Aprender a libertar o corpo não é fácil. Para dissolvermos o condicionamento que a forma de vida moderna e as novas ameaças nos impõem, necessitamos de tempo e de vontade. As técnicas que propomos caracterizam-se por envolverem e integrarem o corpo e o espírito, num objetivo único: o bem-estar.

 

Não obstante todo o conhecimento que uma boa parte da população instruída já possui sobre prevenção para a saúde, ainda existem muitos obstáculos, gerados pelo estilo de vida moderna e pelas novas ameaças ao bem-estar, que não nos permitem uma total reconciliação com o nosso corpo.

Está sobejamente demonstrado que as pessoas que se conseguem manter mentalmente sãs vivem de forma mais satisfatória e são capazes de encarar os problemas de um modo muito mais eficaz.

Quase todos nós sentimos o nosso corpo de forma incompleta e, por vezes, quase incomodativa. Porém, aprender a libertar o corpo não é fácil. Para dissolvermos este condicionamento, necessitamos de tempo e de vontade. Uma das soluções para uma relação equilibrada connosco próprios e com o meio que nos rodeia centra-se na plena consciência daquilo que sentimos e numa verdadeira vontade de mudar. Por outro lado, não podemos ignorar que a reaquisição da consciência corporal é algo que ninguém pode fazer por nós.

PRIMEIRO OBJETIVO: DESBLOQUEAR-SE

Para começar, nada melhor do que recordar as palavras de Alexander Lowen, autor de diversos livros sobre bem-estar integral: “A sensação de identidade deriva da sensação de estar em contacto com o corpo. Para se conhecer a si mesmo, tem de se ser consciente daquilo que se sente”.

Somos seres tridimensionais, por isso, este processo de aprendizagem não se limita a um âmbito físico, mas também incide no terreno mental e emocional. É especialmente importante saber descobrir certos detalhes que enriquecerão e otimizarão o esforço, como aprender que alimentos nos convêm mais, que pessoas ou situações da vida quotidiana nos causam stress ou mal-estar e como podemos exercitar a melhor ferramenta de que dispomos: o nosso próprio corpo.

Quase todos os desportos e exercícios da cultura ocidental estão orientados no sentido de aumentar a musculatura e modelar o corpo. As técnicas que propomos, pelo contrário, caracterizam-se pelo facto de envolverem e integrarem o corpo e o espírito, num objetivo único: o bem-estar. Antes de começarmos a detalhá-las, cabe salientar que as técnicas aqui apresentadas requerem uma prática contínua, sendo também importante não pensar que se tratam de curas automáticas e milagrosas para todos os problemas.

A essência de todas elas é a relaxação e uma atitude iminentemente recetiva, relativamente aos sinais do próprio corpo. São, no entanto, uma oportunidade ideal para aprendermos a expressar-nos, bem como para encontrarmos o caminho que conduz ao equilíbrio pessoal.

1. CHI KUNG

O Chi Kung é um sistema chinês de trabalho corporal inspirado na tradição filosófica taoísta, cujas origens remontam há mais de 4000 anos. Consiste na conjugação de uma série de técnicas de respiração, posição corporal, movimentos e meditação, que ajudam o discípulo a aproveitar o “Chi”, a força vital, que também é o elemento-chave de outras disciplinas, como o Aikido e o Tai Chi.

A prática do Chi Kung equilibra o “yin” e o “yang”, de modo a que o “Chi” possa circular livremente e ajude a sentir a harmonia que existe entre a pessoa e o mundo. Os exercícios de Chi Kung caracterizam-se por um contínuo deslocamento do peso e por um uso muito expressivo dos gestos corporais. Para aproveitar os benefícios desta técnica, há que aprender quatro princípios básicos: relaxamento, tranquilidade, consciência e movimento. Exercita-se e pratica-se, sobretudo, a capacidade de diminuir voluntariamente o ritmo da respiração, para aumentar a capacidade dos pulmões e desintoxicar o organismo. Pouco a pouco, consegue-se um estado mental tranquilo, um corpo flexível e uma postura equilibrada.

2. IOGA

O ioga é o mais antigo sistema para o desenvolvimento mental, físico e espiritual. É surpreendente o número quase ilimitado de exercícios e subtis variantes que compõem esta disciplina. Após pouco tempo de prática, é fácil entender os princípios básicos destes movimentos, o corpo torna-se mais flexível e, consequentemente, a mente fica mais tranquila e equilibrada.

O Hatha Yoga, a variante mais praticada no Ocidente, abarca a mente e o corpo de uma maneira muito completa. Ensina a disciplina e a concentração mental necessárias para conseguir abrir a novas dimensões da consciência.

Os exercícios de respiração e as posições são muito importantes, neste processo. Quanto aos movimentos, devem praticar-se lentamente, com muita concentração, e serem mantidos durante o máximo de tempo fisicamente possível, mas sempre com o cuidado de não se lesionar. As próprias necessidades e o nível de experiência determinam as posições a praticar.

3. MEDITAÇÃO

Quem medita e aprende a reduzir a sua tensão física e mental, encontra o caminho para a tranquilidade e a felicidade torna-se numa atitude intuitiva face à existência. A relaxação é essencial para experimentar e integrar tudo aquilo que se sente.

Para começar a meditar, apenas é necessário um quarto sem ruídos e ter presente que não se deve procurar nada de especial nesta técnica, salvo uma maior autoconsciência. Inicialmente, pode ser útil fixar o olhar na chama de uma vela ou noutro objeto ou concentrar-se apenas na respiração. O “zen” é uma das escolas de meditação que mais se enraizou no Ocidente.

