A osteoporose constitui um grave problema de saúde pública, com sérias consequências para a o doente, família, cuidados de saúde e sociedade em geral.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Susana Rilhas Fernandes. Reumatologista. Instituto Português de Reumatologia, Hospital dos Lusíadas de Lisboa e Clínica Cintramédica

 

A osteoporose é uma doença óssea que afeta cerca de 800 mil portugueses (10% da população adulta) e é responsável por 40 mil fraturas ósseas por ano em Portugal, segundo dados do Estudo Epidemiológico de Doenças Reumáticas. A nível mundial, 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 5 homens vão sofrer uma fratura osteoporótica. É considerado um problema de saúde pública, pelo impacto pessoal, familiar e socio-económico associado à ocorrência de fraturas.

O QUE É A OSTEOPOROSE?

A quantidade máxima de massa óssea é adquirida por volta dos 20-30 anos de idade. A partir dos 40-45 anos, a massa óssea vai diminuindo de forma contínua em ambos os sexos e, no caso das mulheres, de forma abrupta e rápida a partir da menopausa.

A osteoporose caracteriza-se pela diminuição da resistência e qualidade do osso, diminuição da sua capacidade suportar carga e consequente aumento do risco de fratura.

As fraturas relacionadas com a osteoporose designam-se fraturas osteoporóticas ou de fragilidade. Estas fraturas ocorrem em contexto de baixo impacto, isto é, fraturas ocorridas após queda da própria altura ou sem história de traumatismo.

Até a ocorrência de fratura, a osteoporose é uma doença silenciosa e não causa manifestações clínicas.

QUAIS AS PESSOAS MAIS AFETADAS?

A osteoporose pode afetar ambos os sexos, mas as mulheres são mais afetadas, sobretudo após a menopausa.

O pico de massa óssea é determinado geneticamente em 70-80%. Este pico é atingido, em ambos os sexos, durante o início da idade adulta. Medidas de estilo de vida durante a infância e adolescência, como a alimentação saudável e variada, boa absorção de cálcio e de vitamina D, exercício físico, evicção de tabaco e álcool, podem melhorar o pico de massa óssea.

QUAIS AS MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DA DOENÇA?

A osteoporose constitui um grave problema de saúde pública, com sérias consequências para a o doente, família, cuidados de saúde e sociedade em geral.

A fratura osteoporótica mais grave é a fratura da anca (colo do fémur). Esta fratura está associada a aumento da mortalidade, com 20% das pessoas a não sobreviverem a um ano após a fratura. Associa-se também a uma morbilidade significativa, com dor crónica, perda de autonomia, dependência de terceiros e depressão.

A doença representa encargos associados aos cuidados de saúde imediatos (internamento, cirurgia ortopédica e fisioterapia) e encargos a longo prazo com cuidados continuados e de institucionalização temporária ou permanente em casas de repouso ou lares.

Outras fraturas osteoporóticas típicas são a fratura vertebral (vertebras lombares ou dorsais), punho e úmero.

Qualquer uma destas fraturas/ localizações sugere fortemente o diagnóstico de osteoporose e deve ser motivo de consulta para confirmação do diagnóstico e orientação do tratamento necessário.

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico é feito com base num questionário médico sobre os fatores de risco e a ocorrência de fraturas. Como exames complementares, podem ser requisitados a densitometria óssea, radiografias da coluna dorsal e lombar, análises de sangue e análises de urina.

A densitometria óssea é o exame mais relevante e permite medir a densidade do osso. Este exame está recomendado para mulheres com idade superior a 65 anos, homens com idade superior a 70 anos ou em ambos os sexos acima dos 50 anos se estiverem presentes fraturas osteoporóticas ou os fatores de risco previamente mencionados.

TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO E MEDIDAS PREVENTIVAS

O tratamento inclui medidas não farmacológicas (com base no estilo de vida) e medidas farmacológicas (com base na instituição de medicação). As medidas não farmacológicas são:

Prática regular de atividade física: são recomendados exercícios de carga, como as caminhadas ou o jogging, e exercícios aeróbicos, como o tai chi. O exercício melhora a condição física, a coordenação motora e a tonicidade muscular.

Adoção de dieta saudável, equilibrada e rica em cálcio: a quantidade de cálcio recomendada situa-se entre os 800 e 1000 mg/dia. Os produtos ricos em cálcio são leite, iogurte, queijo, legumes verdes, cereais e pão. Na ausência do consumo dietético, poderá ser necessário fazer suplemento de cálcio em comprimidos.

Exposição solar diária: a vitamina D é indispensável para a absorção do cálcio e para o fortalecimento ósseo e muscular. A exposição ao sol ser moderada (10 a 20 minutos). O doseamento da vitamina D no sangue é importante para avaliar a carência e necessidade de suplementação.

Cessação tabágica e consumo moderado de álcool

Avaliação e prevenção do risco de quedas: na população idosa é importante remover obstáculos, como tapetes/fios elétricos, iluminar adequadamente as divisões, utilizar calçado adequado com sola de borracha antiderrapante, corrigir perturbações da visão ou audição e rever medicações que possam afetar o equilíbrio.

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

A decisão da instituição e duração do tratamento farmacológico é decidido em conjunto pelo médico e doente, atendendo ao seu perfil e patologias associadas. Os fármacos antiosteoporóticos são:

Inibidores da reabsorção óssea: estrogénios com ou sem progestagéneos, raloxifeno, bifosfonatos (alendronato, risendronato, ibandronato, zolendronato), tibolona.

Estimuladores da formação óssea: teriparatida.

O objetivo do tratamento é reduzir a prevalência de fraturas osteoporóticas e consiste na adoção das medidas preventivas atrás descritas em associação às terapêuticas farmacológicas.

 

Fatores de risco

  • Sexo feminino
  • Idade avançada
  • Baixo índice de massa corporal
  • Imobilização prolongada (por exemplo, pessoas acamadas)
  • Existência de fraturas de baixo impacto após os 40 anos
  • Existência de fraturas da anca em familiares de primeiro grau
  • Ingestão elevada de álcool
  • Tabagismo
  • Artrite reumatoide
  • Medicamentos: corticoides, anticoagulantes e antiepiléticos
  • Doenças da tiroide ou paratiroides
  • Síndromes de má absorção intestinal (por exemplo, doença celíaca)
  • Menopausa precoce (idade inferior a 45 anos de idade)
  • Alterações do ciclo menstrual (amenorreia)

Leia o artigo completo na edição de março 2022 (nº 325)