O primeiro D é de Desafio, que foi ultrapassado em 2019, quando a Organização Mundial de Saúde reconheceu o lipedema enquanto doença distinta. Passada esta barreira surgiu um outro D, que condiciona até hoje o número de casos identificados. Falo do Desconhecimento geral que existe entre a comunidade médica em relação a esta doença e que atrasa os diagnósticos, comprometendo o início do tratamento, e arrastando por tempo indeterminado o sofrimento de milhares de mulheres que, sem diagnóstico, sabem e sentem que algo não está bem. Mas, como podem os médicos diagnosticar uma doença que não conhecem?

Artigo da responsabilidade do Dr. Olivas Menayo. Fundador do Instituto Português do Lipedema.

 

No Dia Mundial do Lipedema – 11 de junho – alerto para a necessidade de formação da comunidade médica para esta doença, que se estima que afete 1 milhão de mulheres em Portugal e 20% da população feminina mundial.

Puberdade, gravidez e menopausa são alturas críticas da vida da mulher e também as principais fases onde a doença se manifesta, porque as alterações hormonais, particularmente as flutuações de estrogénio, funcionam como gatilhos no Desenvolvimento e progressão da Doença. Por ser uma doença hereditária, é fundamental que os parentes mais próximos estejam atentos e informados e possam intervir de forma preventiva numa das alturas mais críticas e desafiantes da vida da mulher, como é a puberdade. Com lipedema, a adolescência pode tornar-se crítica, dando origem a Desequilíbrios emocionais e Distúrbios alimentares, numa luta interior para se enquadrarem nos padrões idealizados de beleza.

Quando corretamente Diagnosticadas surgem novos D’s, fundamentais para que a doença se mantenha devidamente controlada. D’s que vão acompanhar a menina/mulher durante toda a vida, uma vez que o lipedema não tem cura e o tratamento é vitalício. Um tratamento que inclui nutrição, acompanhamento psicológico, atividade física, fisioterapia, drenagens linfáticas e, se necessário cirurgia, que ao invés de outras doenças, não é sinónimo de cura, mas apenas o início de uma nova fase.

E assim surge um novo D, que é talvez o mais importante – a Disciplina. O lipedema não é passageiro, não é apenas uma fase. Quem sofre de lipedema precisa de uma disciplina realista e adequada ao seu estilo de vida, para que o tratamento resulte e se evitem retrocessos. A disciplina e a consistência do tratamento vão permitir aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e retardar a progressão da doença.

Do tratamento fazem parte o Desporto, com a introdução regular de caminhadas, hidroginástica e exercícios de baixo impacto como pilates ou yoga, para melhorar a circulação, reduzir o inchaço e fortalecer os músculos. A Dieta, anti-inflamatória à base de legumes e frutas, proteínas magras, gorduras saudáveis, fibras e grãos integrais e que ajudem a reduzir os sintomas e a melhorar a qualidade de vida. E o Descanso, a falta de momentos de repouso, em que o corpo e a mente páram, pode provocar desequilíbrios hormonais. Três D’s essenciais para a tão desejada e necessária Desinflamação dos tecidos adiposos.

O lipedema é uma doença exigente e limitativa que, quando não diagnosticada ou mal acompanhada, pode ter repercussões a nível mental, provocar distúrbios alimentares, dor crónica, evoluir para linfedema, causar alterações ginecológicas, intestinais ou da tiroide ou limitar os movimentos.

Uma doença ainda desconhecida pela comunidade médica e incompreendida pela sociedade em geral, cuja falta de diagnóstico leva milhares de mulheres ao Desespero. Seis anos depois do reconhecimento, são muitos os desafios que ainda permanecem de uma doença Desvalorizada, na qual a aparência é apenas o cartão de visita.