4. Ioga

Desenvolvido pelo físico Moshe Feldenkrais, este  processo de aprendizagem centrado no corpo inclui sequências específicas de movimento e orientações verbais. O seu objetivo é corrigir os maus hábitos no uso do corpo e treiná-lo para que os seus movimentos sejam muito mais livres e simples. Ensina-se em duas variantes diferentes: a consciência através do movimento – indicada para grupos amplos – e a integração funcional – que dá melhores resultados nas terapias individuais.

Esta técnica ajuda a destruir as tensões mais arreigadas e fomenta o equilíbrio estrutural, liberta a respiração e proporciona uma enorme sensação de bem-estar emocional. Por outro lado, é muito recomendável para as pessoas que necessitam da presença de um guia e, também, para as que preferem trabalhar em equipa.

5. PSICOLOGIA BIODINÂMICA

Esta técnica foi criada por Gerda Boyesen. Trata-se de um método terapêutico que vê na libido a representação mais palpável do vínculo entre a mente e o corpo. Para Freud – o “pai” da psicanálise, 1856-1939 –, a libido é a energia dos instintos de vida, que se reparte entre o eu – libido narcisista – e os objetos ou as pessoas – libido objetal. Segundo Gerda Boyesen, quando o livre fluxo da libido se vê bloqueado por algum trauma, produzem-se acumulações energéticas e as emoções ficam “encurraladas” na psique, com o que se produzem quadros sintomatológicos de depressão e ansiedade.

Boyesen também descobriu que os intestinos do homem acumulam o stress resultante da vida quotidiana. Através de uma técnica especial de massagem, pode ativar-se positivamente o sistema natural do corpo, para aliviar a tensão. Paralelamente, durante o tratamento, o terapeuta harmoniza a libido, movendo as suas mãos pela superfície do corpo, de um modo muito semelhante à massagem tradicional.

6. TÉCNICA ALEXANDER

O australiano F. Mathias Alexander (1869-1955) desenvolveu este método, para resolver os seus próprios problemas com a voz, dificuldade que nenhum especialista tinha conseguido solucionar.

Em vez de se resignar, Alexander encontrou as forças para investigar o que lhe estava a acontecer: com a ajuda de um espelho, começou a observar os seus movimentos e apercebeu-se de que a sua cabeça tendia para trás, facto que lhe provocava uma enorme tensão nos músculos do pescoço e afetava a sua voz. Foi, então, que descobriu a solução: se deixasse de interferir no funcionamento natural do seu corpo, este recuperaria o equilíbrio, a coordenação e a liberdade inatas.

A sua técnica estendeu-se e começou a aplicar-se ao tratamento de muitos outros problemas. A Técnica Alexander é, antes de mais, um método pedagógico, que permite aprender a detetar e eliminar tensões e maus hábitos.

Esta terapia é adequada para quem sente mal-estares corporais, problemas de locomoção, de circulação, enxaquecas e todo o tipo de consequências de um uso errado do organismo. Também recorrem a esta técnica aqueles que precisam de um bom equilíbrio corporal para tirarem o máximo de partido da sua expressividade: atores, modelos, cantores, músicos, desportistas, entre outros.

7. TERAPIA DA DANÇA

Aprender a dançar é uma forma de aprender a expressar, através do corpo, as nossas sensações e sentimentos. Todos já dançámos, em jovens, mas este hábito está hoje afastado da vida quotidiana da maioria das pessoas.

A dança africana, pela sua graça e ritmo irresistíveis, pode constituir uma boa forma de começar a descobrir os ritmos de movimento do organismo. A dança ocidental, pelo contrário, preocupa-se mais com o espaço. Em África, pelo contrário, o fator dominante é o ritmo.

Os impulsionadores da dança como técnica de integração entre corpo e o espírito foram Rudolph Laban e Margaret Morris, que inspiraram toda uma corrente de ideias, que levou a compreender a dança sob uma nova perspetiva. Não obstante, foram Alain e Françoise Chatraine quem desenvolveu um método muito mais complexo e eficaz, para ajudar a pessoa através do movimento e da dança. O critério que seguiram foi englobar, num único contexto ativo, as capacidades expressivas e curativas da música, da dança, da arte, da psicologia e da fisiologia.

O movimento livre ensina-nos a conhecer o corpo, a expressar os sentimentos mais profundos e a redescobrir a nossa capacidade criativa. Dançar é aceitar-se a si mesmo e deixar-se inundar pelos ritmos do Universo. A dança atinge o nível máximo de expressividade quando a mente, o corpo e a alma se encontram bem integrados. Para o conseguir, os alunos devem aprender a relaxar-se, a recarregar a sua energia pessoal e a substituir a autocrítica e a tensão pelo mero prazer de se moverem.

  1. TERAPIA GESTALT

A terapia Gestalt é um método de psicoterapia e crescimento pessoal, que foi criado, nos anos 40, por Fritz Perls (1893-1976), a partir de influências tão variadas como a psicanálise, a psicologia, a filosofia existencial e a espiritualidade oriental. Utiliza-se, habitualmente, como terapia de grupo.

Mediante esta técnica, o paciente aprende a ser mais consciente de si mesmo, como organismo total, a viver aqui e agora e a alcançar uma relação equilibrada e autêntica entre o corpo, a mente e o meio exterior.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2020 (nº 308)