Artigo da responsabilidade da Dra. Vanda de Sousa. Co-founder and Lead Mindfulness Instructor @ The School of We
Todos nós desejamos sentir bem-estar e viver melhor, mas o nosso estilo ou condições de vida estão a causar danos, manifestando-se como fadiga, ansiedade, esgotamento ou até mesmo dor física. Este tempo histórico que estamos a viver com a pandemia tem agravado muitos destes sintomas. Muitos de nós sentem-se desconectados, presos a rotinas anteriores que deixaram de ter significado, e vivendo em constante preocupação ou medo. A boa notícia é que, com a prática, podemos melhorar o nosso bem-estar e atingir um estado de maior equilíbrio e satisfação.
Richard Davidson, neurocientista, investigador e fundador do Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de Wisconsin-Madison refere que a neurociência demonstra que os circuitos cerebrais que são importantes para o bem-estar exibem plasticidade, ou seja, mudam como consequência da experiência e como consequência do treino.
Sabemos que o cérebro está constantemente a ser alterado, intencionalmente ou não, e isso significa que todos nós podemos assumir a responsabilidade pelos nossos próprios cérebros e moldá-los de maneiras mais positivas, melhorando o nosso bem-estar. Richard refere também que estar distraído tem um custo para o nosso bem-estar e se nos tornarmos mais conscientes das nossas experiências diárias, podemos melhorar o bem-estar e sentirmo-nos mais felizes.
O que é o Mindfulness?
A prática de Mindfulness pode ser entendida como a capacidade de prestar atenção de forma intencional às nossas experiências internas e externas, com uma atitude de curiosidade, amabilidade e não de julgamento. No ritmo acelerado em que vivemos é muito fácil entrarmos em piloto automático e perdermos o contacto com o momento presente, vivendo envolvidos nos nossos pensamentos ruminantes e ativações emocionais, mas desconectados do corpo e da nossa experiência. Isso afeta não só o nosso bem-estar, mas também a relação com os outros.
Com a prática de Mindfulness aprendemos a observar os nossos pensamentos e emoções como eventos que ocorrem, sem aversão e sem apego e a conhecer melhor os nossos padrões mentais, emocionais e de comportamento. Essa visão “mais clara” do que ocorre permite-nos reconectar com a experiência e geri-la melhor. A prática de Mindfulness ajuda-nos a parar e a estar mais presentes e conscientes daquilo que existe e acontece.
O que nos diz a investigação?
Uma meta-análise (1) publicada na revista Nature Human Behavior, que examinou mais de 400 estudos efetuados com mais de 50.000 participantes, avaliou várias abordagens psicológicas e o seu impacto na melhoria do bem-estar. Os participantes foram colocados em três categorias: pessoas com boa saúde em geral, pessoas com doenças mentais e pessoas com doenças físicas. Os investigadores concluíram que, nesses três grupos, todos beneficiaram com a prática de Mindfulness.
De forma mais específica, nos últimos anos têm-se desenvolvido e publicado numerosos estudos sobre os benefícios da prática regular de Mindfulness quer no alívio de problemas de saúde física ou mental, como a dor crónica (2), ansiedade, stress (3) e depressão, (4) quer na melhoria do bem-estar geral (5), autocompaixão, empatia (6), alegria e contentamento (7).
Como funciona?
A prática de Mindfulness permite o treino de diferentes mecanismos relacionados com o bem-estar, nomeadamente:
- A capacidade de foco no momento presente (facilita uma menor ruminação, a diminuição da ansiedade e do stress e permite emoções mais positivas, como a gratidão);
- A capacidade de descentramento (a observação das emoções, dos pensamentos e das experiências sem autoidentificação, permitem a aceitação e a gestão das situações mais desafiantes, sem comportamentos de evasão e negação);
- A autocompaixão (incentiva estados positivos, como equanimidade, motivação e interconexão);
- A autorregulação emocional (permite reconhecer e quebrar padrões de comportamento e responder às situações com um impacto mais positivo);
- A empatia e compaixão (permite uma maior compreensão e conexão com o outro, evitando esgotamento e comportamentos antissociais).
Se quisermos trabalhar para melhorar o nosso bem-estar, sem dúvida que incorporar a prática de Mindfulness na nossa vida diária pode ser uma excelente decisão. A prática de Mindfulness não é exclusiva para momentos estruturados e dedicados como a meditação. O convite é que possamos também trazer essa qualidade de atenção, com curiosidade e sem julgamento, para a vivência do nosso dia a dia: enquanto caminhamos, tomamos uma refeição, brincamos com o nosso filho, conversamos com um amigo, trabalhamos num projeto, assistimos a uma reunião ou lemos um artigo.
(1) Van Agteren J et al, (2021) A systematic review and meta-analysis of psychological interventions to improve mental wellbeing. Nat Hum Behav., doi:10.1038/s41562-021-01093-w
(2) Kabat-Zinn, J. (1982). An outpatient program in behavioral medicine for chronic pain patients based on the practice of mindfulness meditation: Theoretical considerations and preliminary results. General Hospital Psychiatry, 4(1), 33-47
(3) Bishop, S. R. et al (2004), Mindfulness : A Proposed Operational Definition. Clinical psychology: Science and practice, 11(3), 230–241.
(4) Teasdale, J. D., et al (2000). Prevention of relapse/recurrence in major depression by mindfulness-based cognitive therapy. Journal of consulting and clinical psychology, 68(4), 615.
(5) Brown, K. W., at al (2007), Mindfulness: Theoretical Foundations and Evidence for its Salutary Effects. Psychological Inquiry, 18(4), 211–237
(6) Neff, K. (2003), Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward oneself. Self and Identity, 2(2), 85-101
(7) Davidson, R. J. et al (2003), Alterations in brain and immune function produced by mindfulness meditation. Psychosomatic medicine, 65(4), 564-570
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