames complementares. As análises ao sangue são, por norma, a maneira mais comum de diagnosticar a hepatite, porém, pode ser necessário complementar com ecografia abdominal, TAC ou ressonância magnética, para verificar se existem outras lesões.
Além disso, é aconselhado que sejam alterados os hábitos alimentares e as rotinas do doente, como, por exemplo, evitar bebidas alcoólicas, repousar e manter um peso saudável.
Na maioria das vezes, o tempo é o melhor amigo do tratamento das hepatites. Não adie a consulta ao médico. Cuide do seu fígado.
You must be logged in to post a comment.