Dia 20 de julho assinala-se o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, pelo que este é um momento relevante para refletirmos sobre a importância dos transplantes na melhoria da qualidade de vida e de saúde das pessoas, assim como na importância da prevenção.
Artigo da responsabilidade do Dr. Rui Ceia. Diretor Clínico da Zurich Portugal
Falamos de um dos atos médicos mais revolucionários do século XX, capaz de salvar vidas e mudar substancialmente a qualidade de vida de muitas pessoas. Ainda assim, a complexidade deste procedimento leva ainda a algum desconhecimento sobre tudo o que envolve e representa.
De forma simplificada, a transplantação envolve a transferência de órgãos, células ou tecidos de um dador para um recetor.
Este procedimento é, em muitos casos, o último adotado, quando todos os outros métodos científicos já provaram ser insuficientes. É sempre uma decisão clínica multidisciplinar e obriga, muitas vezes, a um processo de decisão rápido e à necessidade de uma rede logística tão eficiente quanto competente.
Portugal, é importante que se diga, constitui um bom exemplo do que se faz nesta área a nível global. Os números mais recentes são promissores e revelam a eficácia do sistema de saúde e a dedicação dos profissionais em matérias de transplantação. Em 2023, foram realizados 966 transplantes – o maior número de sempre registado no país desde 2009. O sucesso desta rede nacional é cimentado através da estreita colaboração de diferentes entidades, como por exemplo a Força Aérea, a PSP ou a GNR a quem incumbe o desafio de um transporte cuidado e rápido. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) merece igualmente o elogio pela resposta de qualidade, profissional, e num contexto em que garante que a transplantação seja gratuita e acessível a todos e oferece um acompanhamento pré e pós-transplante de elevada qualidade.
A taxa de sucesso da transplantação não está só dependente do procedimento cirúrgico, mas também dos cuidados pré e pós-transplantação. Para que o transplante seja um sucesso é necessário aderir ao protocolo pós-transplante, nomeadamente aos esquemas de imunossupressão e de consultas de rotina. Tudo isto, para evitar a rejeição do órgão transplantado.
E se é essencial que o organismo responda bem a um “corpo estranho”, é também indispensável o apoio e acompanhamento psicológico aos pacientes que vão viver com o mesmo. Esta intervenção multidisciplinar requer um ajuste emocional significativo, na medida que o paciente passará a ter de cumprir um protocolo exigente, com cuidados e disciplina, numa base diária e para o resto da vida.
Contudo, nunca é demais relembrar que a transplantação é um último recurso, muitas vezes inevitável, na resposta adequada a um determinado problema de saúde. O papel que todos podemos ter, enquanto indivíduos e sociedade, na adoção de estilos de vida mais saudáveis, que privilegiem o bem-estar, continuará a ser a melhor resposta para evitar as doenças que podem conduzir a um transplante.
O futuro trará certamente respostas ainda melhores aos desafios que já temos no nosso tempo quando falamos de transplantes. A inovação da ciência e da medicina são dos maiores patrimónios da humanidade. Continuemos a investir na ciência para desbravar novos caminhos, sejam sinónimo de uma vida mais longa, mas também com qualidade.
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