A Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica chama a atenção para a problemática da alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) e o seu impacto na saúde dos bebés e crianças. A diversidade e incompreensão dos sintomas faz com que o diagnóstico demore em média 4 meses (1), o que compromete o crescimento e desenvolvimento neurocognitivo e afeta a saúde dos bebés e o bem-estar e a harmonia das famílias.
Em Portugal, cerca de 3% dos bebés têm alergia às proteínas do leite de vaca, sendo que destes, cerca de 10% têm a forma mais grave da doença (2) e os restantes 90% uma forma mais leve ou moderada. Os sintomas são diversos, como choro constante, vómitos, diarreia, eczema e por vezes cansaço, o que dificulta o diagnóstico e compromete a saúde do bebé (3).
A APLV surge quando o sistema imunológico do bebé rejeita as proteínas do leite, provocando sintomas mais ou menos graves, como os anteriormente referidos. Pode ser inicialmente confundida com cólicas, tanto pelos pais como pelos médicos. No entanto os sintomas da alergia ultrapassam os problemas intestinais. A principal consequência para as crianças com APLV é a malnutrição progressiva com implicações no crescimento e no desenvolvimento neurocognitivo, podendo levar a dificuldade respiratória, não esquecendo o risco de morte, por anafilaxia (4).
Por este motivo, é importante os pais estarem atentos aos sintomas e consultarem o médico logo que possível. Em qualquer caso de alergia, seja severa ou moderada, os bebés não amamentados devem ser alimentados com fórmulas extensamente hidrolisadas ou elementares, sempre indicadas pelo profissional de saúde, devendo ainda ser evitado o consumo de qualquer alimento que tenha leite na sua composição.
Em Portugal, só as fórmulas indicadas para a alergia severa ou grave são comparticipadas, o que sobrecarrega o orçamento familiar das crianças com alergia às proteínas do leite de vaca menos severas.
Promover a equidade entre os diferentes tipos de pacientes que sofrem de APLV é essencial. É, por isso, importante estender a comparticipação do estado de forma a tornar o tratamento mais adequado a todos os doentes, tanto das fórmulas extensivamente hidrolisadas como das elementares, sendo este um dos objetivos da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica, que tenta chamar a atenção para esta importante questão.
Na vertente da alergia respiratória, também as vacinas anti-alérgicas, único tratamento que altera a história natural da doença alérgica, deveriam ser comparticipadas como já aconteceu no passado.
1 Sladkevicius E et al. J Med Econ 2010:13(1):119-28.
2 Leach JL et al. Am J Clin Nutr 1995; 61: 1224-30
3 Yu V. J. Paediatric Child Health 2002; 38:543-549.
- Portaria 296/2019 de 9 de setembro